"Eu acredito na minha cidade"
Aluysio Abreu Barbosa 24/03/2020 10:56 - Atualizado em 08/05/2020 18:03
"A soma de Arnaldo mais Caio resulta em vitória". A aliança com seu pai, rompida no pleito a prefeito de 2016, é aposta do filho como pré-candidato do PDT a prefeito nas eleições municipais de outubro deste ano, quatro anos depois. Nesta entrevista por e-mail, respondida mesmo após a morte da sua avó materna na sexta (20), Caio Vianna foi da pandemia da Covid-19 ao compromisso histórico do seu partido com a Educação Pública. Admitiu que sua rejeição "insignificante" pode ajudá-lo em um eventual segundo turno contra o deputado federal Wladimir Garotinho (PSD) ou o prefeito Rafael Diniz (Cidadania). Disse que “não há perda ou racha” com o deputado estadual Rodrigo Bacellar (SD), mas afirmou estar fora do que classificou como "negociata". Chamou de "irrelevante" a questão do afastamento de Campos entre as eleições, justificando ter "que viajar ao encontro dos meus clientes para sobreviver". Rebateu as críticas de Gil Vianna (PSL), seu vice em 2016, dizendo que o deputado estadual "tornou-se Socialista com Romário e foi para a extrema-direita com Bolsonaro". Admitiu que "a folha de pagamento do servidor e a Saúde serão desafios gigantescos" ao prefeito de Campos. Diante disso, ressalvou não empunhar "bandeira de salvador da pátria". E levantou a sua: "a referência de Caio Vianna é o governo Arnaldo Vianna".
Caio Vianna concedeu entrevista
Caio Vianna concedeu entrevista / Folha da Manhã
Folha da Manhã – Na sua avaliação como Campos, Norte Fluminense, Estado do Rio e Brasil estão reagindo ao avanço do coronavírus? Como essa pandemia pode afetar o ano eleitoral? Seu pai, como médico de carreira brilhante e político experiente, faz alguma avaliação?
Caio Vianna – Neste momento é importante saber como cada morador desta cidade está reagindo à proliferação do coronavírus. Porque a conduta individual, seguindo todas as orientações dos profissionais médicos, será determinante para conter esta doença. As pessoas terão que adotar novos hábitos, se recolher, praticar o isolamento social, coisas atípicas para o brasileiro, que é um povo festivo e caloroso. Quanto à rede pública de saúde, no Brasil inteiro o SUS está em condições inadequadas para enfrentar este quadro. Em 2019, a PEC do Teto dos Gastos impôs uma redução de R$ 20,19 bilhões para a Saúde Pública. Nos municípios a situação é de calamidade. Em Campos, por exemplo, apesar da Prefeitura gastar mais de R$ 700 milhões com a saúde, profissionais reclamam da falta de material e insumos básicos para trabalhar. Até recentemente os médicos estavam em greve. Voltaram a trabalhar sensibilizados com a situação dos pacientes diante da pandemia. Tenho conversado muito com meu pai sobre esta situação e concordamos em um ponto: a rede pública de saúde de Campos atualmente não tem como suportar uma grande demanda de pacientes infectados. Neste momento, no Irã morre uma pessoa a cada 10 minutos por conta do coronavírus. A Itália, um país de primeiro mundo, está em pânico. No mundo já são mais de 9.800 mortos. Imagina esse vírus proliferado em Campos! No que se refere ao processo eleitoral, esta pandemia que deverá atingir o pico no Brasil entre abril e maio, vai reforçar junto ao eleitorado a percepção de que a saúde é o principal tema a ser debatido. Volto a destacar: em Campos, no governo Arnaldo, a população vivenciou um sistema de saúde plena. Hoje a cidade sente falta do Programa Saúde da Família, que foi referência nacional no governo Arnaldo e promovia o atendimento preventivo, e das condições que existiam tanto no HGG quanto no Ferreira Machado. Diante desta precarização da Saúde Pública, é preciso reforçar: seguir as orientações quanto à prevenção, é o melhor caminho.
Folha – Se comparada com o prefeito Rafael Diniz (Cidadania) e o deputado federal Wladimir Garotinho (PSD), que herda a resistência ao pai Anthony Garotinho (sem partido), sua rejeição em tese mais baixa seria favorável em um eventual enfrentamento no segundo turno a prefeito de Campos contra um deles. É a sua tática? Antes, como trabalhar para chegar lá?
