José Eduardo Pessanha: Que país é este?
José Eduardo Pessanha - Atualizado em 10/09/2021 18:11
José Eduardo  Advogado e professor universitário
José Eduardo Advogado e professor universitário
A frase tão cantada, em versos e prosa do artista Renato Russo, traduz um momento sombrio de nossa nação: o caos diretivo e a desídia com os destinos democráticos.
Deixa qualquer um pasmo um dirigente afiançar que não cumprirá decisões judiciais ou mesmo que deseja obrigar ao dirigente de outro Poder a “enquadrar” um membro, somente porque assim o quer (ou para não ver desvendadas suas ações, através de investigações judicias)... há tempos não tínhamos postura tão despótica... em verdade, mesmos nos mais nebulosos momentos da ditadura, havia, ainda que em tese, de forma transversa, um esboço de respeito às instituições, ainda que fosse apenas “de fachada”.
Em verdade, os surtos megalômanos têm invadido Brasília, onde pessoas se divertem com frases aviltantes e, por mais que seja asqueroso, asseclas se aninham com ideias pérfidas que ameaçam o país, apenas porque um grupo, ciente de sua fragilidade, não deseja sair do poder.
Interessante é que este mesmo grupo iniciou sua jornada diretiva, atabalhoada, com o discurso de que teriam livrado o país de um jugo histórico (de esquerda), que, agora, tentam reinstalar: nada mais simples que figuras medíocres guiadas pelo vício do poder!
O cenário de filme de terror, ao que consta, tem tudo para permanecer, pois o alcaide não apresenta mostras de sanidade, instando indivíduos reprimidos (boa parte com complexo de inferioridade) que se arvoram em apresentar gritos xenófobos, odiosos e covardes à sombra do poder corrompido. Lamentável porque se verificam pessoas, com bom nível de escolaridade e, principalmente, financeiro, que, alienados do que ocorre com os irmãos de baixa renda, hoje sem gás, feijão ou mesmo teto, tentam manter seu contexto social, preferindo defender condutas espúrias que demonstram a falta de estatura para direção de um país com tamanha diversidade.
Lamentável verificar cidadãos (destaque-se que a parcela de apoio as atuais sandices chega, máximo, a 20% da população, ao que se apura) aproveitando-se da escalada de impropérios e desmandos para trazer à luz sonhos escusos, vontades inconfessáveis, expressar entendimentos odiosos e bradar contra a Democracia, condutas que teriam vergonha de expressar há bem pouco tempo, mas, acobertados por uma nefasta liderança, colocam em púbico todos seus preconceitos deprimentes. Pessoas que se dizem “de bem” urram por atos contra o Estado Democrático de Direito e contra a incolumidade física de pessoas, sem o menor pudor, retornado aos tempos medievais das verdadeiras “caças às bruxas”. É vergonhoso para a espécie humana!
Sob a pecha que “os fins justificam os meios”, promovem atos antes impensáveis, rasga-se a Constituição; apedrejam lideranças; ameaçam indivíduos, tudo em rede nacional (e com faixas); tentar amealhar um contingente militar para reforçar seus torpes interesses (outrora conhecido como “golpe”) e, por fim, sepultam o entendimento tripartite dos Poderes. É óbvio que há grandes erros e desvios nos demais Poderes da República, ou mesmo que a postura de judicialização excessiva tem propiciado discussões infrutíferas (e por vezes injustas), porém o sistema de “freios e contrapesos” da República existe para sanar tais vícios, sempre com a necessidade da Razoabilidade e da Proporcionalidade.
Era nosso interesse trazer algumas más traçadas linhas sobre os excessos que se tem verificado no Judiciário (e, posteriormente, sobre a inércia do Legislativo), porém, como já explicitamos em outras oportunidades, o Poder Executivo não se cansa de nos trazer assuntos, escabrosos, para que possamos apresentar, de forma humilde, aos nossos esparsos leitores.
Ficam dois sentimentos: o de perda e o de engajamento. Da “perda”, temos a sensação que décadas de tentativas de união e construção de entendimentos estão escoando pelo ralo, devido a um “passo em falso” na escolha de líderes, onde, boa parte da população foi ludibriada; de “engajamento” porque não há mais espaço para a inércia ou mesmo para a neutralidade. Não se trata de “direita ou esquerda”: se trata de sermos um país democrático ou um reino autocrático, comandado sob um jugo tacanho e sórdido. Cada faça sua escolha, alinhe-se, de preferência, visando o interesse coletivo (e não apenas a manutenção de seu status quo) e que Deus nos ajude!

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