Cláudio Rangel: "sou realista, não podemos fazer milagre"
Aldir Sales e Arnaldo Neto 17/10/2020 01:47 - Atualizado em 17/10/2020 01:48
Cláudio Rangel
Cláudio Rangel / Reprodução - Facebook
Empresário de 72 anos, Cláudio Rangel do Boa Viagem (PMN) se disse sentir jovem para encarar os desafios de administrar o maior município do interior fluminense em plena crise financeira mais intensa da história de Campos e aposta na busca de recursos estaduais e federais, além do aumento da arrecadação própria como alternativa. Mesmo assim, admite que a situação é grave e que não há milagre: “Mentir não faz parte dos meus princípios. Tem que ser realista. Muito bom é quando a gente trabalha com o que tem, não podemos é fazer milagre. Fazer só para agradar, não dá”. O prefeitável também falou na valorização do agronegócio e da atração de investimentos para a cidade. “Se for mantido um equilíbrio de economia, de mercado, geração de emprego, de renda, é isso que eu pretendo fazer. Todos os seguimentos vêm acompanhando e a cidade só vai ganhar. Mas se você ficar só dentro de quatro paredes, fazendo contas, sozinho você não vai a lugar nenhum. Eu quero ser parceiro do comércio, da indústria e o agronegócio”. Rangel também foi candidato a prefeito de São João da Barra em 1996, mas não foi eleito, e, apesar da falta de experiência na vida pública, se diz preparado.
Cláudio é um dos três prefeitáveis campistas com vice militar, no caso, o policial reformado Almir Porto. Ele negou pegar carona na onda do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e não teme a divisão de votos no eleitorado conservador. “O cidadão que anda na garupa não governa o freio. O Jair Bolsonaro, por exemplo, é um presidente que está atuando com alguns erros e alguns acertos. Eu não quero pegar carona e não preciso pegar carona de ninguém. Sou dono do meu nariz e cumpro com ele. Convidei o amigo Almir Porto por ser um homem experiente, um chefe de família, disciplinado”. Uma de suas propostas é armar a Guarda Civil, mas pregou o diálogo como principal forma de resolução de problemas. Também foi através da conversa que Rangel pretende, se eleito, negociar com a Câmara de Vereadores sem ter maioria na Casa. O empresário também elegeu a Educação como uma prioridade e afirmou que só tem como falar de uma eventual volta de programas sociais após conhecer a máquina. “Precisamos chegar lá e conhecer a máquina. Falar “vou fazer” ou “não vão fazer” são promessas vazias que aconteceram em outra época, e vocês não vão ficar satisfeitos”.
Folha da Manhã – O governo Rafael Diniz projetou o orçamento de Campos para 2021 em 1,7 bilhão. Na série de painéis sobre a crise financeira do município, o economista Alcimar Chagas, professor da Uenf, projetou em R$ 1,5 bilhão. Que foi considerado “otimista” pelo economista Roberto Rosendo, diretor da UFF-Campos. O fato é que R$ 1,1 bilhão já está comprometido com folha de pagamento e a despesa total foi orçada pela Fazenda em R$ 2 bilhões. Como fechar a conta?
Cláudio Rangel do Boa Viagem – A conta se fecha com ajustes, com uma matemática justa. Algumas gorduras, alguns excessos terão de ser queimados para enxugar as contas, dentro de critérios que não venham prejudicar os investimentos e o trabalho do município. Temos políticos, na área estadual e federal, com quem podemos buscar recursos, que às vezes são perdidos. O que não pode é o servidor pagar por isso. Muitas das vezes, você tirar um pouco, mexe em alguma coisa, não é para fazer ninguém perder, mas para ajustar as contas dentro do modelo que o município se encontra. O pensamento é não errar.