Caio – A democracia não permite escolher adversários. Quem define este campo de enfrentamento é o voto popular. É fato que as pesquisas demonstram que o índice de rejeição ao meu nome é insignificante, mas respeito todo e qualquer oponente. Estamos preparados para debater as questões mais relevantes para este momento delicado que o município atravessa. E minha tática, com toda franqueza, continua sendo a mesma: conversar com as pessoas, não criar falsas expectativas, expressar os desafios que teremos pela frente e conclamar a cidade para um grande pacto visando reencontrar os caminhos que devolva a Campos sua vocação de vanguarda. Fomos a primeira cidade da América Latina a ter luz elétrica, esta cidade teve uma grande importância na campanha abolicionista e um presidente da República brilhante, que foi Nilo Peçanha. Já elegemos governadores. Campos, portanto, não é uma cidade derrotada. Esta cidade tem brio e pessoas capacitadas para superar grandes desafios. E a grande força motora deste município é o campo popular, a massa de consumo, a mão de obra que gera riqueza e os empreendedores que estão aqui, mesmo diante do cenário de incerteza. Pela história e a capacidade de resistência de Campos, eu acredito na minha cidade.
Folha – Na eleição a prefeito de 2016, você mostrou habilidade na costura das alianças eleitorais, disputando a Prefeitura, além do seu PDT, com apoio de PSB, PSDC, PSC, PMN e PEN. Quatro anos depois, além do PL e do PV, está tentando outra legenda?
Caio – O momento é de conversa. Estamos dialogando com vários partidos, mas esses diálogos são programáticos. As legendas estão formando suas nominatas para a disputa de vagas no Legislativo, de forma que o quadro de alianças na eleição majoritária estará muito mais definido a partir de abril. Teremos muitas surpresas. Todas as pessoas, agentes políticos e instituições comprometidas com o desenvolvido social e econômico deste município são bem vindos a este projeto.
Folha – A se confirmar a aliança com o PL, espera ter também o apoio de Marcão Gomes, deputado federal pelo partido e um dos maiores aliados de Rafael?
Caio – O PL, por meio do diretório regional, chegou à conclusão que vai caminhar com o nosso projeto. Marcão Gomes está deputado pelo partido e desejava levar a legenda para a base de apoio ao prefeito Rafael Diniz. A decisão pessoal dele, no entanto, é continuar apoiando o Rafael Diniz, seu aliado.
Folha – Ainda sobre alianças, que perda seu racha com o deputado estadual Rodrigo Bacellar (SD), que leva consigo o apoio do presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), pode trazer?
Caio – Não há perda ou racha. Como falei, estamos em períodos de conversas. Neste momento a política local é movida por fluxos e refluxos. Sempre tratei pessoalmente desta questão envolvendo alianças. Nunca deleguei esta tarefa a ninguém. E todo entendimento continuará sendo programático e sedimentado em projetos.
Folha – A cisão com Rodrigo se deu por que ele queria indicar seu pré-candidato a vice, além da disputa entre PDT e SD como destino do vereador Igor Pereira (atual PSB), líder do G-7? Se cedesse, todos fossem candidatos e eleitos, você poderia se tornar refém do deputado?
Caio – Esse tipo de negociata que você relata não é projeto de cidade. É um projeto de poder que exclui a sociedade. Estou fora!
Folha – Após o racha, Rodrigo convidou o juiz aposentado Pedro Henrique Alves para ser pré-candidato a prefeito pelo SD. Que, em entrevista à Folha no último domingo, disse estar analisando. Como uma entrada dele no jogo, com apoio de Ceciliano, alteraria o tabuleiro?
Caio – Só tem uma força que altera o tabuleiro no processo eleitoral de Campos: o eleitor. Todas as pessoas citadas, as conheço e respeito, mas o poder do voto é que define. No que se refere ao nosso projeto, o processo eleitoral com qualquer concorrente será o mesmo: uma cidade mergulhada em crise, uma população em busca de soluções e muitos desafios. E a sociedade está cada vez mais contundente em suas cobranças e criteriosas em suas escolhas.
Folha – Na eleição de 2016, a perda de apoio do seu pai, o ex-prefeito Arnaldo Vianna (PDT), foi considerada decisiva não só na sua queda nas intenções de voto que chegou a liderar em pesquisas, como na definição do pleito ainda no 1º turno. Concorda? Por quê?
Caio – Na verdade, a recomposição de forças locais em 2016 provocou uma definição de votos indecisos a partir dos 15 dias que antecederam a eleição. Nós começamos aquele pleito com 0,3% e chegamos a liderar as intenções de votos. Um feito extraordinário. Chegou um determinado momento que nossa intenção de votos, na verdade, estacionou e houve uma disrupção de votos indecisos em favor de Rafael, que acabou definindo sua eleição no primeiro turno. A opção do meu pai teve, de fato, alguma influência na migração desses votos. Mas o importante que estamos todos juntos e unidos neste momento histórico para a nossa cidade. Tenho a real dimensão da responsabilidade de carregar as grandes expectativas, não apenas do meu pai, mas de milhares de pessoas. Minha principal aliança é com o povo.
