Nélio Artiles: Os imutáveis
Nélio Artiles Freitas - Atualizado em 13/01/2022 14:25
Infectologista Nélio Artiles
Infectologista Nélio Artiles / Rodrigo Silveira
Estamos passando por um momento bem peculiar, acuados frente a uma ameaça que não nos permite relaxar, com o recrudescimento dos casos da Covid, agora predominando a Ômicron, um Sars-CoV-2 modificado, com maior transmissibilidade e aparente menor gravidade. Isto era previsível, como em algumas pandemias anteriores, já que pela lógica biológica ocorre uma adaptabilidade da infecção, com múltiplos fatores envolvidos, como vacinação, reinfecções e as conhecidas mutações, que interferem na virulência ou agressividade do vírus.
Para complicar, a população passou a ficar exposta ao novo surto de Influenza, já que houve um baixo índice de vacinação contra a gripe no início do ano. A coinfecção pode levar a uma infecção mais severa, principalmente da Covid, pois a Influenza aumenta a entrada do vírus Sars-CoV-2 na célula. Além do comportamento dos vírus se modificar, seus hospedeiros continuam imutáveis.
A ignorância e arrogância de alguns mexem com o coletivo, causando repercussões severas. A opção individual de não se vacinar contra a Covid, por exemplo, seja por motivos político-ideológicos, seja por puro desconhecimento do que significa uma evidência científica, acarreta uma consequência biológica sem volta, pois permite que o vírus continue circulando livremente entre alguns, modificando suas características, com a possibilidade desta nova onda que se anuncia, muito mais rápida e abrangente, e que, mesmo com menor patogenicidade, traz uma nova sobrecarga nos serviços de saúde e infelizmente mais mortes.
As crianças acabaram entrando nesta infeliz berlinda, com afirmações equivocadas de que seriam vítimas de uma vacinação experimental. São milhões de pequenos vacinados em todo o mundo, com a esperada eficácia e uma segurança ainda maior do que a maioria das vacinas recebidas na infância, pela grande maioria dos que me leem agora.
Estamos frente à pior pandemia enfrentada neste tempo moderno e fico admirado com a resposta tão rápida da ciência no sequenciamento do vírus e desenvolvimento de vacinas tão seguras e eficazes em um tempo tão curto de dois anos. E mesmo assim contradizem evidências, com “achismos” ridículos, sem, portanto, questionar os perigos do que se come, toma ou mesmo respira. Aliás, muitos deveriam refletir sobre os riscos da alta mortalidade do trânsito urbano ao entrar em um carro, que são infinitamente maiores que o uso de uma vacina com a tecnologia atual, seja de vírus inativado, vetor viral ou de RNA mensageiro.
O ser humano precisa mudar e neste sentido clamo duas citações clássicas: “Nada é permanente, exceto a mudança” (Heráclito), “Nós não somos o que gostaríamos de ser. Nós não somos o que ainda iremos ser. Mas, graças a Deus, Não somos mais quem nós éramos” (Martin Luther King).

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