José Eduardo Pessanha: Bem-vindos ao inferno
05/06/2020 11:37 - Atualizado em 17/06/2020 18:03
José Eduardo é advogado e professor universitário
José Eduardo é advogado e professor universitário
Quando iniciamos o famigerado ano de 2020, apesar das agruras passadas em um 2019 que queríamos esquecer, nem de longe poderíamos imaginar todas as facetas danosas de um ano ímpar — pelo lado mal da coisa —, um verdadeiro ano de hecatombes, que como lecionam os bons dicionários, sugere massacres; mortandade e/ou carnificina. Lamentavelmente é o que ocorre! As facetas débeis do Governo Federal recrudesceram e o que eram apenas bravatas passaram ao campo da materialização, onde sentimentos há muito adormecidos — medo de perseguição; anormalidade democrática; ditadura; perseguição; violência homofóbica; intolerância e prepotência — emergem como monstros noturnos.
Este ano, com certeza, demorará muito ainda a passar, visto que estamos apenas em junho de 2020, faltando vagaroso meio ano para cruzarmos este fatídico intervalo anual. A propalada filmagem da “reunião ministerial”, mais parecida com as reuniões da “cosa nostra”, dignas da saga “O Poderoso Chefão”, onde debates que, invariavelmente invadiam o campo da segurança alheia eram destilados entre basófias, achincalhes e ofensas, temperou os absurdos inimagináveis. “A vida imitando a arte”! Como esquecer um Ministro do “Meio Ambiente” instigar a pandemia como momento de modificar normas legais, afastando-as da análise judicial, usando termos chulos, como “fazer uma baciada” ou “passar a boiada”, sugerindo procedimentos nebulosos e práticas de interesses duvidosos, culminando por afirmar que “não precisamos de Congresso”. Somente em um lugar onde as premissas básicas inerentes aos Chefes de Estado encontram-se submersas em lodaçal pode-se imaginar tal diálogo.
Mas o ano continua: a pandemia destrói a esmo, ante a inércia dos governantes, que, mesmo gastando milhões, sequer conseguem manter acanhados e provisórios hospitais de campanha. A soberba, atrelada a ganância, direcionando os operadores governamentais, induzem à formação de quadrilhas, ao revés de salvar vidas. Entre os fatos que ainda trarão novidades, temos as Eleições Municipais-2000, cujas datas — antes seriam em outubro — sequer temos mais certeza. É provável que sejam adiadas... quem sabe... afinal, neste momento, apesar dos políticos imaginarem seu mundo eleitoral como algo fundamental, certamente não é o que nos importa mais neste momento. Agora, até Convenções Partidárias virtuais foram autorizadas pelo TSE. Quem sabe o que ocorrerá?
Para culminar, mais uma péssima notícia no cenário nacional: depois de uma investigação privada, usando a Lei de Acesso a Informação, veio à tona que quase 84 milhões do Programa Bolsa Família foram “realocados” para propaganda de campanhas publicitárias federais. Uma pena, pois se falta dinheiro para a Saúde, certamente não falta para as peças publicitárias pró-governo. Em verdade, são inúmeras, dezenas, quiçá centenas de ações danosas que somente nos envergonham e fazem desacreditar da validade da existência desta, ainda chamada, “raça humana”. Bem-vindos ao inferno!

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