Vitória de Orbán e saída de Moro: planos de Bolsonaro dando certo?
Edmundo Siqueira 08/04/2022 13:33 - Atualizado em 08/04/2022 13:34
Jair Bolsonaro e Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria.
Jair Bolsonaro e Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria. / Marton Monus/Aliance
Mesmo que os bolsonaristas acreditem piamente que a visita do presidente brasileiro à Rússia tenha qualquer relação com a guerra na Ucrânia, o fato é que Bolsonaro é persona non grata entre boa parte dos líderes mundiais — principalmente por fazer parte de um movimento nacionalista de extrema-direita que ameaça democracias mundo afora. Porém, internamente, os números das últimas pesquisas parecem favoráveis a Bolsonaro, assim como um vento ultraconservador que sopra da Hungria. Mas, até quando?

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, foi reeleito no último fim de semana para o quarto mandato, sem que ninguém possa contestar a legitimidade do resultado. A Hungria é um case de sucesso para a onda de extrema direita mundial. Por lá, consegue-se manter aparências democráticas, e de funcionamento das instituições, mesmo corrompendo-as.

Orbán controla o país com mãos autoritárias, e vem conseguindo sucessivas vitórias eleitorais baseadas em um populismo de extrema direita, mesmo fazendo parecer um "democrata". Recebeu 53% dos votos e ajudou a eleger 135 apoiadores no Parlamento (que possui 199 cadeiras). Com essa maioria, superior a dois terços, Orbán poderá alterar a Constituição da Hungria como bem entender.

O primeiro-ministro húngaro aparelhou o judiciário, calou a imprensa livre, atacou o pensamento acadêmico, impôs revisionismos históricos, fechou o país à imigração e adota políticas contra minorias. Algo como um Bolsonaro que deu certo, na visão da extrema direita.

Bolsonaro e o sonho de transformar o Brasil na Hungria

A reeleição de Viktor Orbán aconteceu apesar da união de toda a oposição organizada da Hungria. No Brasil, além do aparente crescimento das intenções de voto em Bolsonaro, a oposição ainda se divide em dois blocos: os lulistas e a terceira via. Sem qualquer indicativo de união programática entre esses grupos, a situação deverá continuar assim até outubro.

O ex-presidente Lula mantém seu favoritismo nas pesquisas — os petistas mais otimistas falam em vitória no primeiro turno —, mas a margem se mostra cada vez mais apertada. Com a desistência do ex-juiz Sérgio Moro da corrida eleitoral, a tendência é de que fique ainda menor, considerando ser difícil para Lula herdar esse espólio. Aliás, difícil para Ciro Gomes também.

Bolsonaro tem motivos para sorrir com a vitória de Orbán — líder do país que ele chamou de “pequeno grande irmão” em sua última visita, há cerca de um mês —,  e com a saída de Moro da disputa interna. Mas até quando?

Vale lembrar que o nacionalismo húngaro tem mais razão de ser, e encontra mais adeptos em comparação ao Brasil, principalmente pelas questões de imigração europeias. E o lema neofascista “Deus, pátria e família”, repetido por Bolsonaro na mesma visita à Hungria — incluindo a “liberdade” como novo elemento retórico dos autoritários —, possui mais poder de convencimento na persona de Orbán.
Em 1938, para comemorar os 10 anos do regime de Salazar, uma série de sete cartazes intitulada "A Lição de Salazar" ("A Lição de Salazar") foi distribuída a todas as escolas primárias do Brasil, no Estado Novo – o slogan fascista  "Deus, Pátria, Família". Poster: Martin Barata.
Em 1938, para comemorar os 10 anos do regime de Salazar, uma série de sete cartazes intitulada "A Lição de Salazar" ("A Lição de Salazar") foi distribuída a todas as escolas primárias do Brasil, no Estado Novo – o slogan fascista "Deus, Pátria, Família". Poster: Martin Barata.


Também é preciso recordar que Moro rompeu com o bolsonarismo e é visto hoje como traidor por esse grupo. O que pode diluir a transferência de votos, principalmente com o afunilamento de outras campanhas. Além disso, caso a inflação, puxada pelos combustíveis e alimentos, e o desemprego continuem nos níveis atuais, a tendência é que as intenções de voto do atual presidente brasiliero fiquem mesmo apenas nos eleitores convertidos e radicalizados — embora seja o bastante para  o levar ao segundo turno e desaconselhar qualquer subestimação.

Com as pesquisas melhorando e a reeleição de Orbán, os planos de Bolsonaro ficam mais factíveis. Porém, é como alertou o ex-boxeador profissional americano, Mike Tyson: “Todo mundo tem um plano até tomar o primeiro soco na cara”.

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