Há esperança após um ano que muita gente só viu passar pela janela
Reprodução de Facebook
O ano de 2020 muita gente viu apenas passar pela janela. A proliferação do coronavírus fez a população mudar de hábitos, se recolher, se reinventar com o trabalho e os contatos, na medida do possível, apenas virtuais. Ficar em casa ainda é o mais seguro. A Covid-19 matou quase 2 milhões de pessoas no mundo, mais de 500 só em Campos. O mundo não vivia uma pandemia desde a gripe espanhola, há mais de um século, entre 1918 e 1919. De lá para cá, a tecnologia avançou. A ciência tem feito a sua parte, e o ano termina com a vacinação, em tempo recorde, já em alguns países.
Há quem tente negar os avanços científicos, negar o óbvio. São os mesmos que chamaram a pandemia de “gripezinha”, que se colocam totalmente contra o isolamento social, mesmo todas as autoridades do mundo tendo seguido essa recomendação, sendo a mais eficaz para evitar a propagação do vírus. Mas, na visão desses: “E daí?”. A despeito do que a ciência evidencia, o Brasil conviveu com aquele que disse: “Sou Messias, mas não faço milagre”. O presidente Jair Bolsonaro teve uma das piores atuações no mundo no enfrentamento à Covid-19. Para ele, se preocupar com o avanço da pandemia é ser um “país de maricas”.
O presidente tupiniquim tentava ecoar o discurso que vinha do hemisfério Norte. O ainda presidente Donald Trump também adotou um tom negacionista. Nas urnas, no sistema muitas vezes complexo dos Estados Unidos, foi derrotado no colégio eleitoral e no voto popular. Joe Biden foi eleito 46º presidente dos EUA, no pleito estadunidense que mais chamou atenção do mundo. Por aqui, o ano foi de eleições municipais. Os nomes apoiados por Bolsonaro não tiveram o sucesso esperado, mas ainda parece ser cedo para cravar os reflexos desta eleição na de 2022. Trump, ainda que derrotado, surpreendeu. Mostrou que a corrente negacionista tem vez e voz na terra do Tio Sam. E não há quem não conheça um “tiozão” que ecoe o mesmo discurso aqui pelo Brasil nas correntes do WhatsApp.
Em Campos, a eleição durante a pandemia trouxe novos personagens para o jogo, mas terminou em um embate familiar, entre filhos de ex-prefeitos, com Wladimir Garotinho (PSD) se sagrando vencedor, na mais apertada disputa de segundo turno da história campista. Na Câmara, velhos nomes, outros desconhecidos, e uma mudança de 80% das cadeiras em comparação à atual legislatura, mas um retrocesso sem nenhuma mulher eleita. Nas outras cidades do Norte Fluminense, contudo, houve demonstração de força feminina: cinco dos nove municípios serão governados por mulheres, quatro delas reeleitas prefeitas.
No estado do Rio de Janeiro, a sina de governadores afastados continua. Wilson Witzel (PSC) está fora do cargo e enfrenta um processo de impeachment, principalmente por suspeitas de corrupção durante a pandemia. Homônima, a capital também viu seu prefeito ser afastado e preso, fruto também do mal que assola a política fluminense há algum tempo, talvez desde o império, mas que agora tem sido, acertadamente, fruto de investigações.
Pandemia e eleição talvez tenham sido as notícias mais massificadas nos últimos 12 meses. Não foram as únicas. Pelo lado pessimista, a crise econômica, sobretudo para a região, com a queda de arrecadação de royalties de petróleo e as inéditas participações especiais zeradas para a Prefeitura campista. Mas não tem só notícias ruins em 2020. Vocação histórica da planície goitacá, a agricultura voltou a ser valorizada e é vista como uma das principais saídas para a crise. A safra da cana movimenta cerca de R$ 500 milhões, o que representa cerca de 1/3 do orçamento estimado para Campos em 2021, e há motivos para esperar que esse valor aumente. No Porto do Açu, a aposta é no gás natural, mas a diversificação de cargas também manteve a circulação em alta, mesmo com o impacto internacional da pandemia nas atividades econômicas.
A esperança é que em breve o convívio com familiares e amigos, relações sociais e econômicas em todo o mundo possam voltar ao normal. Da janela, onde só se olhava a vida passar, já é possível ver um sinal de glória, da chegada da vacina também ao Brasil. É a certeza de que, em tudo, não há mal que dure para sempre, certeza de que tudo isso vai passar.
*Publicado na edição deste sábado (2) da Folha da Manhã 

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    Arnaldo Neto

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