Folha – Arnaldo se mantém muito popular no município que governou por sete anos, até 2004. Qual é a importância desse recall positivo à sua pré-candidatura? O que você agrega a essa base, vindo das candidaturas a prefeito de 2016 e de deputado federal, em 2018?
Caio – Tenho muito orgulho por meu pai ser um político querido, avaliado como o melhor prefeito desta cidade. É sinal de que acertou mais do que errou. Isso soma. A experiência de 2016 e 2018, quando começamos uma campanha praticamente faltando 21 dias para o pleito, e ainda ficamos como primeiro suplente do PDT, agora demonstrará que a soma de Arnaldo mais Caio resulta em vitória.
Folha – Algo questionado na sua relação com Campos é o afastamento físico do município no período entre as eleições. Em entrevista ao vivo no Folha no Ar 1ª edição, da Folha FM 98,3, em 09 de abril do ano passado, o próprio Arnaldo criticou esse aspecto. Como você vê?
Caio – Eu não sei a que período estão se referindo. Ao contrário do que muitos pensam, o povo é muito bem informado. As pessoas circulam, conversam, me encontram e chegam a contar piadas em relação a essas insinuações. Não vivo de política. Trabalho com programação de sistemas, tenho clientes fora da cidade e da mesma forma que um deputado tem que ficar boa parte da semana fora do seu domicílio para exercer mandato, em algumas circunstâncias tenho que viajar ao encontro dos meus clientes para sobreviver. Mas posso lhe assegurar: vivo em Campos e respiro esta cidade 24 horas por dia. Imagine se fosse petroleiro e trabalhasse embarcado, como muitos trabalhadores. O que não iriam dizer? Essa é uma discussão irrelevante.
Folha – “Pré-candidatíssimo” a prefeito em 2020 e seu vice na chapa de 2016, o deputado estadual Gil Vianna (PSL) fez críticas a você no Folha no Ar de 27 de janeiro deste ano. Além da questão da residência, questionou seu currículo e sua disposição de trabalho. Como encarou?
Caio – Criticar é um direito dele. Gil já falou muitas coisas. Quando esteve ao lado de João Peixoto falava de um jeito, depois ao lado da ex-prefeita Rosinha Garotinho falava de outra maneira mais dócil, até tornar-se feroz. Depois tratou uma coisa com Rafael e veio ser vice em minha chapa. Até recentemente estava na bancada ligada ao presidente Jair Bolsonaro na Alerj. Agora não sei de que lado está. Em toda sua trajetória, Gil é uma metamorfose ideológica. É muito volátil: foi Democrata Cristão com João Peixoto, passou pelo Partido da República (hoje PL) com Garotinho, tornou-se Socialista com Romário e foi para a extrema-direita com Bolsonaro. Pelo visto ainda não se encontrou. Eu continuo Caio Vianna, morando em Campos, filiado ao PDT, onde milito desde os 16 anos de idade.
Folha – Rafael sofreu muitas críticas porque, diferente do que prometeu em campanha, suspendeu Restaurante Popular, Cheque-Cidadão e Passagem Social. Com um orçamento estimado para 2021 em R$ 1,7 bilhão, antes de sofrer os graves efeitos da crise econômica mundial do coronavírus, e uma folha de pagamento de pessoal de cerca de R$ 1,1 bilhão, seria possível retomar esses programas sociais? Como?
Caio – O grande pecado de Rafael foi criar falsas expectativas, o que o levou, posteriormente, a ser devastado pela frustração coletiva. Inegavelmente, a cidade neste momento necessita retomar seus programas sociais, só que isso não será um passe de mágica. Tenho dito e volto a repetir: a sociedade neste município terá que estabelecer um grande pacto político visando a retomada. Muito mais importante ou tão importante quanto a eleição do próximo prefeito, será a eleição da Câmara de Vereadores e a atuação dos deputados. O prefeito terá que ficar conectado com a base parlamentar local, principalmente em Brasília, porque os deputados serão a conexão com o governo federal e importantes no aporte de emendas parlamentares quando município precisa arrecadar. A folha de pagamento do servidor e a saúde serão desafios gigantescos. Por isso, não se pode chegar aqui empunhando bandeira de salvador da pátria, porque seria o ápice da irresponsabilidade. Mas a referência de Caio Vianna é o governo Arnaldo Vianna, seja no âmbito da política social, com o servidor ou na gestão da saúde.
