Professora denuncia incêndios criminosos em restinga no Farol
Verônica Nascimento 26/08/2020 18:09 - Atualizado em 26/08/2020 19:54
Queimadas em áreas de proteção
Queimadas em áreas de proteção
A ocorrência de incêndios em áreas de proteção ambiental de Farol de São Thomé foi denunciada pela professora da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e médica veterinária Helena Hokamura, em seu perfil no Facebook. Na postagem, com imagens de fogo em vegetação à margem da RJ 216, na manhã desta quarta-feira (26), ela alerta que “provocar queimadas é crime ambiental”. O Corpo de Bombeiros informou que não foi acionado para o incidente desta manhã, mas o Destacamento de Policiamento Ostensivo da praia campista confirmou a informação da professora de que a restinga do Xexé, na região do Parque Estadual da Lagoa do Açu (Pelag), “vem há dias sendo alvo de incêndios criminosos”. O diretor do Pelag, Heron Costa, garante que os incêndios são intencionais, chegando, nas últimas três semanas, a serem criados de quatro a cinco vezes por dia e já tendo atingido o equivalente a quatro campos de futebol em área remanescente de restinga do estado, dentro da unidade de conservação que, além de Campos, abrange o município de São João da Barra. A Folha aguarda resposta do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) sobre as medidas que estão sendo tomadas.
De acordo com a professora, o fogo está sendo provocado deliberadamente em área de preservação ambiental e equipes de guarda-parque é que vêm atuando no combate aos focos. “Mas quem pensa que esses incêndios não provocam danos, está muito enganado. Afeta não só a flora, mas compromete a fauna. Os animais que ali habitam são vítimas do incêndio e muitas vezes vêm a óbito por queimaduras severas. Sofrem também no (período) pós-queimada, pois ficam sem alimentos e acabam desaparecendo da região”.
Helena pede apoio da comunidade para denunciar a prática. “Como médica veterinária, tenho recebido animais queimados e em grande sofrimento. Com a pandemia em curso, não estamos podendo receber esses animais na Uenf, por estarmos com as atividades suspensas por causa da Covid, o que agrava mais ainda os danos provocados por tais atitudes. Seja consciente! Caso você tenha visto ou saiba quem tem ateado fogo na restinga, denuncie aos órgãos competentes. Ajude-nos a preservar a restinga e os animais que ali habitam”, pede.
A médica veterinária postou, como contato para denúncias, o número (22) 99821-6532, do comando do posto da PM no Farol, que trabalha para levantar informações sobre suspeitos de iniciarem queimadas e provocarem incêndios.
Heron Costo diz que a ação criminosa se tornou corriqueira e que o Pelag conta não com só a própria equipe, como também com o apoio do DPO de Farol e moradores da região para tentar identificar os responsáveis. “Nossa equipe é reduzida e o que temos conseguido fazer é apagar o fogo, às vezes quatro, cinco vezes por dia. Tínhamos registro de incêndios há algum tempo, mas eram direcionados às casuarinas, para aproveitamento da madeira. Agimos com notificações e atuações nesses casos, porque havia um número grande de árvores mortas, que caiam na estrada, sobre carros. Mas a casuarina é uma árvore exótica, que não oferece nada, nem um fruto à fauna local. Agora, estão incendiando vegetação nativa, provocando uma mortandade considerável de animais, entre os mais comuns cachorros do mato, tamanduás e gambás, além de répteis e até anfíbios”.
O diretor do Pelag conta que o fogo é iniciado deliberadamente “Acreditamos que sejam pessoas descontentes com nossa atuação, alguém que foi notificado ou autuado anteriormente, porque os incêndios são iniciados somente na região do Xexé que fica dentro da unidade estadual de conservação, que, além de Campos, abrange São João da Barra. Não é apenas uma área de vegetação nativa, é uma área remanescente de restinga em todo o estado. Costumamos orientar as pessoas, porque podem ocorrer incêndios acidentais e, nestes casos, havendo reincidência, notificamos, pois provocar incêndio em área de preservação é crime. Agora, estamos pedindo o apoio de todos para tentar identificar os responsáveis por esses incêndios criminosos, que serão imediatamente autuados e levados para a delegacia”, concluiu Heron.
Danos - O ambientalista Aristides Soffiati também acredita que se trate de ações criminosas. “Não tinha a extensão dos incêndios nem informações de órgãos oficiais, mas tinha conhecimento de que queimavam casuarinas, árvore que tem folhagem propícia para pegar fogo, para aproveitar a madeira de alguma forma, e que, depois, em um tipo de reprimenda à direção do Pelag ou ao parque estadual em si, que, no desenho, pegou uma área do Xexé, teriam passado a queimar a vegetação nativa, na mata de restinga, na área de preservação. Se assim for, é sinal que o parque está funcionando bem, reprimindo ações incompatíveis com a proteção do ambiente, com a existência do próprio parque. Apesar de termos, no momento, condições ambientais favoráveis à propagação do fogo, como seca e tempestades de ventos tropicais, esses incêndios não são naturais, como os do Serrado brasileiro. São focos dentro do parque e as ações têm o agravante de estarem destruindo, além de uma flora de um ambiente lindíssimo, provando a morte e fuga de animais”, declarou o ambientalista.
Imagens: Amy Costa
Queimadas em áreas de proteção
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