A "elite" brasileira e sua alergia à igualdade
09/07/2020 10:55 - Atualizado em 09/07/2020 11:10
João Dória encontra Regina Duarte na Avenida Paulista em varrição midiática. Exemplos de
João Dória encontra Regina Duarte na Avenida Paulista em varrição midiática. Exemplos de "elite rastaquera", como definido pelo historiador Marco Antônio Villa? / Reprodução
O episódio do “Cidadão, não. Engenheiro civil formado e melhor que você" protagonizado por uma mulher que apareceu em uma reportagem do programa dominical da rede Globo, Fantástico, do último domingo (5), discutindo com um fiscal da Prefeitura do Rio durante uma inspeção na região da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, mostra o típico orgulho de uma certa “elite” brasileira da sua ignorância, mediocridade e porque não, burrice.
Pessoas que se entendem como elite por ter formação superior, por ter um carro ou mesmo uma casa própria. Uma certa "elite" que se sente privilegiada por viver em um país de desigualdade pornográfica, onde qualquer bem material de valor um pouco mais elevado pode levar ilusões à uma classe média de baixíssima cultura, pouca leitura, educação limitada e visão de mundo atrasada.
Cidadão, não, engenheiro civil, melhor que você, foi a frase dita mulher que foi filmada. Após a tentativa de diminuir o fiscal da prefeitura, a mulher foi demitida nesta segunda-feira (6). A empresa afirma não compactuar com desrespeito a normas sanitárias.
Cidadão, não, engenheiro civil, melhor que você, foi a frase dita mulher que foi filmada. Após a tentativa de diminuir o fiscal da prefeitura, a mulher foi demitida nesta segunda-feira (6). A empresa afirma não compactuar com desrespeito a normas sanitárias. / Reprodução
 
 
É preciso reconhecer que para esses brasileiros obedecer a lei, a ordem, as regras e contratos sociais são sinais de submissão, subordinação. Descumprir regras é legal, significa ser superior, esperto. “Elite”.
Mas, em verdade, significa justamente o contrário. Obedecer regras de convívio e ser regido por um ordenamento jurídico sólido significa democracia, desenvolvimento social. Evolução da espécie.
O que esperar de uma sociedade assim? Como admitir que evoluímos, que vencemos a escravidão, que superamos nosso “complexo de vira-latas”?
Atualmente todo negacionismo, falta de conhecimento dos brasileiros de sua própria história, uma aceitação criminosa de uma brutal desigualdade, ampliação de preconceito racial, de gênero, de condição social, nos leva ao descrédito de uma evolução social. Talvez seja mesmo um problema cultural que nos impede de desenvolver nossa democracia.
Talvez a polarização política idiota seja alimentada não por preconceito ideológico, de esquerda X direita. Talvez seja por burrice e mediocridade mesmo. Características principais de quem diz “sabe com que está falando” ou “sou filho de alguma autoridade” ou mesmo “sou melhor que você”.

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    Edmundo Siqueira

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