Campos vive 2ª onda de Covid?
Aluysio Abreu Barbosa 21/11/2020 02:25 - Atualizado em 21/11/2020 02:25
Centro de Controle e Combate ao Coronavírus
Centro de Controle e Combate ao Coronavírus / Divulgação - Supcom
Nas últimas duas semanas, com o aumento da procura de pacientes com sintomas de Covid-19, de internações em leitos clínicos e de UTI pela doença, autoridades médicas de Campos alertam que o município vive a segunda onda da pandemia, registrada em todo o mundo e em várias outras cidades brasileiras. O infectologista Nélio Artiles disse ser inevitável a adoção de um lockdown para conter o avanço da doença. Segundo a chefe da Vigilância em Saúde do município, a infectologista Andreya Moreira, só os números da próxima semana poderão confirmar a segunda onda. Segundo os dados divulgados pela Prefeitura ontem, já são 456 mortes e 10.225 infectados, um aumento de 18 vidas perdidas e 616 novos casos em uma semana.
Diretor-clínico da Santa de Misericórdia, Cléber Glória foi categórico em afirmar: “Não tenho dúvida ao afirmar que Campos começa a viver a segunda onda da Covid”. No entanto, Eduardo Shimoda, professor da Universidade Candido Mendes, que trabalha na contabilidade e projeção dos casos, com base em modelos estatísticos, que determina o combate à Covid em Campos, questionou: “A percepção é de tendência de aumento nas últimas semanas, mas não ao ponto de segunda onda. Aliás, pensando sob o ponto de vista estatístico, me parece que não haverá segunda onda”.
Uma fonte do Hospital Dr. Beda, que preferiu não se identificar, informou que a demanda de pacientes com o novo coronavírus também aumentou muito nas duas últimas semanas. Atualmente, o hospital da rede privada tem 16 doentes de Covid internados em leitos clínicos, com outros sete na UTI. O ápice de ocupação do Dr. Beda pela doença foi em agosto, quando chegou a ter 25 internos pela pandemia em leitos clínicos e outros 15, na UTI. A unidade chegou a avaliar, dado o aumento de casos, se suspenderia, ou não, suas cirurgias eletivas, o que não foi confirmado. No Hospital da Unimed, pelo mesmo motivo, elas chegaram a ser suspensas em 4 de novembro, mas foram retomadas na semana seguinte de “forma contingenciada”. O hospital privado, no entanto, não informou sua ocupação de leitos pela doença.
Diferente do que aconteceu na primeira onda, que cresceu em junho e julho, até atingir seu pico em agosto, agora a procura dos doentes se dá mais na rede privada. É o que explica Nélio Artiles:
— Na primeira onda, quem tinha que sair de casa para trabalhar e garantir sua subsistência, se infectou e buscou a rede pública. Na privada, houve muitos casos também, mas as pessoas que recorrem a ela geralmente têm condições financeiras de fazer o isolamento. Agora, parece que as classes média e alta se comportam como se a pandemia tivesse acabado. Como não acabou, acabam se infectando. Daí a procura maior na rede privada. Mas ainda há vagas no CCC (Centro de Controle e Combate ao Coronavírus, instalado na Beneficência Portuguesa). Para ser sincero, não sei se estamos na segunda onda. Talvez ainda não tenhamos saído da primeira. As próximas semanas dirão. Mas em Campos e no Brasil não parou de morrer gente por Covid. Não foi como na Europa, onde os casos explodiram, caíram com o lockdown e voltaram a subir muito após a flexibilização
Conveniada à rede pública pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas que também atende pacientes privados, a Santa Casa também registra o crescimento dos casos da pandemia nas duas últimas semanas. Segundo Cléber Glória, o hospital pensou em desativar leitos de UTI para a Covid, com a queda dos casos em setembro e outubro, mas repensou com o aumento da demanda:
— Hoje, dos nossos 30 leitos de UTI, 10 são reservados a pacientes com Covid. E nossa taxa de internação oscila na casa dos 90%. Temos também oito leitos clínicos, em um espaço reservado para evitar a contaminação, com a taxa de ocupação atual de 70%. Baseado no que tenho visto no dia-a-dia da Santa Casa, e no que vimos entre junho e agosto, não tenho dúvida agora: a coisa vai piorar — projetou Cléber. 
Semana decisiva sobre fechamento
Nas estatísticas que a Vigilância em Saúde do município fechou na última quinta-feira, juntamente com Eduardo Shimoda, a escore semanal de Campos foi 9,8. Foi maior que os 9,5 da semana anterior. Só se passar de 10, Campos sairia da atual fase Verde para voltar à Amarela.
Andreya Moreira ressaltou que o pior cenário, com a fase Vermelha, só se daria com 90% de ocupação dos leitos do município para a doença. Ela detalhou os números atuais. Como o aumento de casos estaria sendo registrado na rede privada da cidade, hoje a taxa de ocupação dos seus leitos clínicos, para pacientes menos graves, estaria em 33,3%. Caiu em relação à média semanal anterior, registrada em 11 de novembro, quando chegou a 42,3%. Já a ocupação os leitos de UTI da rede privada, destinados aos pacientes mais graves, foi contabilizada, na quinta, em 36,1%. Como subiu bem dos 19,4% da média semanal anterior, indica o aumento na gravidade dos casos.
Em relação ao SUS reservados à Covid, a taxa de ocupação dos leitos clínicos foi fechada na quinta em 37%. E aumentou um pouco em relação à média semanal anterior, de 35,2%. Já nos leitos de UTI, a ocupação está em 50%, com queda em relação à média aos 57,1% da semana anterior.
— Pelos dados estatísticos, é possível afirmar que Campos não está vivendo a segunda onda da doença. E que não há, pelo menos por enquanto, a necessidade de mudança de fase ou de se voltar a adotar o lockdown. Mas acredito que são os dados da semana que vem, fechados na quarta, que vão nos dar essa certeza. As pessoas, infelizmente, relaxaram nas medidas de proteção, o que foi agravado também pelos feriados, caminhadas e corpo a corpo da eleição municipal — finalizou Andreya.
Presidente do Sindicato dos Médicos, Hélio da Nóbrega Novais, acha que “talvez seja precoce falar em ‘segunda onda’ da infecção em um momento que a primeira sequer foi superada”. No entanto, ele também disse ser “necessário ainda repensar a atual fase de flexibilização”.

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