"Investir na atração de empresas"
Aldir Sales e Arnaldo Neto 29/11/2020 01:30 - Atualizado em 29/11/2020 01:31
Caio Vianna
Caio Vianna
Candidato a prefeito pelo PDT, Caio Vianna prometeu transformar Campos em um “polo logístico”, com a atração de empresas e criação de Zonas Especiais de Negócios como alternativa para driblar a crise financeira e gerar mais empregos. Caso seja eleito, o pedetista falou que sua primeira medida será um “choque de gestão” para “abrir a caixa preta da Prefeitura para colocar as contas em ordem”. Na área social, o prefeitável reafirmou que vai abrir imediatamente o Restaurante Popular e promover o retorno gradual do Vale Alimentação de R$ 200, que ficou conhecido posteriormente como Cheque Cidadão.
O filho do ex-prefeito Arnaldo Vianna também não deixou de atacar a família do seu adversário, Wladimir Garotinho, lembrando as notas que colocaram a cidade nas últimas posições do Ideb durante o governo de Rosinha Garotinho. Mesmo com minoria de apoio entre os vereadores eleitos, Caio disse que vai dialogar com todos e que não vai trabalhar “para aliados políticos”. Sobre Covid-19, o candidato disse que precisa haver equilíbrio com o setor econômico, mas garantiu que a ciência vai decidir sobre eventual necessidade de novo lockdown e que vai manter projeto do Parque Municipal.
Folha da Manhã – Em uma série de 11 painéis, entre 18 de julho a 26 de setembro, a Folha ouviu 34 representantes da sociedade civil organizada, entre especialistas em economia, finanças, ciência política, sociologia e antropologia, além de gestores universitários, sindicalistas, empresários e juristas, sobre a crise financeira do município. Que pode ser resumida em um orçamento para 2021 entre R$ 1,5 bilhão a R$ 1,7 bilhão, com previsão total de gastos de quase R$ 2 bilhões, sendo R$ 1,1 bilhão só com folha de pagamento de servidor. Como fechar essa conta?
Caio Vianna – Minha primeira medida como prefeito de Campos será um choque de gestão. É preciso abrir a caixa preta da Prefeitura da nossa cidade para colocar as contas em ordem. Temos que investir na atração de novas empresas e geração de empregos na iniciativa privada para quebrar esse ciclo de inchamento do serviço público, que dá margem a loteamento de indicações e uso eleitoreiro de DAS e RPAs.
Folha – A expressão “dinheiro novo” talvez tenha sido uma das mais usadas no decorrer da campanha eleitoral deste ano em Campos. Todos os candidatos falaram sobre isso. Caso você seja o próximo prefeito, de onde virá esse “dinheiro novo”? E como isso vai acontecer? Essa expectativa de novos recursos pode onerar, também, o contribuinte municipal, com mais impostos e/ou tarifas?
Caio – Vamos transformar Campos em um polo logístico, aproveitando a proximidade com o Porto do Açu, um dos maiores empreendimentos do país. Criaremos Zonas Especiais de Negócios para atrair novas empresas e implementaremos condomínios industriais para reativar as indústrias daqui. Também retomaremos a vocação natural da nossa cidade para o agronegócio, em especial para o cultivo de cana-de-açúcar e produção de leite; para a agricultura familiar, comprando os alimentos produzidos aqui para a merenda escolar da rede municipal de ensino e alimentação hospitalar. Vamos reformular o Fundecam, ferramenta criada pelo nosso grupo político e desvirtuada pelas gestões posteriores, de modo que financie micro e pequenos empreendimentos e que ofereça assessoria para médias e grandes empresas possam captar crédito em bancos de fomento, como o BNDES.
Folha – No lado mais cruel da crise, Campos têm mais de 40 mil famílias na extrema pobreza. Condição que se acentuou com as crises sanitária e econômica da Covid-19, e pode ser vista no grande número moradores de rua em todos os pontos da cidade. Com déficit municipal estimado para 2021 em R$ 17 milhões/mês, como dar assistência social a essas pessoas, mantendo a atual folha de pagamento de pessoal e número de equipamentos municipais?
Caio – Quem tem fome, tem pressa. Meu governo vai retomar, de forma gradual e responsável, o Vale Alimentação de R$ 200 mensais para quem mais precisa. Essa ferramenta foi criada pelo nosso grupo político e, durante as gestões da família Garotinho mudou de nome e foi transformado em moeda eleitoreira e acabou virando caso de polícia e ação judicial, foi criminalizado. Reabriremos imediatamente o Restaurante Popular. Vamos resgatar o olhar humano para a população mais carente que é a marca das gestões do nosso grupo político.