Folha – Por enquanto, está mantido para 29 de abril o julgamento da partilha dos royalties no Supremo Tribunal Federal (STF). Que, se valer como aprovada no Congresso em 2012, vai piorar muito a situação econômica de Campos, já combalida pela queda das receitas do petróleo. Fala-se que Wladimir estaria esperando a decisão para definir sua pré-candidatura. E você o tem criticado por isso. Há saída financeira ao município? Qual?
Caio – Só um esclarecimento: não critico o deputado Wladimir por questões envolvendo decisão sobre a disputa eleitoral. Apenas tenho dito que serei candidato com royalties ou sem royalties do petróleo, até porque a cidade terá que ter um prefeito e não quero governar apenas nas horas mais confortáveis. Neste momento é preciso saber onde cada um de nós será mais útil para servir a cidade. Saídas para uma crise existem, mas elas estão associadas também a fatores externos. É um erro considerar que Campos é uma ilha isolada do mundo. Somos um município com a economia mais globalizada do que muitos pensam. Uma oscilação negativa no preço do barril do petróleo interfere diretamente em nossas vidas financeiras. É curioso, mas o humor da monarquia saudita mexe no nosso bolso. Mas o que devemos buscar o quanto antes é o desapego dos royalties, diversificando a economia. A era do petróleo dá sinais de esgotamento. Temos que nos preparar para um próximo ciclo expansivo buscando novos caminhos, atuando como grande centro logístico do Porto do Açu, criando zonas especiais de negócios, atraindo investidores para fomentar regiões turísticas como o Imbé, Rio Preto, Lagoa de Cima e chamar o segmento acadêmico e universitário para repensar nosso modelo de desenvolvimento. No estágio mais imediato, temos que fazer o orçamento da Prefeitura circular dentro do município, promovendo o fluxo interno de renda. Os formatos de licitações devem contemplar empresas locais. Tenho conversado muito com o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, um amigo e aliado que tem raízes em Campos. Niterói atualmente é a cidade que tem a melhor gestão no Estado do Rio de Janeiro. Tenho também conversado com muitos secretários do governo estadual. Campos precisa se redefinir dentro de um novo contexto econômico e social.
Folha – Ao assumir a Prefeitura em março de 1998, Arnaldo pegou o incremento nas receitas do petróleo a partir da lei 9.478/1997, que foram crescendo até o auge em maio de 2008, com o barril do petróleo a US$ 139, mantendo o preço acima dos US$ 100 até 2014. De lá para cá foi ladeira abaixo, também pela diminuição da produção dos campos maduros. Como retomar os tempos das vacas gordas do seu pai, Mocaiber e Rosinha? O que ficou deles para Campos?
Caio – Você só esqueceu de dizer que o orçamento do último ano do governo Arnaldo Vianna foi de R$ 600 milhões (R$ 1,4 bilhão hoje, em valores corrigidos pelo IPCA). Foi com este orçamento, por exemplo, que ele construiu o Hospital Geral de Guarus, asfaltou estradas vicinais, promoveu uma saúde de qualidade, criou o Vale-Alimentação, fomentou os clubes da Terceira Idade, criou o programa Novo Mundo Rural, Fundecam, criou o programa de Bolsas Universitárias, Navegar É Preciso, Programa do Leitinho, Meninos do Amanhã, iniciou o programa de Casas Populares só para citar alguns. Hoje, só a saúde consome mais de R$ 700 milhões. E o que temos na saúde? Pergunte à população. Se quiser, posso enumerar a quantidade de projetos mantidos com o orçamento da época. Arnaldo deixou um grande legado para esta cidade.
Folha – A Educação Pública é uma bandeira histórica do PDT de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. Você recentemente filiou ao partido o professor Alexandre Lourenço, pré-candidato a vereador, com a chancela do deputado federal pedetista Chico D’Ângelo, muito ligado à UFF de Niterói. Como enxerga o setor no município?
Caio – A educação sempre foi uma grande referência nos governos do PDT, com Leonel Brizola e Darcy Ribeiro no Estado do Rio, e agora em Sobral, no interior do Ceará, considerado modelo para o país. Defendermos a educação pública de qualidade e o ensino em tempo integral, resgatando valores culturais nas comunidades, com atuação de animadores culturais, que prefiro definir como fomentadores da cultura. Não se faz uma boa escola sem material humano. Devemos encontrar caminhos para o nosso modelo de educação pública. No governo Arnaldo, só para lembrar, a educação municipal foi premiada pelo ministério da Educação com a Medalha Anísio Teixeira, pelos bons resultados. Nesse contexto professor Alexandre, Luciano D’Ângelo, o deputado Chico D’Ângelo, Professora Odete Rocha, Hélio Coelho, Sileno Martinho e outras cabeças que pensam a educação como instrumento de desenvolvimento, são pessoas com as quais queremos contar.

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