'A luta tem que ser de todos, independente da ideologia', diz criador do Campos pela Democracia
10/06/2020 08:47 - Atualizado em 30/07/2020 18:16
Criador do grupo virtual "Campos pela Democracia", o estudante Ricardo Manhães foi o entrevistado desta quarta-feira (10) na primeira edição do Folha no Ar, da Folha FM 98,3, onde falou, entre outros temas, sobre a iniciativa. Crítico ao que trata como "flerte com o fascismo" do governo Jair Bolsonaro e às medidas tomadas pelo Governo Federal no combate à pandemia do novo coronavírus, ele criou o grupo visando idealizar estratégias e implementar ações junto a amigos, mas se surpreendeu com a alta adesão. Em quatro dias, já são 950 membros.
— A princípio, não temos intenção de apoiar nenhum partido político específico. A gente acredita nessa questão da agregação. Há no grupo diferentes pessoas, que apoiam diferentes tipos de projetos políticos em relação às eleições presidenciais e a nível local também. Não diria que tem cunho ideológico. A gente quer agregar conhecimento e a luta pela democracia, basicamente. A luta pela democracia tem que ser de todos, independentemente da ideologia que a pessoa possui. Se ela é a favor da democracia, ela é bem-vinda — afirmou Ricardo.
Um dos objetivos do criador do "Campos pela Democracia" é que o grupo vá além dos debates na internet.
— A partir disso, vamos criar ações que sejam implementadas na nossa rotina, fisicamente, não só nas redes sociais. O grupo não é financiado; parte de um cidadão, eu. É um anseio por uma transformação da sociedade como um todo a partir da política, e que visa a democracia como um todo, equilibrando os poderes, de forma que todo mundo possa se manifestar da maneira que quiser, livremente, desde que não ofenda a dignidade do outro — detalhou o estudante. — A gente tem diversos tipos de pessoas, de diferentes idades, etnias, orientações sexuais, diversos grupos. Nosso objetivo comum é lutar pela democracia, fazer com que todo mundo seja unido. É fazer com que haja, de fato, uma transformação. O objetivo principal é esse. Tem uma ala jovem muito forte, mas também uma ala que já lutou muito, durante muitos anos nesse Brasil. Todos são muitos bem-vindos para agregar — pontuou.
Embora não tenha participado, Ricardo Manhães manifestou apoio aos dois protestos antirracistas realizados no Centro de Campos. O de sexta-feira (05), composto por aproximadamente 15 estudantes, ganhou divulgação na mídia após a intervenção de policiais militares usando bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para dispersar os manifestantes. Já o da tarde desta quarta (10), convocado pelo Movimento Unificado de Negros e Negras de Campos dos Goytacazes, teve maior adesão devido ao apoio de outros 36 grupos e instituições. Não houve interferência policial. Os manifestantes usaram máscara e respeitaram distanciamento entre si.
— A gente vive um momento muito perigoso, especialmente a vida do pobre, que, analisando o panorama inteiro, vai ser e está sendo o mais prejudicado com essa pandemia inteira, até pelo acesso aos serviços. É um momento difícil. Mas, entendo que a manifestação é importantíssima. Se não nos manifestarmos, vamos estar dando espaço para essa cultura racista. É necessário não só não apoiar o racismo, não ser racista, mas ser antirracista — opinou Ricardo Manhães. — Quando a gente fala que vidas negras importam, não é que as outras vidas não importam. É porque a vida negra, nesse contexto, está sendo muito mais ameaçada, exatamente por serem negros — disse em outro ponto da entrevista.
No Folha no Ar, o estudante listou sinais que identifica como de um "flerte com o fascismo" do governo Jair Bolsonaro, entre eles o "culto à violência, ameaças entre os poderes democráticos, convite à luta armada, ataques à imprensa, menção a ameaças ao Estado e exaltação exacerbada à pátria e a religião".
— Embora várias coisas pontuais tenham acontecido, a gente não precisa que alguma coisa de forte impacto aconteça para perceber que está acontecendo. Por isso eu digo sinais, indícios do que está acontecendo (um possível flerte com o fascismo) — declarou Ricardo.
Foi comentada ainda a interferência das redes sociais nos processos eleitorais recentes, incluindo as fake news, e a utilização das próprias redes como forma de engajamento em manifestações.
— Esse poder (das redes sociais), embora grande, não é ilimitado. É papel nosso saber como utilizar, e papel da justiça, também, saber como modular isso aí. A rede social tem um papel muito importante e é essencial, porque a informação precisa chegar para todo mundo. Mas, quanto de informação verdadeira, verificada, está chegando? — questionou Ricardo.
Na opinião do estudante, a bolha virtual foi e continua sendo usada pelos bolsonaristas como objeto de desconstrução da realidade.
— É um movimento que vence, está vencendo no momento ou venceu em 2018 com base na desconstrução do que foi feito até então, não em construir uma base que busque, de fato, aprimorar a democracia — enfatizou.
Confira a entrevista completa:
 
 
 

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