Nélio Artiles: Guerra sem ciência
Infectologista Nélio Artiles
Infectologista Nélio Artiles / Rodrigo Silveira
O tal novo normal que não chega. Situação difícil esta que estamos vivendo. Parece um pesadelo que não termina. O grau de tolerância das pessoas está bem baixo, a ponto de ouvir de várias que preferem pegar o vírus a continuarem presas. Como iremos enfrentar um futuro ainda incerto? Muitos esperam a chegada das vacinas para voltar à rotina da vida. A notícia boa é que elas chegarão sim e, pelos dados dos estudos, serão eficazes na proteção contra a Covid-19. A notícia preocupante é que, apesar de a vacinação iniciar ainda no primeiro trimestre, a doença continuará circulando e causando vítimas.

A maioria das vacinas será com a administração de duas doses para um efeito garantido. Porém uma vacinação em massa talvez não ocorra aqui no país. Infelizmente existe a falta de noção de autoridades que, ao invés de reunir esforços no sentido de fortalecer uma estratégia de imunização robusta na população, coloca em discussão ineficácias e toxicidades que, certamente, não estarão nas vacinas aprovadas e certificadas pelos órgãos internacionais.

Esta pandemia está carregada da infodemia, que é o excesso de informação, em detrimento da qualidade delas, em que as fake news têm uma “transmissibilidade” bem maior que o vírus SARSCoV-2. Desconfianças e inseguranças à parte, é preciso acreditar na ciência. Fico impressionado com o “achismo” de diversos profissionais de várias áreas que continuam se segurando em condutas médicas sem evidência científica comprovada, tanto para prevenir como para tratar esta virose.

Recebo ainda muitos pacientes que, a partir de uma leve síndrome gripal, já iniciou o uso de Ivermectina, Azitromicina, Hidroxicloroquina, vitaminas etc. Às vezes até o absurdo de se usar corticóide nesta fase inicial. Minha primeira conduta nesses casos tem sido suspender toda essa medicação, explicando e orientando que, independente do uso ou não dessas substâncias, a doença terá seu curso normal, com uma boa evolução em 90% dos casos.

É necessário um acompanhamento racional e baseado na ciência. E assim intervir, se necessário, no momento adequado, para um possível atendimento hospitalar. É comum o paciente já ter complicações da própria medicação em uso.

A situação já é bem difícil e não é possível fazer pacientes de cobaias, atrapalhando o que já é tenso e desafiador. E assim, em meio à tantas afirmações grotescas e céticas em relação à ciência, mesmo com a obrigatoriedade do uso de máscaras, muitos a renegam ou a usam de forma incorreta, na boca ou no queixo. Imagino a vacinação, que não terá obrigatoriedade, quando muitos certamente não serão imunizados.

Em todas as guerras é preciso usar a ciência. Enfrentar um inimigo tão perigoso como um vírus letal, sem se basear nela, só Freud explica: “A ciência não é uma ilusão, mas seria uma ilusão acreditar que poderemos encontrar noutro lugar o que ela não nos pode dar”.

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