Vinhos do Coração do Rio Grande
João Ricardo C. Rodrigues - Atualizado em 05/06/2021 13:12
Por João Ricardo Correa Rodrigues - Enófilo 
Vale Central Gaúcho, "Vinhos do Coração do Rio Grande"
Em nossa busca por novas experiências, fomos até o Vale Central Gaúcho, para conhecer os vinhos do Coração do Rio Grande.
O Vale Central Gaúcho está localizado na região central do Rio Grande do Sul, no coração do Estado. Abrange as cidades de Santa Maria, Itaara e outras cidades naquele entorno. A sua geografia é bem característica, pois apresenta uma transição abrupta de relevo e vegetação sendo o final da encosta da Serra Geral e o início do Pampa Gaúcho, proporcionando lindas paisagens com vales, montes e mata atlântica.
Curiosidade
Nesta região encontramos a Quarta Colônia, que foi batizada com esse nome por ter sido o quarto núcleo de colonização italiana no Rio Grande do Sul, no final do século XIX. As famílias de imigrantes se deslocaram para colonizar essa região em 1877, depois da instalação dos assentamentos Campo dos Bugres (hoje Caxias do Sul), Dona Isabel (hoje Bento Gonçalves) e Conde d'Eu (hoje Garibaldi). Foi também a primeira colônia fora da Serra Gaúcha. A região reúne nove municípios: Silveira Martins, Ivorá, Nova Palma, Faxinal do Soturno, S. João do Polêsine, Dona Francisca, Pinhal Grande, Agudo e Restinga Seca. Um roteiro por essas cidades pode incluir visitas a igrejas e construções típicas de madeira, compras de produtos coloniais e um parque de águas termais. Tudo isso acompanhado de um belo visual e bons vinhos.
O Vale Central possui uma associação de vitivinicultores nomeada de Vinhos do Coração do Rio Grande, que é formada pelas vinícolas: Dom Robertto, Velho Amâncio, Dalla Corte, Quinta do Gama, Toka, Adega Torri e Domus Mea.
Na região, que está em processo de consolidação da sua identidade, tem ocorrido muitas pesquisas buscando o melhor entendimento do terroir. Entre os pesquisadores, encontramos nomes de peso, como o do professor e pesquisador Carlos Eugênio Daudt. Agrônomo por formação, com Mestrado e Doutorado na University of California Davis (EUA), que ao longo de sua vida tem contribuído muito para o desenvolvimento da vitivinicultura brasileira.
 As vinícolas da associação se caracterizam por serem familiares e de pequena produção. Algumas ainda não possuem estrutura voltada para o enoturismo e somente possuem espaço destinado a venda dos vinhos.
O nosso roteiro foi planejado com a intenção de passar um final de semana na região, sendo o primeiro dia destinado a conhecer as vinícolas e o segundo dia para aproveitar as belezas da região da Quarta Colônia.
 
Então vamos lá e pé na estrada!!!
 Vinícola Dalla Corte
Nossa primeira vinícola está localizada no perímetro urbano de Santa Maria, na Estrada Municipal Angelo Berleze, 605, no bairro Camobi. O acesso é muito fácil, a apenas 15 minutos do aeroporto.
Vinícola Dalla Corte
Vinícola Dalla Corte
 Ao chegar na vinícola, fui recepcionado pelo Ildo Dalla Corte, proprietário, vinhateiro e um apaixonado pelo vinho, que logo iniciou um bom bate papo sobre a história da vinícola. De origem italiana, Ildo escolheu a profissão de professor, que exerceu até sua aposentadoria, momento em que decidiu colocar em prática o velho sonho de elaborar o próprio vinho. Começou com uma proposta pequena, de apenas elaborar vinhos de mesa para consumo próprio e de amigos. Porém, a vinícola foi crescendo e foi necessário investir em equipamentos e tecnologias modernas, No ano de 2016, a filha Helin se formou em enologia no IFRS - Bento Gonçalves e somou forças na elaboração dos vinhos, a produção hoje conta com sucos de uva, vinhos de mesa, espumantes e vinhos finos.
A vinícola possui uma bela estrutura construída em pedra basáltica, onde fica instalada a cantina e uma cave subterrânea para amadurecimento dos espumantes e vinhos.
 
Cantina com tanques Inox e equipamentos modernos
Cantina com tanques Inox e equipamentos modernos
A vinícola não possui vinhedos, sendo as uvas selecionadas e compradas de viticultores parceiros da Serra Gaúcha e Campanha. Os vinhos finos são elaborados das castas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Malbec e Pinot Noir, para os tintos, e a Moscato Giallo, Chardonnay e Riesling, para brancos e espumantes.
 
