Nélio Artiles: Um prêmio de esperança
- Atualizado em 22/10/2020 08:30
Infectologista Nélio Artiles
Infectologista Nélio Artiles / Rodrigo Silveira
Neste mês ficamos cientes dos premiados com o Nobel pelas realizações inovadoras na Física, Química, Medicina e Literatura, assim como o destaque nas ações em prol da Paz mundial. Esta premiação ocorre há 119 anos após Alfred Nobel, um químico milionário sueco, deixar em testamento uma destinação de sua fortuna para laurear aqueles que no ano anterior contribuíssem por algum benefício para humanidade. Apelidado à época de “Mercador da morte” pela invenção da dinamite, tentou compensar de certa forma sua aparente contribuição negativa.
Mas é muito bom viver neste tempo, com o destaque para descobertas científicas impressionantes, como das premiadas de Química Doudna e Charpentier, que demonstraram uma incrível possibilidade na manipulação genética, mexendo com doenças até então sem soluções terapêuticas, como doenças hereditárias e até mesmo predisposições a graves doenças cardíacas. A premiada dupla feminina destacou o uso indevido de sua técnica pelo chinês Jiankui, que recentemente criou os primeiros bebês modificados para resistirem à infecção pelo HIV, alertando pelas questões éticas e bioéticas do procedimento.
Já os doutores Rice, Houghton e Alter fizeram a descoberta do vírus da hepatite C. Desde a década de 40 se conhecia a hepatite A, doença sem maior gravidade. Porém, o vírus B, já na década de 60, foi identificado como causador de quadros mais graves e facilitador do câncer de fígado. A partir de então houve uma busca pela identificação de um novo vírus, reconhecido durante anos como vírus “não A não B”, para que apenas em 1989 os atuais premiados cientistas conseguissem isolar o material genético, denominado então de vírus da hepatite C e, antes tarde do que nunca, serem reconhecidos.
O vírus C se constitui em importante causa de cirrose e câncer do fígado no mundo, com 400 mil mortes anuais, não havendo vacinas para prevenir. Na física, a americana Ghez, o alemão Genzel e o britânico Penrose reforçaram a teoria da relatividade geral de Einstein, chamando mais uma vez para a fragilidade humana em nosso “cisco” planeta terra, quando um enorme buraco negro (com inimagináveis 2,6 milhões de massas solares) nos ronda.
Apesar de sermos tão frágeis, continuamos a maltratar nossos irmãos, em detrimento da busca do poder, promovendo múltiplas agressões na esfera social, política e econômica entre os povos. Mas o vencedor, com justiça, do Nobel da Paz este ano, não foi uma pessoa, mas um Programa Mundial de Alimentos da ONU, que é sediado em Roma e existe desde 1961, distribuindo alimentos nas tragédias da natureza, pandemias e provocadas por conflitos.
E assim, alertas pelo que virá, assistimos aos próximos capítulos de novos e preocupantes tempos, finalizando com a palavra da poeta ensaísta americana Louise Gluck, ganhadora deste ano do Nobel de Literatura, que costuma escrever sobre morte, solidão e relações familiares, em sua obra “Antes da Tempestade”: “Chuva amanhã, mas hoje à noite o céu está claro, as estrelas brilham. Ainda assim, a chuva está chegando, talvez o bastante para submergir as sementes. Tem um vento do mar empurrando as nuvens; antes que você as veja, você sente o vento. Melhor dar uma olhada nos campos, ver como eles são antes que alaguem”.
Louvamos os premiados no Nobel, com a esperança de novos e diferentes tempos, porém despertando nossas fraquezas e potencialidade no caminho para fazer melhor e diferente.

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