Folha – Na mesma série da Folha sobre a crise financeira, na qual foram ouvidos 34 representantes da sociedade civil organizada, entre professores e gestores universitários, juristas, empresários, sindicalistas e servidores, vários deles foram categóricos ao afirmar que não há solução mágica para Campos. E que quem disser o contrário nas eleições estaria mentindo. Concorda? Qual a sua proposta de solução real e verdadeira?
Cláudio – Mentir não faz parte dos meus princípios. Tem que ser realista. Muito bom é quando a gente trabalha com o que tem, não podemos é fazer milagre. Fazer só para agradar, não dá. O município não precisa disso e, muito menos, a população sofrer com isso. Trabalhar dentro do justo, de critérios que venham a atender todos. No momento de crise, o importante é que todos trabalhem e somem para que o município não perca mais.
Folha – Reitor da Uenf, o professor Raul Palacio tem batido sempre na tecla da necessidade de um pacto entre o vencedor da eleição a prefeito com todos os segmentos da sociedade. No que foi endossado por vários outros atores entrevistados na série de painéis da Folha. Em que termos esse pacto teria que ser firmado? Como quem governará o conjunto da cidade teria que equilibrar os interesses muitas vezes conflitantes dos segmentos envolvidos?
Cláudio – Eu, sendo prefeito, quero uma parceria muito importante com todos os segmentos. A cidade é grande, os problemas são muito maiores e acredito que ninguém pode perder mais. Acho eu que, convidando os seguimentos, de comércio, serviços, e tantos outros, para fazer parte da conjuntura de trabalho, eu acho que todos vão ganhar. Não pode é eu assumir o cargo e querer ser o dono da palavra. Eu quero ouvir muito, o momento não é fácil. Sabemos que a situação dos recursos não é boa no momento. Acredito que convidar os seguimentos da sociedade para serem parceiros, faz parte de um trabalho emergencial e providencial.
Folha – Entre várias discordâncias, a parceria com polo universitário, a adoção integral do pregão eletrônico nas compras do município e a retomada da sua vocação agropecuária foram apontadas como alternativas unânimes para sair da crise. Concorda? Teria mais alguma opção? Por que o pregão integral não foi até hoje adotado e a agropecuária, nosso eixo econômico desde o séc. 17, foi deixada de lado a partir dos anos 1990, ao ser substituída pelo petróleo?
Cláudio – Sendo prefeito de Campos, vou trabalhar dentro do que é justo. Claro que a cidade precisa de novas economias, novos setores e que sejam bons para todos. Convidar o agronegócio, comércio, indústria para uma nova instalação, tenho certeza de que vão sair da crise. Dentro de um governo forte, sério, promissor, competente, os seguimentos empresariais também acompanham. Se for mantido um equilíbrio de economia, de mercado, geração de emprego, de renda, é isso que eu pretendo fazer. Todos os seguimentos vêm acompanhando e a cidade só vai ganhar. Mas se você ficar só dentro de quatro paredes, fazendo contas, sozinho você não vai a lugar nenhum. Eu quero ser parceiro do comércio, da indústria e o agronegócio. Precisamos urgentemente de mais empregos. Sobre as universidades, queremos ser parceiro de todas. E o pregão tem que ser uma coisa justa e equilibrada para não errar. Eu aprendi que errar não faz bem para ninguém. Se for eletrônico ou não, eu acredito que tem de ser verdadeiro, com um ajuste para que o município saia ganhando. O município precisa de pulso, de um choque. Tudo vai, sem dúvida, somar. E esse sacrifício é para todos. Todos vão ganhar no futuro. Mas, para isso, precisa apertar um pouco o cinto.
Folha – Corrigido pelo INPC, de 1999 a 2019, Campos recebeu R$ 25,51 bilhões de royalties e Participações Especiais (PEs). Até 2016, foram R$ 23,67 bilhões, média de quase R$ 1,4 bilhão/ano. Que caiu a R$ 0,56 bilhão de média/ano, com o R$ 1,7 bilhão de 2017 a 2019 e um inédito R$ 0,00 de PE em agosto de 2020. Qual o saldo desses recursos? E o que esperar do futuro próximo, com o julgamento da partilha dos royalties em 3 de dezembro no STF?
