Uma divertida história envolvendo Osório Peixoto, Elmar Martins e Alair Ferreira
- Atualizado em 25/05/2020 07:39
Ano -1970. O jornalista Osório Peixoto, socialista, acossado por violenta crise financeira, vira a noite fazendo um livro de cordel para Alair Ferreira, líder da Arena no Estado do Rio de Janeiro.
No dia seguinte, Osório vai ao escritório do deputado, na rua 13 de Maio, e apresenta-lhe o cordel de sua vida política. Alair lê, atento, e pergunta:
— Quanto vou pagar por isto?
— Não sei, o senhor é quem faz o preço. Se eu pedir, peço muito pouco. E tem mais! O cordel deve sair com o pseudônimo de Zé de Campos — recomenda Osório.
Alair concorda com o pedido. Quanto pagou pelo livro não se sabe, mas o jornalista e poeta assegurou pelo menos três meses de comida, água, luz e outras coisas.
Como tudo não são flores na vida de um poeta, Osório, dias depois, encontra-se com o advogado Elmar Martins. Com um sorriso sarcástico, Elmar dispara:
— Descobrimos o Zé de Campos, essa pessoa que, de vez em quando, goza alguém na cidade!
— De que maneira descobriram o tal sujeito? Quem é? — pergunta Osório, aflito.
Elmar estende ao poeta um livro branco, miudinho, com o título “O Deputado da Gente”. A princípio, Osório não entende nada, mas Elmar pede que dê uma olhada mais atenta no livro.
Na segunda página, em destaque, está lá:
“Obrigado, Osório Peixoto! Somente você, com sua inteligência e sensibilidade, poderia escrever tão bem sobre minha vida. Muito obrigado! Alair Ferreira”.
Osório, atônito, sai em direção à rodoviária, onde pega um ônibus com destino a Atafona. E se enfurna ali por 15 dias para passar a ressaca moral com o fato das pessoas tomarem conhecimento de que ele, crítico da ditadura, produzira um livro para um deputado da Arena.
Sorte de Osório que o período era de inverno e havia pouca gente na praia.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Saulo Pessanha

    [email protected]