 Percorremos as instalações da vinícola iniciando pela cantina, onde o Ildo explicou os processos da elaboração dos vinhos. Em seguida, fomos na cave subterrânea para ver os espumantes elaborados pelo método tradicional. Alguns são da safra de 2012 e ainda estão sobre as borras.
Espumantes elaborados pelo método tradicional
Espumantes elaborados pelo método tradicional
Para finalizar, degustamos alguns vinhos em elaboração e outros de safras mais antigas. A vinícola possui loja própria para venda direta ao cliente e espaço para degustação.
 
 
 
 
 
Loja e Sala para Degustação
Loja e Sala para Degustação
Informações para contatos:
Endereço: Estr. Mun. Ângelo Berleze, 605 - Km Três, Santa Maria - RS, 97095-640;
vinhosdallacorte.com.br/;
Tel: (55) 3226 3362.
Vinícola Velho Amâncio
De Santa Maria, parti para a cidade de Itaara, onde está localizada a Vinícola Velho Amâncio. O trajeto levou 17 minutos por estrada pavimentada, com um trecho final de 1 km por eestrada calçada de pedras e toda cercada por uma paisagem bucólica.
Vinícola Velho Amâncio
Vinícola Velho Amâncio
 Ao chegar, fui recepcionado pelo casal Aline Fogaça, filha do proprietário, enóloga e viticultora, e pelo Alisson Celmer, agrônomo e responsável pelas vendas e marketing. Após as devidas apresentações, percorremos as instalações da vinícola para conhecer a história e todo o processo de elaboração dos vinhos e espumantes.
 
 
 
A história da vinícola começa há mais de 100 anos, ainda no século XIX, quando Amâncio Pires de Arruda, de origem portuguesa, chegou em Santa Maria e resolveu se estabelecer nas terras onde hoje encontram-se os vinhedos e a vinícola.
Cantina
Cantina
Por duas gerações a família manteve uma destilaria, especializando-se na produção de cachaça. A elaboração de vinhos foi iniciada pelo neto, Rubens Arruda Fogaça, ainda em 1986, e hoje a sua filha Aline Fogaça, quarta geração, assumiu a responsabilidade da elaboração dos vinhos. A vinícola está em processo de revitalização dos vinhedos, ampliação das instalações e lançamento de novas linhas de vinhos e espumantes.
Espaço para eventos
Espaço para eventos
 
Segundo Aline, “a vinificação (processo de elaboração) de nossos vinhos é realizada de forma a expressar o máximo potencial e tipicidade das uvas. Para tanto, são utilizadas técnicas modernas de vinificação, como o controle rigoroso de temperatura durante a fermentação e uso de leveduras selecionadas, entre outras. Toda a vinificação é pensada de modo a expressar a tipicidade da região, por isso interferimos o mínimo possível no processo, resultando em vinhos autênticos e diferenciados”.
Sobre o Terroir
O relevo da região, que alterna vales, coxilhas suaves e planícies resulta em microclimas especiais, onde variedades selecionadas de videiras se adaptaram e produzem uvas de excelente qualidade. Os verões são secos e quentes, mas com baixas temperaturas a noite. Especialmente no vale onde estão os vinhedos da Vinícola Velho Amâncio, há vários córregos de água (afloramentos do Aquífero Guarani), que tornam as temperaturas mais amenas e aumentam a amplitude térmica diária. De maneira geral, nesses microclimas as temperaturas são um pouco mais amenas do que na Campanha Gaúcha.
 
Imagem aérea dos vinhedos da vinícola Velho Amâncio
Imagem aérea dos vinhedos da vinícola Velho Amâncio
 O solo apresenta diferentes camadas, em algumas regiões apresenta depósitos de basalto e em outras arenito, tendo um perfil mais arenoso, baixa fertilidade natural, pouco intemperizados (solo jovem), propício ao plantio de frutíferas.
Essas características resultam em vinhedos de vigor médio e com raízes profundas. A amplitude térmica no verão permite a maturação fenólica das uvas e sementes. A quantidade de insolação é suficiente para produção de uvas com grau de açúcar adequado, não necessitando correções. Os vinhos resultantes apresentam cor vermelho rubi a violáceo, com aromas frutados e no paladar apresentam taninos elegantes, persistentes e macios.
Nos vinhedos da Velho Amâncio são cultivadas as castas brancas Chardonnay, Sauvignon Blanc e as tintas Pinot Noir, Shiraz, Malbec, Merlot e Cabernet Sauvignon.
 