Cláudio – Com todo esse montante numeroso citado, se viesse o dobro desses recursos durante esse tempo, ainda a situação da cidade seria pior do que estava. Campos tem que andar com suas próprias pernas. Todos esses recursos ao longo do tempo fizeram mal a cidade. Se vier mais dinheiro de royalties e outras fontes de recursos, devemos saber trabalhar com eles. A minha filosofia é que o município possa sobreviver com as próprias pernas. Para mim, como cidadão, como comerciante, como usuário dos serviços públicos e morador da cidade, com todas essas reservas que apareceram, fizeram muito mal. Foram mal aplicadas, foram mal investidas. Antes dessa reserva, a cidade sobrevivia com pouco. Às vezes com menos recursos, mas ela tinha indústrias pesadas que geravam emprego o ano inteiro. Circulavam aqui enormes fortunas que vinham do café, da cana, do setor imobiliário. Mas não se ouvia falar que a cidade sofria lesões como agora nos últimos tempos. Afetou a moral, a dignidade da cidade. Se colocar a cidade para andar com seus próprios recursos, bem administrados, com certeza vai sobressair muito mais. Mas se vier isso que veio anteriormente, não vai ser tão fácil. Mas o que tem no cenário é o rasgado falando do remendado querendo ser prefeito. É só colocar a cidade para funcionar. Com governo sério, de punho firme, que não faça política de casinhas, de chequinho, essas coisas que não somaram muito, os investidores vão vir acompanhando. O porto voou por aqui e foi parar no Açu. E por qual motivo não parou aqui? Temos um litoral riquíssimo. Nenhum político fala em ceder um pouco desses impostos... Quando você convida alguém para sua casa, tem que oferecer alguma coisa. Ceder um pouco dos impostos, vai fazer o município ganhar em geração de emprego e renda.
Folha – Esta não é a primeira vez que você concorre ao cargo de prefeito. Em 1996, você foi candidato à Prefeitura de São João da Barra, ficando em terceiro lugar, numa disputa polarizada entre Betinho Dauaire e Ditinho Campista, sendo vencedor o primeiro. Qual seu aprendizado daquela campanha? Por que decidiu ser candidato a prefeito, agora, de Campos?
Cláudio – Tenho minhas casas de veraneio em São João da Barra, tenho minhas propriedades lá, fui presidente de uma associação de moradores lá. Naquela época, me pediram para ser candidato lá. Passou esse tempo, me instalei em Campos, onde tenho meus negócios há 27 anos, tenho minha residência, minhas propriedades aqui. E me candidatei a prefeito porque vi que os homens sérios, os homens que carregam uma carga tributária nas costas, tenho 150 funcionários. O funcionário chega para mim e diz que saiu de Tocos e chega aqui só às 8h30, de Travessão. Vejo que a cidade está envelhecendo e perdendo. O que eu fiz? Me lancei candidato e estou com muita vontade de ser o prefeito que Deus vai colocar nessa cidade. Se isso acontecer, tenho certeza de que vai ser um mandato justo, com um prefeito que não mente, não engana, não promete o que não pode cumprir. Não preciso nada disso. Eu quero ser um cidadão enérgico, botando a cidade nos trilhos.
Folha – Você é empresário, sua empresa tem, aparentemente, uma situação estável, enquanto a Prefeitura de Campos vive uma crise sem precedentes. Por que trocar a aparente tranquilidade da vida empresarial para tentar encarar uma administração tão problemática como se desenha ser a do próximo gestor da Prefeitura de Campos?
