Tadeu Tô Contigo: cortar os gastos e incentivar o agronegócio
Arnaldo Neto e Aluysio Abreu Barbosa 23/10/2020 23:21 - Atualizado em 24/10/2020 08:23
Tadeu Tô Contigo
Tadeu Tô Contigo / Divulgação
“O campista merece muito mais que um prato de comida ou uma passagem a 1 real”. A declaração é do candidato a prefeito de Campos pelo Republicanos, Tadeu Tô Contigo, que ao longo da entrevista aposta na geração de emprego e renda para superar a crise econômica de Campos. Para o que se vislumbra como maior problema do município — um orçamento estimado para 2021 entre R$ 1,5 e 1,7 bilhão, sendo R$ 1,1 bi comprometido com a folha de pagamento —, observa que “o resgate econômico de Campos passa pelo corte de gastos, pela aplicação do conhecimento e o incentivo ao agronegócio”. Quanto à origem da grave situação financeira, não tem dúvida, foi o “uso incorreto do dinheiro dos royalties ao longo de décadas”. Ele propõe que, caso essa receita volte a subir, um fundo seja criado e o valor utilizado somente em extrema necessidade. Vereador na legislatura de 2013 e 2016, Tadeu diz ter sido enganado ao votar a favor da primeira “venda do futuro”. Também diz ter levado a maior rasteira da sua vida nesse período: “E o autor desse golpe se chama Anthony Garotinho. Ele condicionou o apoio a Crivella no Rio com a retirada da minha candidatura a prefeito em Campos”.
Do mesmo partido que abrigou parte do clã Bolsonaro, após a cisão com o PSL e não prosperar a fundação do novo partido, Tô Contigo diz não ver uma disputa pelo legado bolsonarista entre os campistas, que deram ao presidente quase 65% dos votos no 2º turno em 2018. Ele afirmou, ainda, que “a família Bolsonaro já trabalha direta e indiretamente na minha campanha”. Além de abordar as questões políticas e relacionadas à queda de receita do município, Tadeu afirmou que vai acabar com o atual modelo de transporte público, o tronco-alimentador, voltando com as vans circulando na área central; ressaltou a pretensão de ampliar as escolas em tempo integral, como o atual Cemei, e investimento na Saúde, área que, para ele, não faltam recursos, mas existem “erros nas prioridades”. Na área da Assistência Social, diz que é uma questão humanitária, sem citar quais programas poderiam voltar e de onde viria esse recurso, sentenciou: “Mas não vou manter o cidadão dependente da Prefeitura”.
Folha da Manhã – O governo Rafael Diniz projetou o orçamento de Campos para 2021 em 1,7 bilhão. Na série de painéis sobre a crise financeira do município, o economista Alcimar Chagas, professor da Uenf, projetou em R$ 1,5 bilhão. Que foi considerado “otimista” pelo economista Roberto Rosendo, diretor da UFF-Campos. O fato é que R$ 1,1 bilhão já está comprometido com folha de pagamento e a despesa total foi orçada pela Fazenda em R$ 2 bilhões. Como fechar a conta?
Tadeu Tô Contigo – O resgate econômico de Campos passa, essencialmente, pela geração de empregos, de renda e, consequentemente, pelo aumento de consumo. Para isso, vou dar incentivos para as indústrias e grandes empresas se instalarem na cidade. Empresários e comerciantes de Campos, que estiveram com dificuldades, também terão incentivos para reabrir ou ampliar seus negócios. Assim, vamos garantir emprego e renda para as pessoas. O campista merece muito mais que um prato de comida ou uma passagem a 1 real. Merece dignidade.
Folha – Na mesma série da Folha sobre a crise financeira, na qual foram ouvidos 34 representantes da sociedade civil organizada, entre professores e gestores universitários, juristas, empresários, sindicalistas e servidores, vários deles foram categóricos ao afirmar que não há solução mágica para Campos. E que quem disser o contrário nas eleições estaria mentindo. Concorda? Qual a sua proposta de solução real e verdadeira?
