Política da Petrobras no NF gera reações
- Atualizado em 21/11/2020 09:29
A Petrobras iniciou a etapa de divulgação da oportunidade referente à venda de 50% de sua participação nas concessões de Marlim, Voador, Marlim Leste e Marlim Sul, denominadas em conjunto como Polo Marlim, localizadas em águas profundas na Bacia de Campos. A Petrobras se manterá como operadora dos campos.
De acordo com o gerente executivo de Águas Profundas, Carlos José Travassos, esta iniciativa está longe de ser um movimento de saída da Petrobras da Bacia de Campos. Como exemplo cita o próprio projeto de revitalização de Marlim que aumenta muito a resiliência desse ativo. “Esse é um requisito fundamental para a continuidade de nossas operações em cenários mais desafiadores. Ele é só uma parte do plano de renovação já em andamento para a Bacia de Campos, que abrange a campanha exploratória dos 14 blocos adquiridos entre 2017 e 2019 e ocupam uma área praticamente com a extensão de uma nova Bacia de Campos”, afirma Travassos.
O superintendente de Petróleo, Gás, Energia de São João da Barra, Wellington Abreu, lembra que “desde o governo Temer, a Petrobras já vinha deixando bem claro que iria trabalhar com foco no pré-sal que possui campos de altíssima produtividade e uma política de desinvestimentos severa”.
Abreu acrescenta com a chegada da pandemia a companhia decidiu cortar em até US$ 24 bilhões de seu plano de investimentos em exploração e produção para os próximos cinco anos que representa aproximadamente 37% do previsto anteriormente.
— O novo plano ampliou ainda mais o foco no pré-sal e acelerou a venda de ativos em áreas que estão com queda de produção aqui e necessitam de investimentos. Na verdade, ela está efetuando uma venda parcial para conseguir parceiros nos investimentos, mas continuará como operadora nas áreas, assim como fez no campo de Roncador com a norueguesa Equinor, que detém tecnologia para ampliar a produção e pode trazer mais parceiros para o Porto do Açu. Que os parceiros estejam com o apetite para efetuar os investimentos e ampliar a produção na Bacia de Campos em declínio constante — disse.
Abreu considera que “o ano de 2020 já está marcado na história em meio a um quadro econômico bem complexo a frente para a gestão 2021/2024”. O superintendente sugere que os gestores devem imprimir um mandato de extrema austeridade para toda região, estado e país”, concluiu.
Já Tezeu Bezerra, coordenador geral do SindipetroNF. entende ser um absurdo a Petrobras vender ativos lucrativos, que geram emprego e renda para o Norte Fluminense. “A atual política de desinvestimentos da companhia tem impacto direto na economia de Campos e Macaé, que, em apenas quatro anos, tiveram quase 41.500 pessoas perdendo seus empregos”, criticou.
Preocupação com o emprego e compras
Na mesma linha de pensamento, o economista José Alves de Azevedo Neto considera que a única vantagem nesta transferência de ativos pela Petrobras é a possibilidade do abatimento da dívida da companhia. “Não vejo outra vantagem. Para a região Norte Fluminense não vejo também benefício porque se a Petrobras vai pagar a dívida não vai investir aqui na Bacia de Campos”, analisou.
Neto ainda demonstrou preocupação com o baixo dinamismo da indústria do petróleo na região Norte Fluminense. E mencionou dados apurados pelo economista Mauro Osório, da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Assembleia Legislativa (Alerj). “O Mauro cita que mais de 60% das compras do setor de petróleo são feitas no exterior. Estamos exportando capitais e gerando empregos fora do país. Este levantamento é muito preocupante. O conteúdo nacional precisa ser preservado”.
O nível de desemprego na cadeia produtiva do petróleo também preocupa, ressalta ainda o economista, segundo dados do Caged (Cadastro de Empregados e Desempregados) do Ministério da Economia.
— De janeiro a setembro, mais de 10 mil pessoas perderam o emprego na Bacia de Campos, segundo o Caged, com base nos dados apurados em Macaé, que inclui trabalhadores de toda a região — completou.
Reforço de caixa para dívida e investimento
A revitalização de Marlim abrange a interligação de mais de 100 poços aos sistemas já em operação, projetos de desenvolvimento complementar, novos sistemas de produção com a instalação de três novos FPSOs, a reorganização das malhas de escoamento, a recuperação de integridade de unidades existentes. “A parceria em Marlim permite o compartilhamento de custos e riscos e de oportunidades. Esse movimento reforça a geração de caixa, importante não só para a redução da nossa dívida, mas garante os investimentos previstos no plano de renovação da Bacia de Campos”, acrescenta Travassos. O Polo Marlim compreende 4 concessões de produção na Bacia de Campos. A Petrobras é a operadora dos campos com 100% de participação.
Os campos de Marlim e Voador ocupam uma área de 339,3 km2 e estão localizados em águas profundas, com lâmina d’água que varia entre 400 m e 1.050 m, a uma distância de cerca de 150 km de Macaé. Marlim e Voador compartilham a infraestrutura de produção e, entre janeiro e outubro de 2020, produziram em média cerca de 68,9 mil barris de óleo por dia e 934 mil m3/dia de gás.
Marlim Leste está situado a uma distância de cerca de 107 km do Cabo de São Tomé, em Campos, localizado em águas profundas e ultra profundas, com lâmina d’água que de 780 m a 2.000 m.

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