Saga dos serviços não essenciais em tempo de pandemia
Ícaro Abreu Barbosa 23/05/2020 09:10 - Atualizado em 03/06/2020 18:16
Casa noturna na Pelinca até tentou manter delivery com lanches, mas parou atividade
Casa noturna na Pelinca até tentou manter delivery com lanches, mas parou atividade / Genilson Pessanha
A Covid-19 chegou, está deixando marcas duradouras e como alertou o historiador israelense Noah Youval Harari, em um artigo escrito enquanto o vírus deixava seu rastro de morte na Itália, “ele (o novo coronavírus) moldará não apenas nosso sistema de saúde, mas também nossa política, economia e cultura”. A afirmação de Harari se torna uma triste verdade no Brasil, inclusive em Campos. Empresários dos ramos não essenciais, como bares, clubes e restaurantes, estão sendo obrigados a despedir funcionários, inovar nos atendimentos delivery e investir na publicidade.
Comerciantes, entretanto, como Marcelo Oliveira, proprietário do Palace Hotel, se queixa da falta de respeito em alguns bairros e distritos da cidade, onde, segundo ele, a quarentena e o lockdown não causaram paralisação de nenhum botequim ou bar, devido à falta de fiscalização; diferente dos estabelecimentos da Liga Gastronômica (restaurantes da área central e da Pelinca), que seguem todas determinações governamentais.
Indagado sobre a situação do hotel e do restaurante, Marcelo conta: “No meu caso ainda consigo trabalhar internamente para atender os hóspedes e fazendo delivery, mesmo assim, a situação está insustentável; crítica para todos, quase sem receita para cobrir os custos”.
Ele teve de inovar com o sistema delivery e a criação de um novo cardápio. Marcelo iniciou a entrega de produtos para tentar contornar as restrições e confessou: “foi algo fora do comum.”
Pery Ribeiro, dono do tradicional Picadilly Bar, diz que tenta se adaptar à nova realidade através do serviço delivery, principalmente, pelo “carro-chefe” do estabelecimento ser a pizza. Isso não o impede de reforçar as mídias sociais para buscar um contato mais direto com os clientes.
— O que vem por aí é uma grande interrogação. Mas como já estamos há 30 anos no mercado, passamos por várias crises, embora nenhuma tenha tido essa proporção. Sabemos que nada será fácil, mas não deixamos nosso lado otimista se perder — contou Pery.
Eleonora Parente, responsável pelo Amin Botequim, vê como saída a inovação em pratos executivos variados e de qualidade: “Com certeza os alimentos são os mais vendidos aqui no Amin, cerca de 99% dos pedidos. Nós estamos conseguindo passar por esta crise e temos fé num futuro melhor”.
Casas noturnas — Se restaurantes têm dificuldades, casas de show na cidade passam por problemas até maiores. Tendo a renda principal relacionada ao consumo de bebidas e ingressos, diretamente ligados à aglomeração de pessoas, com o lockdown resta apenas a inovação para tentarem se manter de pé.
Vendas de vouchers, cartões de sócios, vaquinhas online e ingressos para futuros eventos, bem como maior divulgação através de lives, são algumas das atitudes tomadas por casas noturnas como o Saturnália, clube de eventos na Pelinca, que mesmo tendo adotado um sistema de delivery de lanches já comercializados no estabelecimento só conseguia uma receita de 1/5 em comparação ao faturamento anterior à quarentena. Diante do aumento de casos na planície, mesmo não sendo impedidos, mas pensando na saúde dos funcionários e clientes, o estabelecimento encerrou temporariamente o sistema de entrega de lanches.
— Dessa forma, temos que ser realistas, e deixar claro que estamos próximos de ter que fechar as portas e acabar não conseguindo voltar a funcionar após a pandemia. No momento, estamos tentando trabalhar dia após dia, não existe muita possibilidade de vislumbrar um futuro — explica Gabriel Junqueira, dono do clube, pedindo maior compreensão por parte dos credores.
O mesmo problema ocorre na casa de shows Varanda Amarela, administrada por Fer Borges, que contou: “Está bem complicado, bem caótico. Tivemos que fazer renegociações, demissões e mesmo assim, mensalmente, é gerada uma enorme dívida relacionada a contas básicas da casa. Nossa principal fonte de renda eram os eventos na parte noturna”.
Corte na folha para sobrevivência
Em meio à crise não há quem escape. Para desgosto dos donos dos estabelecimentos, cortes têm que ser feitos para que a sobrevivência — do clube, restaurante ou bar — seja mantida.
Fer Borges, responsável pela Varanda Amarela conta: “Tivemos que cortar dois funcionários e ainda temos oito ativos. Um total de 60 pessoas trabalham e recebem renda do projeto principal, o Varanda Amarela. Nossas reservas já acabaram e tentamos criar ações. O delivery é o nosso foco principal no momento para tentar sobreviver à pandemia, além de acordos particulares e coletivos feitos com os funcionários”.
Peri Ribeiro diz ter cortado sete funcionários por conta da pandemia; Gabriel Junqueira cortou 50% dos funcionários, mas destacou que muitos eram “freelancers”. “Não era o ideal, mas foi necessário.
Dos entrevistados, quem ainda escapa do corte de funcionários é Marcelo Oliveira:
— Estamos trabalhando com 20% do pessoal, e os 80% divido entre férias, férias antecipadas, suspensão de contratos e compensação de horas de trabalho — explicou o empresário, ressaltando: “Em vista da pandemia não ter prazo para terminar, é inevitável que as demissões venham a ocorrer; o que será lamentável”.
A exceção, ao que parece, é o Amin, de acordo com Eleonora Parente, nenhum dos colaboradores foi demitido. Houve até aumento da carga horária de trabalho devido ao foco nos pratos de almoço.

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