Tadeu – Concordo plenamente. É preciso trabalhar para gerar oportunidades de emprego. A população precisa participar da economia da cidade, trabalhando, recebendo salário e consumindo. Só assim nossa economia vai girar. Não podemos ter apenas Prefeitura e o comércio como geradores de emprego. É preciso ampliar a oferta de oportunidades.
Folha – Reitor da Uenf, o professor Raul Palacio tem batido sempre na tecla da necessidade de um pacto entre o vencedor da eleição a prefeito com todos os segmentos da sociedade. No que foi endossado por vários outros atores entrevistados na série de painéis da Folha. Em que termos esse pacto teria que ser firmado? Como quem governará o conjunto da cidade teria que equilibrar os interesses muitas vezes conflitantes dos segmentos envolvidos?
Tadeu - Já iniciei o diálogo com vários representantes da sociedade e essa parceria será ainda mais intensa a partir de primeiro de janeiro. Não é possível administrar uma cidade sozinho, sem ouvir as pessoas. Vou governar com todos e para todos. Hoje, o que vemos é o governo municipal de um lado, tomando decisões sozinho, e a sociedade do outro lado, sofrendo as consequências. O meu governo terá a participação de todos, do mais bem-sucedido empresário, passando pelo conhecimento das universidades, até o cidadão mais necessitado.
Folha – Entre várias discordâncias, a parceria com polo universitário, a adoção integral do pregão eletrônico nas compras do município e a retomada da sua vocação agropecuária foram apontadas como alternativas unânimes para sair da crise. Concorda? Teria mais alguma opção? Por que o pregão integral não foi até hoje adotado e a agropecuária, nosso eixo econômico desde o séc. 17, foi deixada de lado a partir dos anos 1990, ao ser substituída pelo petróleo?
Tadeu – Concordo. O resgate econômico de Campos passa pelo corte de gastos, pela aplicação do conhecimento e o incentivo ao agronegócio. Vamos priorizar o pregão eletrônico para agilizar as compras e, principalmente, evitar gastos desnecessários. Em parceria com as universidades públicas e particulares da cidade, vamos criar o Polo Universitário Municipal, que vai concentrar estudos e pesquisas desenvolvidos para serem aplicados no município. O agronegócio será amplamente incentivado através do Fundecam-agro, que vai garantir recursos para o produtor trabalhar e, consequentemente, garantir mais emprego e renda.
Folha – Corrigido pelo INPC, de 1999 a 2019, Campos recebeu R$ 25,51 bilhões de royalties e Participações Especiais (PEs). Até 2016, foram R$ 23,67 bilhões, média de quase R$ 1,4 bilhão/ano. Que caiu a R$ 0,56 bilhão de média/ano, com o R$ 1,7 bilhão de 2017 a 2019 e um inédito R$ 0,00 de PE em agosto de 2020. Qual o saldo desses recursos? E o que esperar do futuro próximo, com o julgamento da partilha dos royalties em 3 de dezembro no STF?
Tadeu – A crise financeira que Campos atravessa se dá pelo uso incorreto do dinheiro dos royalties ao longo de décadas. Milhões foram gastos. Nada foi investido ou reservado. A partir de janeiro, por menor que seja o repasse dos royalties, ele será investido em ações que gerem retorno para a cidade e os cidadãos. Com o aumento previsto dos repasses e participações, vou criar o Fundo dos Royalties, que só poderá ser utilizado em caso de extrema necessidade do município.
Folha – Jair Bolsonaro foi eleito presidente com 64,87% dos votos de Campos no 2º turno de 2018. Alguns candidatos a prefeito da cidade disputam esse eleitor: você, que é do partido que abrigou Flávio e Carlos Bolsonaro; Cláudio Rangel, que tem como vice o Coronel Almir Porto; Jonathan Paes; e até Caio Vianna, que é do PDT, mas tem como vice a sargento dos Bombeiros Gilmara dos Santos, do PSL, ex-partido de Bolsonaro. Como disputar esse legado?
