Nélio Artiles: Volta às aulas
Folha1 - Atualizado em 18/02/2021 07:46
Infectologista Nélio Artiles
Infectologista Nélio Artiles / Rodrigo Silveira
Neste momento de tantas dúvidas e medos sobre o retorno das crianças às aulas, vale uma reflexão sobre a importância da escola na vida dos nossos pequeninos. Apesar de a atual questão permear os riscos oferecidos de uma pandemia em curso, qual a ideal motivação para uma criança ir para um ensino coletivo em companhia de outras, em um ambiente diferente de sua casa?

A Declaração Universal dos Direitos do Homem diz em seu artigo 26 que toda pessoa tem direito à educação, objetivando um pleno desenvolvimento da personalidade humana e o fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e suas liberdades fundamentais. Também descreve que a educação deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos. Inserir falas em algumas aulas sobre o tema não confere uma ação real neste importante objetivo.

O que predomina é a necessidade de transmitir conhecimentos, conteúdos ou condicionamentos de habilidades, mas não percebo ações que possam construir personalidades, facilitar compreensão ou tolerância e, principalmente, refletir sobre a importância de fazer amigos e respeitar as diferenças. Como diz o grande educador Celso Antunes, que tive a honra de conhecer pessoalmente: “Ações são coisas diferentes de conselhos”.

Muitas vezes as crianças já apresentam um caráter bem desenhado, trazendo uma rede de formações e informações da esfera ética, que até surpreendem de forma positiva ou negativa alguns professores. É sem dúvida um grande desafio empreitar atividades que possam mexer neste carimbo que vem do latim character, do grego kharakter, que significa marca gravada, sulcada, impressão ou símbolo na alma, qualidade que definirá quem é aquela pequena pessoa.

É um desafio gigante interferir em personalidades ou na forma de relacionamentos e desenvolver uma verdadeira alfabetização emocional a fim de ensinar o que é inclusão, tolerância e perdão. A Covid-19 forçou nossas crianças a se enclausurarem nas suas casas, onde o modus operandi da rotina diária não as contempla, com pais trabalhando e muitas vezes funcionárias coordenando ações e correções domiciliares, com muitos “nãos” e poucas orientações, trazendo vários prejuízos tanto na dimensão cognitiva como neuropsicológica. Com isso não é só a falta de transmissão de conteúdos ou a defasagem educacional que vem preocupando pais e educadores, mas o distanciamento da importante missão da escola de sociabilizar nossos futuros cidadãos.

Está comprovado cientificamente que crianças têm certa proteção contra o SarsCoV-2 e por isso pouco adoecem e assim não são transmissores em potencial. É óbvio que, nesse contexto, antes que todos recebam as esperadas vacinas, gestores educacionais e professores precisam se esmerar nos cuidados de cumprimento das recomendações de biossegurança, garantindo espaços amplos, higienização frequente e, de acordo com a idade, a possibilidade do uso de máscaras.

A nós resta, então, do limão fazer uma bela e deliciosa limonada, ensinando estes jovens com muitas ações e reflexões a partir das atuais demandas, fora das quatro paredes, usando a melhor sala de aula, que é a natureza, com os desafios que todos vivemos neste tempo, ministrando conteúdos das ciências exatas, tendo a matemática e a lógica para resolver os atuais problemas, as biológicas estudando os seres vivos, sua origem, evolução e sua relação com o meio ambiente, além das ciências humanas, enxergando a sociedade, o ser humano e os fenômenos sociais.

Replicar a famosa “Escola da Ponte” portuguesa, onde se deve sempre reaprender a aprender e a ensinar.

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