Marcelo Sampaio e Jorginho Virgílio dizem que truculência não pode virar regra em manifestações
09/06/2020 07:59 - Atualizado em 30/07/2020 18:16
Após terem repudiado publicamente a utilização de gás lacrimogêneo e spray de pimenta pela Polícia Militar de Campos para dispersar um ato antirracista pacífico diante do Pelourinho, na última sexta-feira (05), o presidente do Conselho Municipal de Cultura (Comcultura), Marcelo Sampaio, e o vereador Jorginho Virgílio (DC) reforçaram na primeira edição desta terça (09) do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, a opinião em comum de que ações truculentas não podem virar regra.
— Temos o compromisso de não deixar que isso aconteça e se torne habitual — afirmou Marcelo Sampaio. — Acho que as forças de segurança têm que ser mais de contenção e menos de agressão. Acho que elas só têm que ir para métodos como spray de pimenta, bombas de gás lacrimogêneo e, não houve aqui em Campos, mas, tiros de balas de borracha, em último do último dos casos. Lá, eram poucas pessoas, apesar da ideia do protesto contra o racismo ser muito pertinente. E a Polícia Militar tinha que estar ali não só garantindo, como também apoiando, porque, enquanto instituição, ela tem que apoiar o que é bom para a maioria da população. Aquilo foi um ato inadmissível. E logo no Pelourinho — lamentou em outro trecho da entrevista o presidente do Comcultura, enfatizando o monumento como símbolo do passado de escravidão dos negros na cidade.
Incluindo a manifestação de sexta-feira no contexto das que acontecem mundo afora desde a morte do cidadão negro George Floyd, nos Estados Unidos, em 25 de maio, o vereador Jorginho Virgílio citou ter havido desproporcionalidade em relação a protestos anteriores ocorridos em Campos com caráter político.
— Havia, salvo engano, no máximo 14, 15 pessoas, devidamente de máscara, com álcool em gel e distanciamento social. Ao ver essa desproporcionalidade na atitude dos policiais que estavam naquele evento, lançando gás lacrimogêneo e spray de pimenta numa manifestação de 15 pessoas, a gente passa a imaginar que tem alguma coisa estranha. Porque estão havendo outros tipos de manifestações, como pró-Bolsonaro, contra Bolsonaro e outras, e a gente não viu, em hora alguma, com muito mais pessoas, a Polícia Militar agindo de forma truculenta — ressaltou o vereador.
Também foi abordada pelos entrevistados a nova manifestação antirracista que está sendo planejada para ocorrer nesta quarta-feira (10).
— Com a repercussão negativa do que aconteceu sexta-feira passada, eu acho, acredito, de verdade, que os policiais militares vão estar mais preparados, menos bélicos. Essa manifestação é muito pertinente. Lutar pela igualdade racial, pela não tortura, não discriminação das mulheres nem discriminação homofóbica, deveriam ser lutas de todos. Quem luta contra (isso) é que está equivocado. Na minha opinião, o que não pode acontecer são lutas a favor do racismo, a favor da homofobia, a favor da tortura— afirmou Marcelo Sampaio. — Que todos os manifestantes que forem lá respeitem as orientações sanitárias, máscaras, gel, sem aglomeração. Se tiver mais gente, (que haja) um espaçamento maior. Acho que temos que fazer a nossa parte, e que a Polícia Militar faça a dela da forma mais equilibrada possível — pontuou o presidente do Comcultura.
Para o vereador Jorginho Virgílio, haverá nesta quarta maior adesão de defensores da luta antirracista. “O povo brasileiro é um povo aguerrido e, mesmo das adversidades, não se cala. Acho que vai ser uma manifestação muito maior do que a última, onde houve esse ato truculento. Todas as entidades que defendem o fim do racismo vão se unir e, com certeza, fazer um ato pacífico, ordeiro, que vai ficar marcado para a história do nosso município. É isso que eu espero", salientou o vereador.
Posicionamento — Ouvido desde sexta-feira pelo blog Opiniões, do jornalista Aluysio Abreu Barbosa, o comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar de Campos, tenente-coronel Luiz Henrique Barbosa, deu sua versão sobre a ação de sexta-feira:
— Está proibido a aglomeração neste período de pandemia, e não obedeceram a orientação da PM. Por isso, tivemos que fazer o uso progressivo da força com emprego de armamento não letal.
Indagado por que a mesma atitude de força não foi adotada em manifestações de grupos bolsonaristas na cidade, o oficial da PM discordou: “Discordo, inclusive efetuamos prisões nos últimos atos".
Sobre o fato de gás lacrimogêneo não ter sido adotado em manifestações de direita, o comandante justificou: "São procedimentos operacionais de quem está na ponta no cenário das operações".

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