Tadeu – Não existe disputa. Em Campos, a família Bolsonaro apoia Alexandre Tadeu Tô Contigo. Os filhos políticos e a primeira esposa do presidente Bolsonaro são filiados ao meu partido, Republicanos. Eduardo Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Rogéria Bolsonaro são 10. E com a ajuda do presidente Bolsonaro, Campos vai ficar 10.
Folha – Por falar no clã Bolsonaro, você espera contar com a participação efetiva da família na sua campanha? Quem, de que forma e a partir de quando? Na sua opinião, o quanto isso seria decisivo para disputa do legado do eleitor bolsonarista em Campos?
Tadeu - A família Bolsonaro já trabalha direta e indiretamente na minha campanha. O Republicanos está alinhado de Brasília a Campos com o governo federal. Faz parte da base do governo Bolsonaro, está na vice-presidência da Câmara Federal, tem deputados federais em São Paulo e no Rio, e em Campos tem um representante da Direita Campos na nominata de vereador, desenhando uma perfeita sintonia com os Bolsonaro.
Folha – O clima estaria tenso nos bastidores do Republicanos campista. Uma reunião, no início do mês, teria sido o maior motivador de cisões, devido, segundo alguns candidatos, até a ameaças que teriam ocorrido no encontro. Já houve desistência e outros nomes poderiam sair da disputa a vereador. Teme um esvaziamento da nominata? Como isso influenciaria na sua campanha? Como foi essa reunião e qual a sua relação com os candidatos a vereador do partido?
Tadeu - O Republicanos é um partido que tem na sua essência a preservação da família, dos valores e costumes, e de uma economia liberal. Temos o compromisso de fazer o bem ao próximo, agindo de forma coletiva. Aquele que pensa diferente, não precisa ficar. Mas posso garantir que, mesmo sem recursos financeiros, nossa nominata de vereador está trabalhando bastante.
Folha – Em 2012, você foi o segundo vereador mais votado de Campos, com 5.341 votos. Mas, depois de não conseguir emplacar a candidatura a prefeito em 2016, perdeu a reeleição na Câmara Municipal naquele ano, com 1.815 votos. A que credita essa perda de eleitores?
Tadeu - Em 2016 levei a maior rasteira da minha vida. E o autor desse golpe se chama Anthony Garotinho. Ele condicionou o apoio a Crivella no Rio com a retirada da minha candidatura a prefeito em Campos. Uma atitude covarde. Eu estava em primeiro nas pesquisas há 19 meses e me tiraram do páreo. Fui tentar a reeleição para vereador, mas os eleitores já tinham decidido o voto. Mas Deus sabe de todas as coisas e agora dá ao campista a chance de libertar Campos das famílias gananciosas que se revezam no poder há décadas, empobrecendo cada vez mais a cidade e seus cidadãos.
Folha – Durante o mandato de vereador, você esteve na base da ex-prefeita Rosinha Garotinho e chegou a votar a favor do empréstimo que ficou conhecido como “venda do futuro”. Com a atual situação financeira da cidade que pretende administrar a partir de 1º de janeiro, se arrepende daquela aprovação? Por quê?
Tadeu – Quem nunca foi enganado? Eu fui quando estava vereador. O primeiro projeto de antecipação dos royalties tinha a justificativa de garantir o pagamento em dia dos servidores ativos, inativos e pensionistas. Como não tinha nenhuma ilegalidade, votei a favor de forma consciente. Mas quando veio o segundo projeto, com a mesma justificativa, eu percebi que o dinheiro poderia estar sendo desviado para outros objetivos, então votei contra e deixei o governo.
Folha – A Saúde Pública parece ser o calcanhar de Aquiles de todas as administrações, em todas as esferas, há muitos anos. Campos é um polo regional e não faltam relatos de problemas nas unidades do município. Que ainda coleciona uma dívida, desde a administração passada, com os hospitais contratualizados. Como médico, o que propõe de concreto ao setor? Especificamente sobre o enfrentamento à pandemia de Covid-19, como classifica a atuação do município?
