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Orbán controla o país com mãos autoritárias, e vem conseguindo sucessivas vitórias eleitorais baseadas em um populismo de extrema direita, mesmo fazendo parecer um "democrata". Recebeu 53% dos votos e ajudou a eleger 135 apoiadores no Parlamento (que possui 199 cadeiras). Com essa maioria, superior a dois terços, Orbán poderá alterar a Constituição da Hungria como bem entender.
O primeiro-ministro húngaro aparelhou o judiciário, calou a imprensa livre, atacou o pensamento acadêmico, impôs revisionismos históricos, fechou o país à imigração e adota políticas contra minorias. Algo como um Bolsonaro que deu certo, na visão da extrema direita.
Bolsonaro e o sonho de transformar o Brasil na Hungria
A reeleição de Viktor Orbán aconteceu apesar da união de toda a oposição organizada da Hungria. No Brasil, além do aparente crescimento das intenções de voto em Bolsonaro, a oposição ainda se divide em dois blocos: os lulistas e a terceira via. Sem qualquer indicativo de união programática entre esses grupos, a situação deverá continuar assim até outubro.
O ex-presidente Lula mantém seu favoritismo nas pesquisas — os petistas mais otimistas falam em vitória no primeiro turno —, mas a margem se mostra cada vez mais apertada. Com a desistência do ex-juiz Sérgio Moro da corrida eleitoral, a tendência é de que fique ainda menor, considerando ser difícil para Lula herdar esse espólio. Aliás, difícil para Ciro Gomes também.
Bolsonaro tem motivos para sorrir com a vitória de Orbán — líder do país que ele chamou de “pequeno grande irmão” em sua última visita, há cerca de um mês —, e com a saída de Moro da disputa interna. Mas até quando?
Vale lembrar que o nacionalismo húngaro tem mais razão de ser, e encontra mais adeptos em comparação ao Brasil, principalmente pelas questões de imigração europeias. E o lema neofascista “Deus, pátria e família”, repetido por Bolsonaro na mesma visita à Hungria — incluindo a “liberdade” como novo elemento retórico dos autoritários —, possui mais poder de convencimento na persona de Orbán.
Com as pesquisas melhorando e a reeleição de Orbán, os planos de Bolsonaro ficam mais factíveis. Porém, é como alertou o ex-boxeador profissional americano, Mike Tyson: “Todo mundo tem um plano até tomar o primeiro soco na cara”.