Folha – A parceria com as universidades também foi ponto pacífico nos discursos das campanhas a prefeito de Campos neste ano, assim como na série de painéis da Folha. Como essa parceria funcionaria, efetivamente, no seu governo? E com relação a outro ponto que foi unânime nos painéis da Folha, a adoção do pregão eletrônico integral, você também se compromete?
Caio – Nosso programa de governo vai reviver os bons tempos de Campos. Para isso, temos que aproveitar o nosso fantástico polo acadêmico. A educação e o intercâmbio com a academia são pilares do partido ao qual sempre fui filiado, o PDT, que tem como referências Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, nomes nacional e mundialmente respeitados pelo que fizeram pela educação na nossa cidade e no nosso país. Vamos recorrer aos cérebros da nossa cidade para discutir soluções para mobilidade, produção agrícola, saneamento básico e novos negócios. Vou recorrer à academia para compor o Conselho Municipal de Educação e nossa equipe técnica. Com relação ao pregão eletrônico, trata-se de uma ferramenta de gestão imprescindível para reduzir gastos da máquina pública. Todavia, é preciso capacitar as empresas locais para que também possam participar de forma competitiva desses pregões eletrônicos. Vamos criar mecanismos para que os empreendedores de Campos tenham oportunidade de concorrer de forma justa e priorizar que o dinheiro de Campos fique em Campos. Para isso, contaremos com parcerias com entidades representativas do setor produtivo e com o Sistema S, por exemplo.
Folha – Mesmo em queda, as receitas de royalties e participação especial ainda são as principais fontes de recurso do município. Além da diminuição de valores, e críticas pelo mau investimento ao longo dos anos, também preocupa a questão da partilha, com julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) novamente adiado. O que fazer para diminuir a dependência dos royalties? No pior dos cenários, se a partilha acontecer, como será governar Campos?
Caio – Não existem soluções simples para questões complexas. Vamos trabalhar para trazer dinheiro novo para a cidade, como respondi acima. Também iremos nos empenhar junto à bancada do Rio de Janeiro no Congresso Nacional para obter emendas parlamentares que beneficiem nossa gente, atuar junto ao poder executivo federal e a parcerias público-privadas. Não existe mágica, e sim capacidade de gestão e responsabilidade com as demandas da nossa população.
Folha – Vocação histórica do município, e principal eixo econômico desde o século 17, a agropecuária foi deixada de lado a partir dos anos 1990, ao ser substituída pelo petróleo. Agora, pelos discursos dos prefeitáveis em campanha, é preciso fazer o caminho inverso, de valorização da agropecuária. Como isso aconteceria no seu governo? Quais os principais incentivos para o setor? Há recurso do próprio município para investir no campo?
Caio – Atualmente, as finanças da prefeitura de Campos são uma caixa preta. O primeiro passo é tomar conhecimento da situação financeira do município. Mas independente do choque de gestão, que é primordial, é preciso priorizar o nosso setor produtivo. Hoje, mais de 80% dos alimentos consumidos pelos campistas vêm do Espírito Santo. Isso é inconcebível. Cabe ao Executivo municipal garantir infraestrutura, com a manutenção das estradas vicinais, por exemplo, que desde que nosso grupo político deixou o poder foram abandonadas, para que nossos agricultores possam escoar a produção. É preciso ainda, em parceria com os agricultores e entidades representativas do setor, viabilizar projetos de irrigação. Entre várias medidas que podem ser tomadas. E organizar o setor produtivo, dando assistência técnica para viabilizar financiamentos pelas linhas de crédito existentes.
Folha – A pesquisa do instituto Paraná, divulgada na sexta-feira (20), mostrou que você tem 33,9% das intenções de votos entre os menos escolarizados, enquanto Wladimir possui 47,7%. Por outro lado, sua candidatura conta, segundo o levantamento, com 48,4% entre os eleitores com Ensino Médio completo ou incompleto e 53% entre os mais escolarizados. Qual o principal desafio para conquistar o eleitorado onde você possui menor pontuação?
