Crônica da Avenida Pelinca
07/09/2021 08:18 - Atualizado em 07/09/2021 08:28
POR JULIETA VIANNA (JUJU), NO BLOG DIJAOJINHA EM 2012:
Na Rua São Bento, no quarteirão entre a Rua Dr. Siqueira e Av. Pelinca éramos uma grande família (tá aí Paulinho Ney como testemunha).
Como eu era ainda uma mocinha, vocês podem imaginar quanto tempo faz!
Bem em frente à minha casa morava a família Manhães de Andrade: Seu Mário, Dona Elza – minha mãe do coração – Toni, Luciano, Marta Nair e Paula Virgínia.
Seu Mário era jornalista e boêmio, uma figura ímpar. Na casa deles tinha telefone, coisa rara na época.
Do mesmo lado deles, umas cinco casas adiante, moravam Seu Germano e Dona Berta, pais de Salomão e Marieta, que morava no Rio de Janeiro e tinha duas filhas: Pérola e Geny.TEL
TELEFONEMA SAÍA CARO
De quando em vez Dona Berta ia à casa de Dona Elza e pedia pra telefonar pro Rio, no que era atendida com a recomendação de que não demorasse muito, pois saía caro ligar pra fora de Campos.
Ela ligava e, preocupada em falar rápido, começava: Marrrrrieta, como vai você? Logo em seguida: chama Pérrrrola. Pérrrrrola, como vai você? Chama Geny. Geny, como vai você?
Antes mesmo que eles respondessem ela continuava: Geny, vovô manda beijo, Salomão manda beijo. Chama Pérrrola. Pérrrola, vovô manda beijo, Salomão manda beijo. Chama Marrrrieta. Marrieta, papai manda beijo, Salomão manda beijo.
FALE SEM PRESSA 
E essa lenga-lenga rendia tanto que Seu Mário, já impaciente resolveu abrir mão da recomendação inicial.
Chamou Dona Berta e disse: "A senhora pode falar sem pressa!".
E o resultado foi surpreendente.
O telefonema seguinte foi um sucesso. Ela falou mais coisas, chamou apenas Marrrrrieta e a ligação saiu mais barata. E menos confusa.
QUANTO COSTA?
Seu Germano era surdo. Na Av. Pelinca tinha mais casas de comércio que residências. Lá ficava o açougue do Seu Bal (lembra Paulinho?)
Seu Germano ia comprar carne. Escolhia o que ia levar e no final perguntava: "quanto costa”? e Seu Bal respondia: "12 cruzeiros". E ele: "quanto?" Seu Bal respondia: " 15 cruzeiros".
A coisa ia assim e,até que a resposta fosse dada aos gritos, o preço ia subindo a favor do açougueiro.
Seu Germano ouvia e pagava o preço final que variava de acordo com o número de perguntas feitas.
VARIAÇÃO DE PREÇO
Desconfiado de que alguma coisa estava errada, pois a variação de preço era grande, Seu Germando foi ao Oftalmologista (*), constatou a surdez e foi orientado a comprar um aparelho auditivo.
"Agora vamos ver o que vai acontecer", disse ele. Colocou o aparelho com os fios bem escondidos na gola da camisa e partiu para o açougue.
Repetiu o quanto “costa” uma vez e diante da “esperteza” do Seu Bal, respondeu indignado e feliz ao mesmo tempo: "Não, isso aqui ó (mostrou o aparelho) custou muito caro pra eu não ser mais enganado por você!!".
Pagou o preço justo e em pouco tempo, com a economia que passou a fazer, o aparelho “se pagou”.
A história se espalhou na redondeza e ninguém mais explorou Seu Germano!!
EXPLICAÇÃO:
(*) José Augusto "Cuca" Vieira explica: no passado, as especialidades otorrino e oftalmo se confundiam, pela proximidade anatômica de suas áreas de atuação, levando os especialistas a praticarem as duas.
Depois, mais recentemente, elas se dividiram e estabeleceram seus campos próprios de atuação.

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    Saulo Pessanha

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