Cláudio – Já me perguntaram: “Cláudio, como você vai administrar uma cidade quebrada?”. E eu digo que, se o cidadão não encarar com a realidade na atual circunstância, encarar os problemas... Se você for criar cabrito na beira da estrada no Xexé, não vai ter problema. E assim mesmo, pode aparecer um lá e roubar. Enquanto o sujeito tiver vida, tiver coragem. Eu tenho 72 anos, eu amo o que eu faço, com minha cúpula do trabalho. Não só em Campos, atendo a Região dos Lagos, o Norte e o Noroeste também. Estou preparado para ser um prefeito de coragem. Eu aposentei há 12 anos, poderia ter parado, mas eu amo o que eu faço, cumpro minhas obrigações com os tributos, procuro andar direito com meus clientes e fornecedores. Estou com muita vontade de ser o prefeito que Campos está precisando. Vou ser prefeito para gerar emprego e renda no município. A cidade parece que, nesses 10, 20, 30 anos, parece que a cidade está andando de ré. Nós temos, a 50 km daqui, um porto que o mundo vem oferecer para nós. São 6 mil empregos gerados lá e Campos está chupando dedo. Não sai um quilo de fubá daqui para ser enviado para qualquer lugar do mundo.
Folha – Seu partido lançou nominata completa, com 38 candidatos a vereador. Quantas cadeiras vocês almejam conquistar? E, caso você seja eleito prefeito, como construir maioria na Câmara, já que o número de eleitos pelo seu partido, e como não há coligação do PMN com outras siglas, não é o suficiente?
Cláudio – É ser justo. Fazer um trabalho que venha atender, não as exigências individuais, mas que venha atender ao município. Teremos que fazer algumas composições dentro de critérios que não venham prejudicar o município. Vamos trabalhar para amenizar esse sofrimento e poder ser justo com todos. Peguei meu partido no fundo do poço, não tenho nem direito ao tempo de televisão e rádio, e nem recursos. Temos uma nominata com 38 candidatos a vereador, conversando, falando com as pessoas. Andei o município inteiro e digo que não pedi um voto. Só disse que quero ser o prefeito, do homem de barba ruça que há 30 anos deixava mulher e os filhos em casa, colocava a marmita nas costas e ia trabalhar. E esse mesmo homem não tem nenhum transporte regular para ele ir ao médico, para ir a um hospital e encontrar com vazamento, com aborrecimento. É isso que me entristece. Se a população me der esse privilégio, não vou viver entre quatro paredes. Sou homem que acordo cedo, que gosto de trabalhar e vou para rua. Tem que ter diálogo com a Câmara. Se eles quiserem fazer parte desse conceituado sabor de conduzir o município, claro que vão saber interpretar muito bem. Não vou trabalhar com radicalismo, vou convidar o empresariado para participar do meu governo, a população estará presente. Eu sozinho não vou governar, não sou o dono da verdade.
Folha – O discurso da renovação é sempre uma tônica a cada eleição. A média de idade entre todos os 11 candidatos a prefeito de Campos é de 44,4 anos. Você é um dos quatro prefeitáveis com idade superior à esta média e nunca teve experiência em cargo eletivo. Como você pretende convencer o eleitorado campista de que pode ser a renovação?
Cláudio – Eu tenho 72 anos, mas tenho cara de garoto. Trabalho, me alimento, converso, sou alegre, sou obediente, gosto de dançar um forró. Eu me sinto muito jovem e muito preparado para dizer ao eleitorado que estou pronto para ser o prefeito que eles precisam. Dentro do meu comércio, com uma quantidade imensa de amigos, todos sabem que não sou de engolir o que falo. Eles sabem que não sou de propostas vazias. Diante dessa cúpula de candidatos que está aí, que vai para televisão, que engole o que vai falar, que chama o pai, chama o padrinho, chama o avô, chama não sei mais quem... Passam a ser uns homens imprestáveis, passa a ser um rasgado falar do remendado. Tivemos vários profissionais, médicos, liberais, advogados, economistas, radialistas, que foram prefeitos. E deixaram ela nessa situação e em uma época das vacas gordas. Está aí uma cidade sem transporte. Será que esses prefeitos, vereadores e secretários não andam de ônibus? Parece que esses homens só andam de carro importado. Não vou ser o melhor prefeito do mundo, mas eu quero ser um prefeito que coloque a cidade nos trilhos.
