José Eduardo Pessanha: A ditadura do home office
José Eduardo Pessanha - Atualizado em 25/09/2021 10:29
José Eduardo  Advogado e professor universitário
José Eduardo Advogado e professor universitário
Meados de março de 2020: a pandemia eclode; o mundo sob o terror das mortes incontroladas e sem vacinas ou medicamentos eficazes... pânico, comércios definhando, indústrias fechadas ou dando férias coletivas ou, ainda, transferindo seus trabalhadores para o sistema, até então inovador e pouco usado, de home office.
Para os trabalhadores, cujas atividades puderam ser absorvidas no sistema de “trabalho em casa”, inicialmente, junto com toda a necessária proteção a si e à família, a ideia do home office aparentou ser uma solução especial, onde manter-se-ia a remuneração, no aconchego do lar, quando muitos perdiam, de supetão, suas fontes de renda.
Não que não fosse, mas, já preliminarmente, alguns entraves se apresentaram: onde (localização interna) trabalhar em casa, pois a maioria dos profissionais não gozava de espaço ou da organização de ter um escritório em casa; assim, modificações no lar necessitaram ser realizadas, com perdas de espaços, já despertando as primeiras reações adversas. Mas... e o equipamento? A empresa emprestaria ou o empregado deveria arcar com o ônus de um equipamento exclusivo para o desenlace do labor? Mas não era somente isso: e a famosa “banda larga”? De onde conseguir suprimento de internet para que o trabalho se efetivasse?
Como somos sabedores, boa parte dos lares brasileiros não são atendidos com oferta ou mesmo com banda larga ou fibra, de forma que possuem uma conexão instável, de baixa qualidade, que não suportam maiores desperdícios de megabytes.
Acontece que, mesmo após, em muitos casos, superada esta fase, de uma hora para outra o trabalhador descobriu que trabalhar em casa tem um problema muito grande: separar o labor da família. A interface entre labor e família ficou muito tênue, sendo difícil apresentar para os demais membros do lar as fronteiras necessárias para que seu trabalho fosse bem desenvolvido. Neste ponto, desavenças começam a emergir, com acusações que, “mesmo tão perto, o trabalhador estava tão distante, egoisticamente, de sua família”. Para catalisar tal dissenso, havia, ainda, a classe das crianças disputando a internet com o trabalhador, pois as aulas, como quase tudo, se tornaram telepresenciais.
Neste ponto, quando a saúde mental já estava ameaçada, o trabalhador se questionava se, de fato, laborar de (em) casa seria um bom negócio! A gota d’água surgiu quando os horários de trabalho passaram a ser, solenemente, desrespeitados. Assim, passou a ser natural ser questionado às 22 h (ou mais), ou mesmo convocado para “breves” reuniões às 20 h, por exemplo, quando todos sabiam que o “expediente médio” se encerraria às 17h ou 18h... para toda contestação do trabalhador, havia uma resposta: “ah... mas você está em casa...é coisa rápida...você tem liberdade de horário, etc.”. Ocorre que não era nada disso: o trabalhador, em home office, que, via de regra sequer conseguiria receber uma hora-extra, passou a ser explorado, explicitamente, sendo necessárias providências para o ajuste, de forma que a relação trabalho x folga não ficasse desproporcional.
O mais importante deste balanceamento no sistema home office é mediar o trabalho, com a folga, com a família, com os problemas domésticos, com os sonhos, tudo visando que cada atribuição tenha tempo razoável e, principalmente, saudável, de forma que a saúde mental, hoje tão afetada pelo home office, possa ser preservada e a produtividade não seja mais o único elemento a ser considerado. Lembre-se: sua SAÚDE MENTAL é o prumo que norteia sua existência. NÃO ABRA MÃO DELA!

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