Uma deliciosa crônica de Julieta Vianna (Juju) sobre a "parada de 7 de setembro"
- Atualizado em 29/08/2020 10:12
Julieta Vianna, chamada carinhosamente pelos muitos amigos de Juju, é uma campista que adotou Armação de Búzios.
Colaboradora do blog Dijaojinha, integrado por conterrâneos amantes das letras, Julieta escreveu esta crônica, em 2014, que repasso aqui neste sábado porque vale a pena a leitura do mergulho no tempo feito por ela: 
"Esse ano reparei que o dia da Independência não é mais comemorado como antes.
7 de Setembro passou em branco aqui em Búzios! Não sei se o mesmo ocorreu em outras cidades, mas aqui, nem uma banda escolar, nem desfile cívico com uniforme de gala! Nada.
Tal constatação me trouxe quase viva à memória a emoção que eu sentia, antes, durante e depois do desfile das escolas na "parada de 7 de setembro" em Campos nos anos 60/70.
 Os ensaios da banda no pátio do Instituto de Educação eram, por si só, uma atração à parte. Durante os 7 anos em que lá cursei os cursos Ginasial e Normal, desfilei orgulhosa e feliz, sempre na rabada de um pelotão, pois era a menor e mais magra aluna da classe.
Na verdade, pra mim, o importante mesmo era estar lá. Uniforme lavado e passado com esmero por Nini, sapato Vulcabrás engraxado por papai, luvas e meias bem brancas, passos cuidadosamente sincronizados com as batidas firmes do bumbo e coração ritmado ao som das cornetas tocadas pelos meninos mais lindos de Campos.
Pra nós, meninas, os garotos que integravam a banda se tornavam mais bonitos e atraentes, um charme.
Acordar bem cedo, tomar banho, se perfumar com lavanda Johnson's, se vestir de uniforme impecável e orgulho desmedido e partir rumo à concentração. Era bom demais!!!!
Uma verdadeira festa cívica! Todos na rua com o mesmo objetivo: representar nossa escola com garbo e paixão. Éramos nós a festa!
Nosso alvo principal era a Avenida Alberto Torres repleta de pessoas que se amontoavam nas calçadas para nos ver passar como se fôssemos verdadeiros heróis da pátria. Éramos nossos próprios heróis.
Representávamos nossa escola querida, carregávamos com amor nossa bandeira.
Cumprido o percurso nos dispersávamos e íamos pro jardim do Liceu nos encontrar com os meninos que passavam o resto do ano indo ao Turfe Clube nos esperar na saída do IEC.
Nos coretos, nas escadarias do Liceu e do Fórum, nas ruas de paralelepípedo que cercavam nosso grande encontro, nos misturávamos formando uma multidão cansada, suada, amarrotada, mas feliz, cada um de nós carregando no peito a recompensa da certeza do "dever cumprido". Ali não competíamos. Éramos uma coisa só!
Em 1967, cursando o primeiro ano da Faculdade de Direito de Campos, desfilei representando minha Faculdade, carregando a bandeira azul e branco com o mesmo orgulho de sempre.
Mesmo após passar do palanque onde se encontravam as autoridades locais e os Diretores das Escolas, não perdíamos a pose até que chegássemos próximo à Estação de trem, onde cada um seguia seu destino.
Muito mais tarde, em 1980, quando o Liceu comemorava seu centenário, foi a vez de papai mostrar seu orgulho de ter sido liceísta.
Foi lindo demais ver meu velhinho marchando empertigado, com a seriedade que imprimia em todas as ocasiões importantes de sua longa vida. E lá estava ele, num enorme pelotão de ex-alunos, todos carregando dentro do peito e deixando transparecer em seus rostos envelhecidos, o grande amor que sempre sentiriam pelo LHC.
Agora a banda não precisa mais ensaiar. A concentração já se dispersou, mas lá bem no fundo de nossos corações, no cantinho reservado aos amores verdadeiros, estão nossos eternos desfiles na ´parada" de 7 de Setembro´."

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    Saulo Pessanha

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