Folha – Após a eleição de Jair Bolsonaro (sem partido) para presidência, candidaturas de militares têm sido comuns em 2020 para tentar atingir o eleitorado mais conservador. Você é um dos três prefeitáveis com vices militares. Isso não pode ser um problema por causa da divisão dos votos?
Cláudio - O cidadão que anda na garupa não governa o freio. O cidadão que anda na garupa mal tem ali o assento dele. O Jair Bolsonaro, por exemplo, é um presidente que está atuando com alguns erros e alguns acertos. Vamos torcer para que ele seja um presidente que o povo precisa. Eu não quero pegar carona e não preciso pegar carona de ninguém. Sou dono do meu nariz e cumpro com ele. Convidei o amigo Almir Porto por ser um homem experiente, um chefe de família, disciplinado. Ele tem os mesmos meus costumes. Para evitar errar, temos que ter um cidadão que possa resolver aquilo que você não possa, à medida em que receba uma ordem e a respeite. Estou muito satisfeito, e tenho certeza que ele vai cumprir uma tarefa de vice exemplar, pela sua disciplina de cidadão.
Folha – A Saúde Pública parece ser o calcanhar de Aquiles de todas as administrações, em todas as esferas, há muitos anos. Campos é um polo regional e não faltam relatos de problemas nas unidades do município. Que ainda coleciona uma dívida, desde a administração passada, com os hospitais contratualizados. O que propõe de concreto ao setor? Especificamente sobre o enfrentamento à pandemia de Covid-19, como classifica a atuação do município?
Cláudio – Temos homens jovens na esfera federal e estadual e precisamos colocar eles para trazerem recursos para Campos. Não para embelezar, mas para aperfeiçoar o serviço que é horrível. Precisamos muito do apoio desses políticos, que eles tenham maturidade para buscar esses recursos. Diante desse problema caótico que o mundo inteiro sofreu, todos viram o que sobrou para Campos. Com representantes de várias esferas, vieram aqui e implantaram um circo lunar ao lado da avenida 28 de Março e que virou um circo de campanha. Esses mesmos recursos poderiam beneficiar um ou dois hospitais que estão com as pernas machucadas. No entanto, passaram uma temporada aqui com esse hospital de campanha, com ociosidade, com um vexame e uma lesão estrutural para a população diante do caos que foi implantado. Hoje, esses mesmos homens que trouxeram esse hospital de campanha, eles vivem escondidos, a língua fica curta. A população precisa saber disso. Na hora de uma solução emergencial, eles chamam papai, mamãe, titio para dar recurso na língua.
Folha – A avaliação de Campos no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) não vinha sendo dos melhores. Neste ano, pelo que a Prefeitura classificou como “falha humana”, o município ficou sem nota por não enviar os dados. Por outro lado, a implantação do Centro Municipal de Educação Integral (Cemei) é visto como um ponto positivo. Qual a sua nota para a Educação de Campos? Se eleito, pretende dar continuidade ao Cemei?
Cláudio – Eu quero melhorar a qualidade da Educação dessa juventude. Vejo de perto, os currículos que chegam para mim, quando peço para fazerem uma redação simples, uma matemática básica... Peço pelo bom atendimento e andamento do homem, e vejo que muita gente tem dificuldades. Eu fico abestado pelo que vejo. Eu aprendi a escrever na roça e prezo muito por isso. Minha filha e minha esposa são professoras. E aqui em Campos, realmente é uma negação. Pretendo investir bastante na nossa Educação para preparar o nosso professorado, dar condições a ele. Quando eu estudava, tinha que bater na porta, perguntar se podia entrar. Agora a regra parece ser outra. Tenho um cuidado enorme com a Educação e será primordial. Precisa melhorar e a nota da Educação hoje é baixa. O jovem precisa, não só colocar o canudo debaixo do braço, mas saber também sobre a vida. Há uma necessidade de investimento, senão as pessoas vão envelhecer e pouco vão aprender.
