Campos entra na fase verde em meio a eventos clandestinos
26/09/2020 08:43 - Atualizado em 26/09/2020 17:01
Polícia dispersou baile funk na Penha em julho
Polícia dispersou baile funk na Penha em julho / Divulgação PM
O Brasil ultrapassou a marca de 140 mil mortes em decorrência da Covid-19. Deste número alarmante de vidas perdidas para um vírus ainda desconhecido e que se dissemina em alta velocidade, Campos, maior município do estado Rio, registrou 371 óbitos até a última sexta-feira (25), de acordo com boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura. Contrariando decretos e indicações das autoridades de saúde para conter a pandemia do novo coronavírus, festas clandestinas estão acontecendo por toda a cidade. O convite é feito em sigilo, como forma de tentar driblar a fiscalização. No entanto, o conteúdo tem sido visto constantemente através de imagens e vídeos publicados em diferentes redes sociais.
Sem distanciamento, com visível lotação máxima e nenhum vestígio de prevenção, campistas contribuem para que o país continue entre os líderes de uma estatística triste e dolorosa.
O município ficou por cerca de três meses na Fase Amarela, Nível 3 do Plano de Retomada das Atividades Econômicas e Sociais. Em novo decreto, publicado na quinta-feira (24), Campos entra, a partir da próxima segunda (28), no Nível 2, caracterizado como Fase Verde, que indica situação de atenção moderada, que vai até o dia 4 de outubro, quando novas projeções são feitas. Contudo, trazendo para o campo do entretenimento e lazer, apenas eventos em formato drive-in estão liberados para esta nova etapa, cumprindo uma série de normas estabelecidas pela Prefeitura.
Entre outras diretrizes publicadas pelo órgão, a música ao vivo em bares e restaurantes da cidade também passa a ser permitida.
Ainda na Fase Amarela, estágio de atenção máxima para o contágio do novo coronavírus, autoridades de Campos admitem que eventos clandestinos estão acontecendo, que a fiscalização tem atuado, mas que seria impossível ter o controle de todo o município, o que acaba dando espaço para irresponsabilidade e a continuidade desses episódios, tendo como consequência o aumento do contágio pela Covid-19.
Em entrevista ao programa Folha no Ar, da rádio Folha FM, no último dia 22, o comandante do 8° Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Luiz Henrique Monteiro, falou do grande número de ocorrências recebidas pela polícia sobre eventos irregulares.
— Temos recebido denúncias e muitos têm sido evitados. Como o volume é muito grande, a polícia militar acaba se antecipando, fazendo contato com os organizadores, de forma que não sejam realizados. Muitos outros são realizados e a polícia vai até o local. É um número muito excessivo — destacou o comandante.
Questionada, a Prefeitura de Campos, através da Secretaria de Segurança Pública, informou que mais de cinco mil fiscalizações já foram realizadas e mais de 400 multas aplicadas no município por descumprimento de regras, desde o decreto 33/2020.
— A fiscalização tem sido intensa, inclusive nos finais de semana, quando denúncias também chegam através dos telefones disponíveis. Campos possui quatro mil quilômetros quadrados de extensão e, muitas vezes, não é possível atender a toda as denúncias no mesmo momento, mas as intervenções vêm sendo realizadas em diferentes pontos do município. Através de denúncias de aglomeração, a equipe já atuou em eventos clandestinos no Km 7, Km 13, Jóquei, Usina São João, Parque Santo Amaro, Rio Paraíba, entre outros, além de eventos, como bailes, partidas de futebol, festivais de pipa, visando proteger a população contra a proliferação da Covid-19”, disse a Prefeitura em nota.
Quatro óbitos registrados entre quinta e sexta
Novo boletim epidemiológico da Prefeitura de Campos, divulgado nessa sexta-feira, trouxe a confirmação de quatro mortes e 105 novos casos de Covid-19 nas 24 horas, entre quinta e sexta. De acordo com a Prefeitura, o município contabiliza 371 óbitos e 5.880 confirmações da doença. Além disso, 16.339 pessoas apresentaram sintomas suspeitos do vírus e são acompanhadas por equipes de saúde.
Até o momento, 4.711 pacientes já se recuperaram da Covid-19 em Campos. De acordo com a Vigilância de Saúde, dos suspeitos, 16.337 casos são caracterizados como síndrome gripal e 102 como síndrome respiratória aguda grave.
A ocupação de leitos hospitalares por pacientes com o vírus é o indicador epidemiológico do coronavírus. Segundo dados divulgados pela Prefeitura, até a última quinta-feira, os leitos de UTI exclusivos destinados para pacientes infectados pela Covid-19 na rede pública, divididos em próprios e contratualizados, estão com 45% de ocupação. Já entre os leitos clínicos, o índice é de 26%.
De forma pioneira, em março, a Prefeitura de Campos implantou o Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCC), localizado no Hospital da Beneficência Portuguesa, para atendimento a pacientes com a doença.
De acordo com o município, a unidade de tratamento ultrapassou a marca de 15 mil atendimentos em menos de seis meses de funcionamento.
Protestos do ramo de eventos
Protesto por retomada de eventos
Protesto por retomada de eventos / Rodrigo Silveira
Um desafio que tem sido grande para gestores de todo o país, os eventos clandestinos reacendem o debate sobre a retomada do setor, que foi o primeiro a parar com o início da pandemia. Na última segunda-feira (21), cerca de 150 trabalhadores do ramo de festas e eventos noturnos de Campos promoveram uma manifestação na Praça do Santíssimo Salvador. Vestidos de preto, ao som do hino nacional, os profissionais soltaram balões em sinal de luto.
No ato, entre as reivindicações, os trabalhadores cobraram da Prefeitura uma data para o funcionamento dos estabelecimentos do setor. Na época, o município esclareceu que a retomada estava sendo estudada, mas que análises epidemiológicas não permitiam a volta total e imediata, e que novas liberações iriam ser publicadas, o que aconteceu na quinta.
Ainda sem permissão e qualquer previsão de retomada, profissionais que atuam com festas particulares ressaltaram durante a manifestação a necessidade do trabalho para o sustento familiar e o risco gerado em bares e restaurantes, que são liberados para funcionamento.
— Precisamos trabalhar para conseguir o essencial, não queremos nada que vá trazer mais riscos do que uma mesa de bar com pessoas bebendo e comendo sem máscara — disse Giovana Viana, de 23 anos, proprietária do Criativa Salão de Festas, que oferece serviço de buffet e decoração.

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