Caio – Faço parte do mesmo partido desde que iniciei minha vida pública, o PDT. Faço parte do campo progressista e priorizo o olhar humano para a nossa população. Não vou governar para faixas populacionais e sim para todas as pessoas de Campos. Sou ficha limpa, ao contrário do meu adversário, que faz parte de um grupo sem laços ideológicos e sem compromisso com a coisa pública. Basta comparar. A gestão do nosso grupo político tem o prefeito mais bem avaliado da história de Campos, que é Arnaldo Vianna. Já o meu oponente vem de uma família que destruiu o futuro da nossa cidade com uma gestão irresponsável e populista. Tenho certeza da vitória no domingo porque tenho as melhores referências e o melhor projeto para reviver Campos.
Folha – O PDT é considerado de centro-esquerda e, no contexto nacional, é considerado fundamental para uma aliança entre setores progressistas, visando a disputa presidencial de 2022. No entanto, com sua aliança com o PSL, que abriga apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e outros políticos conservadores, outras legendas como PT, Psol e PCdoB rejeitaram apoiar sua candidatura no segundo turno. Você vê isso como um problema nesse contexto nacional?
Caio – Meu principal compromisso é com o povo de Campos e para isso eu superei diferenças políticas para compor uma chapa que tenha como prioridade o desenvolvimento econômico e social da nossa cidade. Tenho muito orgulho da minha companheira de chapa, uma mulher forte, batalhadora e de origem humilde, bombeiro militar e dentista e que conhece a realidade da nossa gente. É muito simbólico que Campos tenha uma vice-prefeita mulher, que incorpora o espírito do tempo. É muito triste ver que nossa Câmara Municipal de Vereadores não elegeu uma única mulher. Gilmara será a representante das nossas bravas campistas no Poder Executivo.
Folha – Pelo menos 15 dos 25 vereadores eleitos para a próxima legislatura já declararam apoio à candidatura de Wladimir Garotinho, incluindo cinco do grupo do deputado Rodrigo Bacellar (SD). Por que você acha que a candidatura do seu adversário conseguiu aglutinar uma maior quantidade de apoios no segundo turno? Isso pode ser um problema para governabilidade caso você seja eleito?
Caio – Meu grupo político não colocou o futuro de Campos à venda. Somos responsáveis e compromissados com o povo campista. Tenho convicção na nossa vitória e na capacidade de dialogar com todos os partidos e representantes do Legislativo municipal para retomar o desenvolvimento econômico e social da nossa cidade. Eu vou trabalhar para e pelo povo campista, não para aliados políticos.
Folha – Você concorreu a prefeito em 2016 e a deputado federal em 2020, mas não se elegeu. A falta de experiência pode ser um fator de dificuldade? Como compensar isso em um eventual governo seu, caso seja eleito o próximo prefeito de Campos?
Caio – Eu ganhei experiência política e hoje estou mais do que preparado para governar nossa cidade com responsabilidade, ética e compromisso com a nossa população. Não encaro como derrotas as eleições passadas, mas como aprendizado que me trouxe até aqui. Pronto para ser o melhor prefeito que Campos já teve.
Folha – O campista se acostumou a ver disputas eleitorais repletas de ataques pessoais, operações policiais, Exército nas ruas e boatos de baixíssimo nível. Em 2020, até pelo contexto da pandemia de Covid-19, foi bem diferente e mais tranquilo, embora na reta final do primeiro turno pipocaram casos de judicializações e fake news. Deixando todos esses problemas de lado e olhando para trás, qual a autocrítica que você faria da sua campanha?
Caio – Nossa campanha foi a que mais cresceu no primeiro turno, tanto que estamos aqui na disputa do segundo turno. Isso é indicativo de que a campanha foi bem orientada. Nas ruas, eu sinto o calor do povo campista que está farto da irresponsabilidade da gestão da família Garotinho e da incompetência da gestão atual. O povo de Campos não aguenta mais governos populistas que venderam o nosso futuro, destruíram as nossas contas públicas, deixaram rombo de R$ 400 milhões na previdência dos nossos servidores. Nossa campanha é a campanha do amor, nosso símbolo é o coração. E os eleitores e eleitoras que forem às urnas no domingo vão saber que o futuro é 12.
Folha – A Saúde Pública é um gargalo na grande maioria dos municípios do país. Com a pandemia de Covid-19, as mazelas do setor foram ainda mais expostas. Especialistas dizem que Campos pode estar enfrentando agora ou entrará ou breve na segunda onda da doença. Como encarar o coronavírus e os demais problemas da Saúde ao mesmo tempo? Você não descartaria um lockdown completo caso os infectologistas recomendem durante seu governo?
