Atletas de elite e a saúde são concorrentes?
Ouço dizer que o esporte de elite e a saúde são mutuamente concorrentes, ou seja, que, no topo do esporte, os atletas estão num limite tão grande de overtraining que ninguém pode ser considerado saudável.
Eu não concordo com isso, e na verdade diria que os atletas que são capazes de obter consistentemente os melhores resultados só conseguem fazê-lo por ter uma base geral de saúde muito forte por trás deles.

De fato, absorver um programa de treinamento de alto nível e responder a esse programa exige uma constituição muito forte. Atletas que não possuem essa constituição se vêem perpetuamente sobrecarregados ou lesionados.
Mas o que entra nessa constituição do super-atletas é algo que pode ser desenvolvido?

Com vivências em atletas de todos os níveis, do ex-sedentário ao atleta de desempenho, eu percebo dois atributos muito importantes no processo de treinamento:

1. Recuperação de treinamento

2. Resposta ao treinamento

O primeiro, em última análise, determina quanto treinamento um atleta pode absorver ao longo de uma semana, mês ou ano ( e a cada dia, importante frisar, temos mais este controle, enquanto treinador).
O segundo determina quanta aptidão o atleta obtém de uma determinada carga de treinamento. Essas duas qualidades dependem amplamente do atleta ter um 'sistema saudável', o que, por sua vez, depende de o atleta ter uma vida saudável (parei de beber este ano de 2020 e a melhora foi considerável, em todos os meus aspectos da vida)!
Vou me aprofundar nessas duas qualidades fundamentais em um pouco mais.

O que determina a rapidez com que um atleta se recupera de uma determinada dose de treinamento específico?

Bem, considerando que a maioria dos eventos competitivos depende muito da capacidade do atleta de gerar energia a partir de açúcar (glicólise), a taxa na qual um atleta é capaz de reabastecer suas 'reservas de açúcar' depois de um período exaustivo de treinamento específico é certamente um fator importante em como eles se recuperam rapidamente e são capazes de iniciar o próximo período de treinamento específico.
O que determina essa taxa de reposição de açúcar no corpo é a insulina.

O principal papel da insulina é, em resposta à alimentação, abrir os portões das células musculares esgotadas para que possam ser reabastecidas. O problema surge quando as lojas estão sempre cheias, ou seja, o atleta tem muito açúcar em sua dieta.

Depois de algumas vezes isso acontecer, a insulina perde a motivação para enviar a mensagem, ou seja, o corpo se torna resistente à insulina.

Atletas que trabalham em competições do tipo "A" podem ter alguns dos sistemas gluco-corticóides mais bagunçados do mercado.

Além disso, se seu corpo está queimando açúcares preferencialmente, há uma boa chance de que seu pequeno mensageiro de insulina esteja cansado de dar voltas e quando você mais precisa dele para realmente recuperar as reservas de glicogênio no músculo, não tem.

Existem três aplicações práticas importantes aqui que servirão para melhorar sua base de saúde:

1. Não coma açúcar quando seu corpo não precisar deles


2. No início da temporada, minimize os momentos em que seu corpo precisa, ou seja, evite treinamento excessivamente estressante (depletivo). Em caso de dúvida, vá no mais fácil. Mas Z1 e Z2 são os focos.

3. TENTE priorizar no início da temporada sua vida para que minimize os estressores que não são de treinamento que, sem dúvida, afetam sua recuperação das demandas de treinamento específico. Ao menos, tente.

Um segundo papel importante da insulina na recuperação é que ela serve como um 'interruptor' entre anabolismo e catabolismo no organismo, ou seja, serve como um mensageiro importante para dizer ao corpo para mudar de 'quebrar' o corpo para 'construir' o corpo. Um atleta resistente à insulina também é resistente ao reparo e crescimento do corpo!

Atletas que estão perpetuamente inundados de cortisol devido a um treinamento excessivamente estressante (intenso) ou a uma vida excessivamente estressante, nunca experimentam o 'interruptor' que lhes permite reconstruir o corpo depois de derrubá-lo - um processo que é o cerne do treinamento eficaz !

A literatura tem esmiuçado e provado que o intervalo na resposta do treinamento a uma determinada carga de trabalho entre os atletas que levam uma vida mais estressante e aqueles que vivem da maneira mais simples pode chegar a 50%, ou seja, pode ser necessário o dobro do treinamento para obter o mesmo benefício de condicionamento físico quando um atleta tem outros estressores para lidar.
Obviamente, esses atletas também exibem um perfil de recuperação lento e não podem tolerar o mesmo nível de treinamento. Certamente não podem tolerar o dobro do treinamento necessário para acompanhar o ritmo de um atleta com um 'sistema saudável'.

Felizmente, esses exemplos ilustram a importância de começar com uma forte 'base de saúde'. Atletas que têm sistemas metabólicos/endócrinos muito saudáveis se recuperam muito mais rapidamente e se beneficiam mais do estresse específico do treinamento quando é a hora certa.
Bons treinos!
Fonte em auxílio no texto: Alan Couzens, M.Sc. (Sports Science)

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    Marcos Almeida

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