Degustação dos vinhos e espumantes - Rubens Arruda Fogaça e Aline Fogaça
Degustação dos vinhos e espumantes - Rubens Arruda Fogaça e Aline Fogaça
 
Finalizamos a vista com uma degustação de vários espumantes e vinhos tintos e brancos, todos muito bem elaborados e que expressam a nova fase da vinícola sob a batuta da enóloga Aline Fogaça.
Curiosidade
Praticamente em frente da Vinícola Velho Amâncio está a residência e os vinhedos do Professor Carlos Eugênio Daudt. Ele elabora os seus vinhos com o rótulo Vinhos Toka em parceria com a Velho Amâncio. Não tive a oportunidade de encontrar o professor, mas na próxima ida na região será minha primeira parada.
Informações para contatos:
Estrada Amâncio Pires de Arruda, S/N Rincao dos Pires, Itaara/RS;
velhoamancio.com.br;
Cel/Whats: (55) 3225-5503 / (55) 99118-7388.
Vinícola Domus Mea
Não consegui chegar a tempo de encontrar a vinícola aberta, mas deixo aqui o relato sobre a história da vinícola, e recomendo uma visita na região para contemplar as paisagens belíssimas, aproveitar as águas termais no Termas Romanas Recanto Maestro e se deliciar com a farta gastronomia local.
Termas Romanas Recanto Maestro (Foto do Instagram)
Termas Romanas Recanto Maestro (Foto do Instagram)
Seguindo para a região da Quarta Colônia, em São João do Polêsine, mais precisamente na localidade de Recanto Maestro, iremos encontrar a Vinícola Domus Mea. Esta foi idealizada por Edi Kante, um italiano da região de Trieste, que descobriu em São João do Polêsine um solo propício para produzir um vinho branco leve, mineral e pouco aromático. Do plantio às primeiras colheitas se foi criando um vinho muito similar ao produzido pelo vinhateiro em suas videiras na Europa.
 
Instalações da vinícola junto aos vinhedos (Foto do Instagram)
Instalações da vinícola junto aos vinhedos (Foto do Instagram)
 Em 2007, Edi adquiriu uma propriedade, preparou e corrigiu o solo e plantou suas parreiras, a maioria de uvas brancas, vindas da sua terra natal em containers refrigerados, para que mantivessem todas as suas características.
Analisando o solo da região, Edi entendeu que ele era propício para produzir um vinho branco leve, mineral e pouco aromático. Uma bebida bastante similar àquela já produzida por ele em suas videiras nas proximidades do mar Adriático, entre a Itália e a Eslovênia. Decidiu então manter essa característica como seu diferencial e trazer para o Brasil toda a elegância e delicadeza que já tinha atingido na Itália, que também é encontrada em muitos vinhos da região de Borgonha, na França.
Os varietais que melhor se adaptaram à região central do Rio Grande do Sul foram: Sauvignon Blanc, Chardonnay, Pinot Grigio, Tramminer Aromático, Riesling e Montepulciano, a única tinta que lhe agradou.
No final de 2017, três amigos brasileiros de Edi, já contagiados pela paixão que ele mantém pelos vinhos e pelo projeto no Recanto Maestro, decidem que seria o momento de assumir o projeto para expandi-lo. Desta forma, os novos sócios compram a vinícola, incluindo as parreiras, equipamentos, estoques e marca e iniciam um novo momento na história do projeto.
 
Loja e espaço para degustação (Fotos do Instagram)
Loja e espaço para degustação (Fotos do Instagram)
 
 Com a entrada dos novos proprietários, foi feito um acordo com Edi para que ele seguisse sendo o enólogoacompanhado por Elisandro Bortoluzzci, responsável pelo operacional da vinícola desde a sua fundação, em 2007. E para cuidar com ainda mais zelo das parreiras, foi trazido para o projeto o agrônomo Silvano Michelon.
A Domus Mea investe no método tradicional de produção de uva e utiliza basicamente pipas de inox. Seus proprietários acreditam que, mesmo sem o uso de barricas de madeira, é possível continuar produzindo vinhos de alta qualidade, que possam ser consumidos novos, ao mesmo tempo que terão vinhos de guarda média sem perda das suas características.
"O DNA da Domus Mea é investir na produção de vinhos de alta qualidade, tanto brancos como espumantes, inseridos no conceito de “vinícola boutique” e focando em vinhos leves, muito minerais e com aromas diferentes dos normalmente encontrados na América do Sul, puxando a nova proposta para a experiência encontrada nos vinhos da Borgonha e do norte da Itália".
Informações para contatos
Rua Recanto Maestro, São João do Polesine - Rio Grande do Sul;
domusmea.com.br/;
Cel/Whats: (55) 99143-2537.
Vale muito a visita na Região do Vale Central do Rio Grande do Sul, tanto pela sua gente, história, cultura, paisagens bucólicas, e sem dúvidas, pelos Vinhos do Coração do Rio Grande!!!!

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    Nino Bellieny

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