Após nove dias do transplante, Patrícia não resiste
16/02/2020 18:13 - Atualizado em 16/02/2020 18:14
Patrícia Campos
Patrícia Campos / Patrícia
A matéria da Folha da Manhã (aqui) cumpre muito bem o papel jornalístico de informar sobre a morte de Patrícia Cristina Lindolpho Campos, acontecida desse sábado (15). Aqui, no blog, que na maioria das vezes cumpre também esse papel, da informação jornalística e algumas vezes de opinião, não poderá exercer esses papéis dessa vez.
Patrícia era uma amiga muito querida. Sendo assim, em lugar de informação e opinião, compartilho a emoção com o que escrevi algumas horas depois que soube. Segue:
Nós tínhamos um monte de amigos em comum. Apesar de a ter conhecido por intermédio da linda amizade com minha esposa, tinha a sensação que eu e Patrícia Campos nos conhecíamos desde criança. Sensação essa nutrida e regada por noites de cantoria das músicas que gostávamos. Outra, das muitas coisas que tínhamos em comum. Em geral, essas músicas não faziam muito sucesso nos churrascos e festas, que lá estavam eu e Patrícia cantando e reconhecendo as similaridades de nosso gosto musical e de nossa amizade. Na maioria das vezes esses encontros tinham a leveza de algumas cervejas compartilhadas, e assim o rock clássico e a bossa-nova saíam naturalmente de abraços cantados com ela, que teimavam em acontecer. Talvez um “abraço cantado” seja uma boa definição para tentar dizer sobre Patrícia. Paty era dona de uma alegria cadenciada, sempre ligada com os prazeres que a vida pode trazer. Bebia e sorvia deles com uma vontade que fazia todos a sua volta sentir o mesmo. Com um senso de humor provocativo e sagaz ela deixava as reuniões e saídas despretensiosas sempre interessantes e com algo a se lembrar depois. Eu gostava daquilo e, por ser mais um aspecto em comum, tinha a certeza que já conhecia aquela menina de outros carnavais.
 
Foi uma ironia da vida...erro aqui, mas não vou apagar. Foi uma HOMENAGEM da vida permitir que a Patrícia se despeça de nós tão próximo do carnaval. Ela vinha lutando bravamente contra uma anemia rara e dependia de um transplante de medula, o que acabou por conseguir após uma belíssima campanha realizada em Campos, em outubro passado. Porém acabou por não resistir ao tratamento e ao próprio transplante.
 
Vinicius de Moraes disse em uma das músicas que saíam desafinadas daqueles “abraços cantados”, que - pra fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza, senão, não se faz um samba não - O samba de Patrícia hoje fica triste, profundamente. A morte, por óbvio, é o fim. Mas pessoas como Paty nos ensinam que não é bem assim. Seu sorriso, sua alegria, sua espirituosidade, sua forma de ver a vida, sua amizade...sempre estarão por aqui. Seu copo estará lá, Patrícia, nas reuniões dos nossos muitos amigos em comum, pode ter certeza. Lembraremos de você e tenho certeza que poderemos sentir sua presença.
 
A benção Patrícia. Tenho certeza que você sabe muito bem que “a vida não é brincadeira, amiga. A vida é arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida”. E talvez agora você tenha a resposta de nosso outro amigo em comum, Deus, e possa provar muito bem provado que a vida NÃO é uma só. Você não vai precisar da “certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo: Deus”. Pergunte a ele diretamente aí para mim. Mas cuidado, veja se não é aquele do antigo testamento, esse não é muito afeito a humor provocativo.
 
Até qualquer dia minha amiga. Saravá.
Edmundo Siqueira

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