Folha – Programas sociais, entre eles o Cheque Cidadão, alvo da operação Chequinho no governo Rosinha, a Passagem Social e o Restaurante Popular foram cortados na gestão Rafael pela queda de arrecadação. Com o atual cenário financeiro, sem nenhuma perspectiva de melhora a curto prazo, é possível planejar a retomada desses programas? No Folha no Ar, você disse que o Restaurante, sim, mas não a Passagem Social e o Cheque Cidadão. Pode explicar por quê?
Cláudio - Tudo é viável. Tem que ter controle. Não é bom, eu e os demais candidatos falarmos: “vou fazer” ou “não vou fazer”. Precisamos chegar lá e conhecer a máquina. Falar “vou fazer” ou “não vão fazer” são promessas vazias que aconteceram em outra época, e vocês não vão ficar satisfeitos. Eu quero dar continuação aos programas sociais, mas precisamos conhecer, primeiro, o conteúdo dos gastos, das despesas, para a gente saber oferecer. Você não pode dar com uma mão e pegar com as duas. Ou dá ou não dá. Se existe este programa bom, que valeu a pena, a população gosta, o trabalhador, é continuar. Procurar os caminhos corretos de fazer esse movimento continuar, seja com o Restaurante Popular ou os demais outros (programas sociais). Mas, você tem que conhecer primeiro todo o perfil da montagem, para você não prometer aqui e faltar lá na frente.
Folha – O transporte público é outro serviço bastante contestado no município. Qual a sua opinião sobre o sistema vigente, o tronco-alimentador? Pretende manter esse modelo? Se sim, quais as alternativas para melhorá-lo? Caso pretenda mudá-lo, como e o que faria? E como encararia a questão do transporte clandestino?
Cláudio - Não se pode transportar o trabalhador como se transporta um saco de batata: pega lá no meio da roça, bota na beira da estrada, leva no primeiro caminhão e deixa lá, que vai ter uma baldeação. Olha só o que estão fazendo com os nossos trabalhadores... Os empresários de ônibus estão sofrendo algumas sanções que não são por culpa deles, são culpa do sistema implantado em nosso município. Não deram valor aos transportes coletivos. Vieram as vans e estão aí nas mesmas situações. Precisa mudar, dar ao transporte coletivo a autenticidade de trabalho; dar ao trabalhador um transporte justo. Precisa mudar isso, porque está caótica a nossa situação.
Folha – Segurança pública é dever do Estado, mas cada vez mais estão sendo traçadas ações conjuntas com os municípios. Em Campos, por exemplo, a mais recente foi a instalação do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp). Atual secretário de Segurança Pública, Darcileu Amaral defende que a Guarda Civil seja armada. Como você avalia essa opinião e a atual política municipal na Segurança? E qual a sua proposta?
Cláudio – A melhor arma para o homem é a língua, com a qual você conversa, você negocia, discute e, muitas das vezes, ela não é articulada. Mas não podemos desarmar, não podemos deixar os policiais desarmados. Tem casos especiais e policiais têm que manter sua integridade, sua dignidade moral, diante da sua autoridade. E a Guarda também, sem dúvida. Respeitando a parte do Estado, a parte do município tem que ter o seu comando com todos os seus predicados. Mas eu sou muito um cidadão da conversa. Precisamos também usar esse instrumento para uma articulação, uma defesa, para uma reivindicação e uma decisão. Nos grandes centros, das grandes autoridades, a língua é um grande instrumento, é uma defesa aos ataques. Mas, claro, que temos que estar alinhado com os instrumentos que uma autoridade requer.

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