Um dia comum em 2017
Um dia comum, em 2017.
— Olha aqui, esse negócio de Estado foi criado para atrapalhar a gente mesmo. Todo dia você acorda de manhã e está lá aquele moço do ‘Bom Dia Rio’ falar que a prefeitura fez isso, que o governador fez aquilo...
— Você está querendo dizer que o Fachel só fala mal dos políticos? O que isso tem a ver com o tamanho do Estado?
—Esse moço aí mesmo. Mas não é culpa dele, coitado. As notícias que são ruins mesmo. A política é podre. Por isso que eu queria que o governo fosse menor. Tá inchado, né?
A discussão seguiu no café da manhã, na família de Seu Eraldo. A esposa tentava contornar a situação, mas Seu Eraldo estava revoltado. Naquele mês de Julho, o Moro tinha condenado Lula à prisão. Parecia que uma onda de direita estava tomando corpo no Brasil. Parecia que a esquerda era inimiga.
Depois da eleição de um tipo topetudo lá nos EUA, empossado em janeiro do mesmo ano, a coisa fervia. “Ano que vem tem eleições aqui. Aí eu quero ver! Tá na hora de tirar a esquerda do poder!”
Temer já estava no poder e Levy, economista ortodoxo com doutorado pela Universidade de Chicago — considerado centro do pensamento liberal —já tinha sido ministro da Fazenda de Dilma. Os bancos nunca lucraram tanto com PT. Mas a ideia fixa era de que o PT era comunista e que o partido resumia o pensamento progressista brasileiro. Não sei bem o porquê.
—Pára com isso, mulher! Vai me dizer que você não é petista?
—Você sabe que nunca votei no PT. Já te falei, lá naquele churrasco no sítio.
—Então quer que a direita ganhe?
—Não sei, ainda. Mas quem é representante dessa direita que você está falando? Alckmin?
—Tá doida?! Aquilo é comunista. Capaz de ser fundador do Foro de São Paulo, junto com o seu Lula.
—Já te falei! Não gosto do PT.
—Você está confusa. Eu, cresci na vida, coloquei nosso mercado aí na praça vendendo pra caramba. Não dependi do Estado para nada. Tomava dois ônibus para vir trabalhar, pagava com aquele bilhete da prefeitura na época. Quando adoeci, algum vereador aqui me ajudou? Pastor Silva que me deu uma mão. Mas, tive que ir pro SUS. E o mercado quase fechou. Venci pelos meus méritos. Sem esse mimimi de desigualdade. Quem trabalha, cresce. Faculdade pública aí gastando milhões em prédio ali na Beira Rio e nós aqui tendo que ralar. Temos que tirar esses comunistas do poder. Tô gostando de um aí, um tal de Bolsonaro.
—Aquele da Luciana Gimenez? E eu que estou confusa....
—Cara bom.
—Melhor pararmos por aqui. Faz o seguinte: vota no Dória então, melhor. Ele deve vir como presidente.
—Tá bom, tá bom. Você não sabe o que é direita. Chega. Vou trabalhar. Júnior já foi para a Uenf?

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    Edmundo Siqueira

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