Luiz Argenta, uma das mais belas vinícolas do mundo
COLUNA DE VINHOS
Por JOÃO RICARDO RODRIGUES
Hoje em nosso artigo iremos falar sobre uma técnica utilizada em algumas regiões do norte da Itália desde o século IV D.C., essa técnica se chama appassimento e tem a finalidade de obter maior concentração de aromas, sabores e açúcares nas uvas colhidas.
Para realizar o appassimento os cachos de uvas colhidos são deixados para secar durante os meses de inverno, ocasionando uma desidratação onde a uva chega a perder de 30% a 40% de seu volume líquido pela evaporação da água.
Após o processo de desidratação as uvas são utilizadas para elaborar um vinho tinto potente, encorpado, alcoólico e muito rico em aromas e sabores de cerejas, groselhas, chocolate e especiarias, com grande potencial evolutivo e elegância.
Sendo que o vinho mais icônico desse gênero vem da região do Vêneto, no norte da Itália onde possui uma DOCG (Denominazione di Origine Cotrollata e Garantita) e possui nome e sobrenome os Amarone della Valpolicella.
 
O Amarone muitas vezes traz aromas que lembram um Porto ou Madeira, mas na boca, é seco, tânico e complexo.
 
É um vinho encorpado para acompanhar carnes vermelhas grelhadas ou assadas, carnes de caça e queijos de sabor forte, como parmesão. Famoso como um “vinho para meditação”, é também uma ótima bebida para depois do jantar.
 
Curiosidade: Conforme histórias populares da região credita-se ao acaso o uso do appassimento para a criação de vinhos secos. Em algum momento da primeira metade do século 20, um barril de Recioto della Valpolicella (vinho passificado doce) teria sido esquecido, e as leveduras teriam transformado todo o açúcar em álcool, gerando um caldo seco, e bastante alcoólico.
 
A partir da década de 90 muitos brasileiros foram estudar enologia na Itália e foram para as regiões de origem de suas famílias, entre elas o Vêneto casa do Amarone, e ao retornarem trouxeram o conhecimento das técnicas do appassimento para a elaboração de grandes vinhos tintos com estilo singular.
 
A Vinícola
 
Localizada em Flores da Cunha na Região da Serra Gaúcha a história da Luiz Argenta começa em 1999 quando os irmãos Deunir e Neco, filhos de Luiz Argenta, adquiriram a propriedade da antiga Granja União, onde foram plantadas as uvas viníferas que deram origem aos primeiros varietais de vinhos finos do Brasil, desde 1929 e também funcionava como uma estação de aperfeiçoamento das videiras. A vinícola empregava mais de 300 pessoas e processava 3 milhões de quilos de uva por ano.
 
Com um projeto inovador e moderno, toda a estrutura da vinícola Luiz Argenta ficou pronta em 2009. Devido a sua arquitetura diferenciada, a vinícola já recebeu o título de uma das mais belas Vinícolas do Mundo, segundo a Revista Adega.
Hoje, Deunir, com a filha, Daiane Argenta, se dedica a esse projeto que carrega o nome, a personalidade e a paixão pelo vinho da família Argenta. Tendo como enólogo o conceituado Edegar Scor tegagna, os vinhos e espumantes da Luiz Argenta são referência em todo Brasil e estão sempre em destaque em importantes premiações.
 
Logo na chegada à vinícola, temos uma vista privilegiada para os vinhedos, dispostos de 750 a 800 metros de altitude, o interior da vinícola também impressiona, possui uma cave cênica construída a 12 metros de profundidade na rocha basáltica, a temperatura no local é constante e natural: em média 17ºC, na cave foram construídas circunferências no teto, para que a acústica chegue em todos os cantos, o som é amplificado, a voz sai como se estivesse em um alto-falante gerando um eco, por isso chamada de cênica.
A cantina foi projetada para que todo o processo de vinificação utilizasse a gravidade e conta com modernos equipamentos de vinificação.
 
A vinícola possui cerca de 140 hectares de área total, com 55 hectares de vinhedos próprios onde são cultivadas 17 variedades de uvas que estão divididos em 39 quadras, nomeadas com nomes de artistas brasileiros.
 
Outro ponto de destaque que diferencia a Vinícola Luiz Argenta, são as suas belas garrafas com design italiano importadas de Milão que agregam charme e valor aos vinhos.
 
 
Casarão histórico de 1931, wine bar e sala de degustação.
 
A Vinícola oferece serviço de tour guiada, restaurante, wine bar, degustações e uma boutique com todos os produtos produzidos.
 
O Vinho
 
Luiz Argenta Cave Merlot Uvas Desidratadas, safra 2011
Um pouco da história, o enólogo Edegar Scortegagna acreditava que a Merlot poderia ser utilizada na técnica do appassimento por não ser uma uva de maturação tardia nem prematura, ter bagos espaçados no cacho e a casca não ser muito fina, possibilitando a secagem das frutas sem que se rompessem ou fossem atacadas por fungos, para fazer o processo de desidratação são selecionados 1500 quilos de uvas que são dispostos em telas organizadas no sótão do Casarão de 1931 existente na propriedade, permanecendo ali por 43 dias.
 
Cor, Rubi intenso, brilhante, com halos violáceos;
Aromas, muito profundo e complexo, com fruta vermelha maduras, ervas, lavanda e café;
Em boca, é intenso, tem estrutura, deliciosa acidez, os taninos se destacam no primeiro ataque, mas se integram com elegância, mastigável, com retrogosto exuberante e persistente.
Com certeza um dos melhores vinhos elaborados no Brasil, mostrando a qualidade e a capacidade técnica e de inovação das vinícolas brasileira. Um verdadeiro vinho de meditação, para ser apreciado sem prssa aproveitando cada gole.
 
Outras informações: Colheita manual das uvas - Seleção das uvas e bagas - Desidratação das uvas naturalmente por 43 dias - Vinificação por gravidade - Maceração por aproximadamente 15 dias com temperatura controlada a 26ºC. - Fermentação Malolática - Maturação em barricas de carvalho francês por 36 meses - Maturação na cave por 1 ano em garrafa com temperatura e umidade controladas.

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    Nino Bellieny

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