Caio – Eu tenho compromisso com a saúde da nossa gente, tanto que o setor é a prioridade do meu governo. Quem decide se haverá ou não lockdown é a ciência, os infectologistas é que vão indicar o caminho que Campos deve seguir. O que não podemos é ter um Executivo inerte, pois é preciso conciliar a saúde das pessoas com a economia da cidade. Temos que tomar medidas que protejam o comércio, como vem sendo feito em outras cidades do mundo. Quando começou, ninguém sabia muito sobre a Covid-19. Hoje há exemplos espalhados por todos os continentes de práticas que podem ser adotadas para mitigar a disseminação do vírus – o rastreamento da cadeia de contágio, por exemplo, é algo que foi deixado de lado no país inteiro. Também vamos acompanhar com atenção e nos articular com os municípios irmãos a questão da vacina. A indefinição de um plano nacional de imunização pode nos levar a tomar medidas no âmbito municipal e intermunicipal para garantir a imunização da nossa população.
Folha – Os dois candidatos no segundo turno já se posicionaram contrários ao atual modelo de transporte público tronco-alimentador, que separa vans e ônibus por regiões. Como pretende implantar um sistema realmente eficaz e que contemple a população de um município tão grande territorialmente? Como fazer o equilíbrio entre os dois modais sem causar prejuízo para motoristas do transporte alternativo, as empresas de ônibus e, principalmente, o passageiro?
Caio – Em primeiro lugar vamos dialogar com rodoviários, permissionários e usuários para adotar um modelo que contemple a todos. Vamos desativar imediatamente os terminais desumanos instalados pela atual gestão. Mas não como pretende o meu oponente, fazendo pirotecnia. As empresas responsáveis pela instalação é que serão chamadas a desativar esses locais. Vamos implementar, definitivamente, o bilhete único para ônibus e vans, estabelecer o menor valor possível para a passagem e garantir linhas diretas e horários regulares, com fiscalização do cumprimento de rotas e horários.
Folha – Campos não teve nota no último Ideb por, segundo a Prefeitura, um erro humano no momento de enviar as avaliações ao governo federal. Quais são seus projetos para melhorar, de fato, a qualidade da Educação no município e quais ações pretende tomar para isso logo no primeiro ano de seu governo? Pretende manter o modelo de escolas de ensino integral, os chamados Centro Municipal de Educação Integral (Cemei)?
Caio – Como já disse, educação é a especialidade do meu partido, o PDT. Vamos voltar a valorizar os nossos profissionais com centros de capacitação; ampliar, de forma gradual e responsável, a educação em tempo integral. Iremos retomar o Bolsa Universitária para dar oportunidade aos nossos jovens de ter uma graduação e se emancipar. Vamos fazer o Navegar é Preciso 2.0, totalmente repaginado e voltado para formação dos nossos jovens para o mercado de trabalho da era da informação, com cursos como de programação, marketing digital, videomaker etc. Durante a gestão do nosso grupo político, nossa cidade chegou a ser premiada com a Medalha Anísio Teixeira pela excelência da Educação. É inconcebível o que ocorreu na gestão da família Garotinho, que levou Campos para a lanterna do ranking da educação na nossa região, a irresponsabilidade da atual gestão, que sequer entregou as avaliações do Ideb. Vamos honrar Leonel Brizola e Darcy Ribeiro e conduzir nossa educação de volta ao topo do estado e do país.
Folha – A Prefeitura chegou a iniciar o trabalho de topografia e o cercado de uma área para construção de um Parque Municipal na avenida Arthur Bernardes. Cada vez mais, se vê nas ruas pessoas caminhando, correndo ou pedalando, o que demonstra a demanda crescente por uma área específica e segura para a prática esportiva. Você pretende manter o mesmo projeto? Como contemplar esta reivindicação comum de um centro urbano em crescimento?
Caio – Sim, vamos manter e ampliar projetos de mobilidade urbana sustentável. Meu grupo político não tem problemas em manter iniciativas que deram certo, porque nossa prioridade é a população. Inclusive, aderi ao programa Cidades Sustentáveis e terei acesso às mais modernas ferramentas de gestão, adotadas por cidades mundo afora e em sintonia com a Agenda 2030, da ONU. Minha missão é reviver os bons tempos de Campos e ir além, fazer uma gestão voltada para o futuro, ancorada no século 21 e comprometida com as pessoas.

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