Infectologista projeta explosão de casos de Covid-19 e analisa Campos
Aluysio Abreu Barbosa 01/04/2020 07:54 - Atualizado em 12/04/2020 10:07
"Estava lendo o estudo do Imperial College de Londres (que projetou para o Brasil um mínimo de 44 mil mortos pela pandemia da Covid-19), que são os maiores especialistas da área. Certamente vamos ter um aumento do número de casos importante nas próximas semanas. E, do meio ao final de abril, uma explosão. E aí a gente trabalha a cada duas, três semanas. O que a gente pode afirmar hoje, categoricamente, é: o número de casos vai subir muito e até o final do mês nós estaremos na aceleração máxima do crescimento. Quanto tempo isso vai durar? Não dá para dar certeza, mas certamente não será algo rápido. A gente deve ter esse período de exceção, no mínimo mais um mês, 45 dias. Na melhor das hipóteses, daqui a 45 dias as coisas poderiam começar a diminuir e a gente ir afrouxando alguma medida. Certamente, o ano de 2020 não será um ano normal".
Foi o que esclareceu ao programa Folha no Ar da manhã de dessa quarta-feira (1º), na Folha FM 98,3, o médico infectologista Rodrigo Carneiro. Servidor da Saúde Pública de Campos, no Hospital Geral de Guarus (HGG) e do São José do Avaí, em Itaperuna. Apesar da gravidade do quadro partir de meados de mês de abril e com perspectiva de diminuição talvez só a partir de junho, ele acredita que Campos esteja se preparando bem para enfrentar a crise, com a instalação do Centro de Controle e Combate ao Coronavírus, no prédio novo da Beneficência Portuguesa, que entrou em atividade em 30 de março. Assim como o hospital estadual de campanha, que o Governo do Estado promete entregar no final do mês:
A gente está próximo do segundo centro maior centro do Brasil, em número de casos e vamos pegar a rebarba disso, certamente. Teremos muitos casos em Campos. Eu vejo como muito boa a ideia da abertura da Beneficência. A gente tinha que ter um Centro de Controle. Vai ser essencial, assim como o hospital de campanha. Na minha opinião, Campos vai estar adequadamente servida para atender os pacientes que precisem de hospital. O que a gente vai ter que melhorar é a parte primária, na parte de orientação disse o médico infectologista.
Rodrigo Carneiro esclareceu também outros pontos sobre o novo coronavírus:
Sintomas comuns A falta de olfato e paladar geralmente vem com a fase de melhora da condição respiratória. Com o aumento de caso e uma mostra maior, a gente está vendo que a febre não está sempre presente. A maioria começa com mal estar, dores pelo corpo, dor de cabeça, febre e, aí, os sintomas respiratórios, nas primeiras 24 horas. A maioria dos casos são oligossintomáticos (poucos sintomas) ou até assintomáticos.
Contaminação As pessoas perguntam sobre a quarentena. Por que ficar 14 dias? Foi visto nos pacientes chineses que os infectados podem eliminar o vírus por até 14 dias, no quadro leve. Os que ficam internados e necessitam de UTI, podem eliminar o vírus por até 21 dias. Isso é importantíssimo. Porque eu tenho que ter rigor com as medidas de prevenção do profissional de saúde por um período ainda maior. A gente vai ter que estar com a paramentação adequada para atendê-los.
Sequelas Nos casos leves, o paciente não fica com nenhuma sequela. Nos graves, há sequelas pulmonares. Mas há inclusive manifestações não respiratórias, inflamações de pericardite, na membrana que envolve o coração e não é tão raro; encefalite, com quadros que lembram a meningite bacteriana; insuficiência renal. Não são os mais comuns, mas também são descritos. Mas eles podem aparecer normalmente naqueles indivíduos propensos a casos mais graves, que são os idosos e os imunocomprometidos.
Drama e apelo Esses indivíduos propensos a problemas respiratórios são aqueles que precisam de ventilação mecânica durante muito tempo. E o que os intensivistas (médicos de UTI) passam é que são pacientes de você conseguir oxigenar o sangue, o pulmão fica todo inflamado. As medidas têm que ser o que a gente chama de heroicas. Você aumenta muito a pressão no ventilador para empurrar o oxigênio para o paciente e mesmo assim ele não oxigena. São quadros bastante complexos. Idosos, principalmente, não saiam de casa. Para quem tem pai, mãe e avós, cuide, deixe lá em casa e não tenha contato, por favor.
Lições Está um pouco cedo. A principal é: o homem não está preparado para lidar com uma doença causada por um vírus, um microrganismo com letalidade moderada. A gente nem pode classificar a letalidade do coronavírus como alta, quando compara com outros microrganismos. Está mais do que demonstrado que a humanidade não está preparada para lidar com isso. E poderia ser muito pior. A gente poderia ter um vírus com uma letalidade muito pior. É o principal recado que a natureza está dando para a humanidade. A gente tem que cada vez mais pensar em questão ambientais e higiene pessoal. A gente precisou passar por uma pandemia para ver a importância de lavar as mãos. A humanidade vai sofrer muito, vai passar por perdas dolorosas. Mas talvez use isso para mudar a importância que os políticos dão à atenção básica em saúde, ao saneamento básico, de termos mais leitos hospitalares, planos de contingência que possam ser rapidamente implementados. O dado positivo é mostrar como a ciência é importante. Nós infelizmente temos em nosso país um administrador que não pensa assim.
 
Confira a entrevista:

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