Tadeu – Não falta recurso para a saúde. O que acontece é o erro nas prioridades. É preciso investir na saúde base, prevenindo para que o cidadão não adoeça e tenha que ir para os hospitais. É prevenir para não ter que remediar. Hoje, agentes de saúde não tem condições para trabalhar e os postos de saúde estão fechados. Isso resulta nos hospitais superlotados. Sobre a pandemia, o município errou ao ficar esperando pela construção do hospital de campanha. Deveria ter solicitado ao estado apenas o aparelhamento de locais ociosos nas unidades já existentes da cidade. Assim, muitas mortes seriam evitadas.
Folha – A avaliação de Campos no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) não vinha sendo dos melhores. Neste ano, pelo que a Prefeitura classificou como “falha humana”, o município ficou sem nota por não enviar os dados. Por outro lado, a implantação do Centro Municipal de Educação Integral (Cemei) é visto como um ponto positivo. Qual a sua nota para a Educação de Campos? Se eleito, pretende dar continuidade ao Cemei?
Tadeu – Pior do que tirar nota ruim é não participar da prova. Foi isso que ocorreu em Campos. Para evitar que a população tivesse acesso ao péssimo resultado da educação no município, em pleno período eleitoral, a Prefeitura não enviou os dados para avaliação do Ideb. Uma vergonha maior que os fracos resultados dos anos anteriores. Sobre as escolas em tempo integral, defendo esse modelo e vou ampliar no meu governo.
Folha – Programas sociais, entre eles o Cheque Cidadão, alvo da operação Chequinho no governo Rosinha Garotinho (hoje, Pros), a Passagem Social e o Restaurante Popular foram cortados na gestão Rafael pela queda de arrecadação. Com o atual cenário financeiro, sem nenhuma perspectiva de melhora a curto prazo, é possível planejar a retomada desses programas?
Tadeu – Dar assistência social é uma questão humanitária. Mas não vou manter o cidadão dependente da Prefeitura. Vou cuidar do campista para que ele alcance a sua independência. Vou criar oportunidades de emprego para que o cidadão tenha o seu salário e possa sustentar sua família. O campista merece muito mais que um prato de comida ou uma passagem a 1 real. Merece dignidade.
Folha – O transporte público é outro serviço contestado. Qual a sua opinião sobre o sistema tronco-alimentador? Caso pretenda mudá-lo, como e o que faria? No programa Folha no Ar de 5 de outubro, você disse ser favorável à volta das vans na área central, que sempre geraram reclamações. O transporte clandestino foi combatido pelo governo Rafael, que teve integrantes ameaçados de morte. Em seu governo, o Centro seria de novo dominado por vans e lotadas?
Tadeu – Uma das primeiras medidas que vou tomar como prefeito será acabar com o terrível programa de integração do transporte público. Vou permitir que vans e ônibus circulem entre distritos, localidades e o centro, mas de forma ordenada. Transporte tem a ver com emprego. A retirada das vans da área central prejudicou o passageiro, o trabalhador e comerciantes, que registraram queda nas vendas por causa do pouco movimento de pessoas.
Folha – Segurança pública é dever do Estado, mas cada vez mais estão sendo traçadas ações conjuntas com os municípios. Em Campos, por exemplo, a mais recente foi a instalação do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp). Atual secretário de Segurança Pública, Darcileu Amaral defende que a Guarda Civil seja armada. Como você avalia essa opinião e a atual política municipal na Segurança? E qual a sua proposta?
Tadeu - A segurança de Campos ficará sob a responsabilidade do meu vice, coronel Ramiro, que fez um excelente trabalho à frente do oitavo batalhão da PM, reduzindo rapidamente a violência na região. Um homem experimentado e vencedor em suas missões. Sobre o armamento da Guarda Municipal temos o mesmo pensamento: somos a favor, desde que o município tenha condições de resguardar pela segurança do agente e de sua família, como é feito na Polícia Militar. É preciso dar abrigo ao guarda e sua família em caso de ameaça. É preciso dar suporte a família em caso de morte do agente em serviço. O assunto é mais complexo do que se imagina. Não basta apenas armar. É preciso pensar nas consequências.

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