Os bustos envergonhados no corredor da Câmara de Vereadores
Edmundo Siqueira - Atualizado em 17/04/2022 10:48
Reprodução.
13 de maio de 2015. O corredor cultural da Câmara era inaugurado pelo então presidente reeleito da Casa, Edson Batista (com muitos serviços prestados na cultura). O busto de José do Patrocínio — campista símbolo da luta abolicionista — constituiu o espaço, que depois receberia Benta Pereira, Nilo Peçanha, Capitão Kirk, pai e filho Lamego, Feydit e uma representação dos Sete Capitães.
Hoje, meados de abril de 2022, os vultos campistas, que estão posicionados de forma a olhar para o Parlamento, se envergonham do momento que a Casa atravessa.
Ainda mais difícil do que saber qual personagem homenageado no corredor cultural da Câmara é mais relevante na história de Campos, é conseguir definir qual dos lados — situação ou oposição — tem mais responsabilidade pela guerra que se tornou a Casa de Leis. Talvez seja mais justo dizer que estão errados os dois — ou os 25 vereadores.
Aliás, quando grupos de poder se digladiam por cargos que podem ser decididos nos próximos oito meses, e paralisam por completo os trabalhos do legislativo por isso, dificilmente seria obra de um grupo só. Além do poder local, interesses regionais se mostram determinantes na luta mesquinha do poder pelo poder, sem interesse público algum.
Ainda mais grave, políticos que não representam cargos públicos municipais, não foram eleitos pelo poder representativo pelos campistas, ditam as regras e influenciam no “esticar da corda” na Câmara. Os patriarcas dos grupos Bacellar e Garotinho frequentemente manifestam publicamente suas opiniões e por vezes se fazem presente nas sessões. Além do ex-secretário de estado, Rodrigo Bacellar e Caio Vianna, secretário de Tecnologia, Ciência e Inovação de Niterói.
Benta Pereira estaria envergonhada da Câmara que ela teve que criar com muita luta, de forma revolucionária contra os desmandos do Império. Capitão Kirk, campista e primeiro aviador militar do Exército Brasileiro, igualmente ruborescido, assustado com a falta de honra de alguns.
Os bustos envergonhados têm em comum a coletividade de suas lutas. Ou, pelo menos, a institucionalidade de suas batalhas. Aqueles personagens que hoje olham para a Câmara em estátuas de bronze, lutavam por algo maior que eles, algo que representasse um símbolo, uma instituição, um ideal. Tomemos como exemplo José do Patrocínio, o Tigre da Abolição, filho de uma escrava alforriada e de um padre, dedicou sua vida para salvar as pessoas que no Brasil ainda viviam sob a perversidade da escravidão.
Qual a solução para a atual guerra na Câmara? Qualquer caminho que coloque o interesse público como norte. E que honre os bustos que olham para Câmara envergonhados.

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