Negro e forte, marido da mãe de Marília Mendonça "vira" segurança diante do racismo estrutural
08/11/2021 17:46 - Atualizado em 08/11/2021 17:49
Reprodução Rede Social
A imagem da mãe de Marília Mendonça chegando ao velório da filha amparada por um homem negro revelou-se mais um exemplo do racismo enraizado em nosso país. Não demorou muito para que algumas pessoas nas redes sociais e até em alguns sites dessem a notícia que dona Ruth Dias chegou apoiada por um segurança, quando se aproximou do caixão da filha.
Porém, bastava uma pesquisa rápida na rede social dela para se descobrir que o homem em questão é Deyvid Fabricio, marido de dona Ruth desde 2018, ou seja, padrasto de Marília Mendonça, inclusive com quem a cantora também tem fotografias ao lado.
Fato é que o que parece um equívoco sem grandes reflexos ou maldade, revela o quanto a gente precisa estar mais atento a este comportamento que muitos têm de julgar as pessoas pela aparência e principalmente pela cor da pele.
No caso do Deyvid, além de aparentar ser mais novo que dona Ruth, sua estrutura física (alto e forte) e cor sem dúvida levaram ao julgamento que caberia a ele o papel de um empregado e não de familiar de uma das maiores artistas do Brasil.
E são nestes “aparentes julgamentos sem maldade” que a gente, principalmente educador, precisa também trabalhar para evitar que outras situações mais graves aconteçam, muitas caracterizadas por crime. Racismo é crime!
Reprodução Rede Social
Para fazermos uma reflexão sobre este tema, eu resolvi compartilhar com vocês algumas falas do filósofo, escritor e professor Mario Sergio Cortella, quando gravou um vídeo para a o Site UOL sobre racismo, em outubro de 2020.Mario Sergio Cortella nasceu em Londrina, no Paraná, onde os colegas de sala não eram negros e também não figuravam entre os personagens das cartilhas escolares usadas Brasil afora para alfabetizar crianças e adultos. Segundo ele, ninguém achava estranho ou queria discutir sobre temas como racismo ou racialidade.
“Eu Cortella, sou um homem branco que faço parte de uma sociedade que a hegemonia branca é secular. Há uma diferença muito forte em relação ao tipo de fala que eu, Cortella, possa fazer no que toca à discriminação, racismo, e alguém que passa por ele. Quando se fala de, se fala de dentro, quando se fala sobre, se fala de fora (....) Posso eu falar sobre o meu preconceito, isso sim... Mas em relação a racismo, uma pessoa vitimada em relação a preconceito, eu só posso falar sobre, porque o meu olhar carrega uma externalidade. Em outras palavras, isso [racismo] me afeta muito pouco como vítima. Mas, como indivíduo, dentro de uma sociedade, numa humanidade, marcada pela noção de empatia e compaixão, isso me afeta imensamente (...) Neste sentido, eu não posso ser cínico de que como eu não estou neste grupo de risco, eu posso ficar mais tranquilo. Ao contrário, a tranquilidade é uma impossibilidade em face a tudo isso, em outras palavras, a minha branquitude não é uma autorização, um salvo-conduto para que eu imagine que estou fora dessa. Isso não significa que se precise o tempo todo ficar como se eu fosse algoz de algo que eu não sou. Eu Cortella posso ser cúmplice e não quero sê-lo. Posso ser omisso e não quero sê-lo (...) Não acho que a gente terá uma modificação tão profunda se não houver uma militância contínua por parte de quem for negro e por parte de quem não for. Os ausentes nunca têm razão. O que virá nesse movimento pós-pandêmico não pode, de modo algum, ser a omissão, ser o silêncio em relação àquilo que grita na nossa frente. Ser antirracista é uma questão de decência”.
Como educador e diretor de escola tenho trabalhado isso frequentemente com a minha equipe, alunos e seus familiares, pois entendemos que racismo se combate com uma educação feita com afetividade, com o fortalecimento socioemocional de cada um.
Temos que trabalhar diariamente por uma escola cada vez mais humana, que valorize cada indivíduo por aquilo que ele é. Respeitando as diferenças e promovendo o desenvolvimento humano através da construção de valores.

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    Sobre o autor

    Fabiano Rangel

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    Educador e empreendedor em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, sou graduado em Educação Física pela Universidade Salgado de Oliveira (Universo) e professor concursado da área no Governo do Estado do Rio de Janeiro desde 2007. Atuei como coordenador pedagógico e geral de várias escolas particulares em Campos até 2011. Fui também coordenador administrativo do Sesc Mineiro, em Grussaí, no município de São João da Barra, até 2013. Há oito anos me dedico ao Centro Educacional Riachuelo como Diretor Geral das cinco unidades, que formam hoje o Grupo Riachuelo. Sou pós-graduado em Gestão Escolar Integradora e Gestão de Pessoas pelo Instituto Brasileiro de Ensino (IBE). Atualmente também sou apresentador do programa Papo Cabeça na rádio Folha FM 98,3.