Transporte ainda divide opiniões
Virna Alencar 11/01/2020 15:53 - Atualizado em 14/01/2020 16:17
No final de 2017, o Departamento de Transportes Rodoviários (Detro) determinou a intervenção nas linhas operadas pela empresa Sanjoanense Campostur, em virtude do descumprimento de solicitações do órgão para solução de problemas operacionais e irregularidades. A medida, em caráter emergencial, também se devia às constantes reclamações de usuários quanto à qualidade dos serviços prestados, como a má conservação dos veículos, descumprimento de horários e falta de ônibus. Na ocasião, as 10 linhas operadas pela Campostur passaram para as empresas Brasil Transporte e Turismo e Auto Viação 1001. A intervenção de um ano foi prorrogada por mais um e, hoje, ainda não há previsão da concessão voltar para Campostur.
A Brasil passou a operar as linhas Campos- Papagaio; Campos-Grussai; Campos-Venda Nova e Água Preta-Campos. Já a Auto Viação 1001 assumiu as linhas Atafona-Campos; Campos-São João da Barra; Barcelos-Campos e Barra do Açu-Campos. Mas o transporte entre os municípios vizinhos ainda divide opiniões.
Na rodoviária Roberto da Silveira, no Centro de Campos, na tarde de sexta-feira, por volta das 15h30, a cozinheira Daciana Ferreira, de 57 anos, que mora em Atafona, reclamou do serviço prestado pela Auto Viação 1001.
- Quem aguardava melhorias no transporte intermunicipal com as novas empresas, se enganou. Venho com frequência a Campos, pois tenho filhos aqui e meu marido precisa de consultas médicas. Algumas marcações são bem cedo e, para não perder o horário, nos arriscamos no transporte alternativo de madrugada, justo porque os ônibus não têm horário certo e, em alguns deles, o cobrador desembarca no meio do caminho e o motorista acaba acumulando as funções. Isso atrasa muito a viagem. As janelas não têm cortinas e, nesse calor que tem feito, fica insuportável o transporte. A passagem é cara, R$ 13, e, no mínimo, deveríamos ter algum respaldo”, declarou.
Já a cabeleireira Vera Lúcia Peçanha, de 52 anos, que reside em Campos e veraneia em SJB, elogia o serviço. “Os ônibus estão em bom estado e os motoristas e cobradores são ótimos, educados e cumprem os horários. Na época da Campostur, os coletivos eram sucateados. Melhorou muito o transporte”, contou.
Intervenção - O decreto de intervenção no transporte intermunicipal foi publicado na edição do Diário Oficial do Estado no dia 14 de dezembro de 2017. A intervenção foi em caráter emergencial pelo prazo de 365 dias e previa que, caso a Sanjoanense Campostur regularizasse toda a situação neste prazo, a decisão poderia ser reavaliada. Caso não conseguisse, a empresa poderia perder a concessão das linhas em definitivo.
Nos considerandos para a intervenção, o Detro informou a falta de ônibus, o descumprimento de horários e o péssimo estado de conservação dos veículos, irregularidades que não foram sanadas mesmo após várias oportunidades. Agora, sobre a possibilidade de retorno da antiga empresa ou mesmo de nova licitação do serviço, o Detro informa que “a Sanjoanense Campostur, até o momento, não solicitou a retomada das linhas e, dessa forma, analisa uma possível prorrogação da intervenção, com base em estudo técnico-operacional e na medição da satisfação dos usuários da região”.
A Folha da Manhã entrou em contato com as empresas de transporte, mas, até o fechamento desta edição, não teve resposta.
Serviço suspenso e retomado sem aviso
O transporte intermunicipal já surpreendeu, nem sempre de forma positiva, moradores de Campos e São João da Barra. Dois dias depois da publicação do decreto de intervenção, em dezembro de 2017, um acidente assustou os passageiros do coletivo da Sanjonanese Campostur que seguia para o Açu. A barra de direção do ônibus apresentou um problema e 20 pessoas tiveram de sair pelas janelas do veículo. Ninguém se feriu e outro coletivo foi enviado pela empresa para completar o trajeto.
Já em janeiro do ano passado, em pleno verão e sem aviso prévio, a Auto Viação 1001 suspendeu o transporte para a localidade de Chapéu do Sol. Os ônibus não iam até o local, porque a empresa decidiu tornar a praça do Repolinho, em Atafona, o ponto final. O Departamento de Transportes Rodoviários do Rio de Janeiro (Detro) informou que não havia autorização para tal mudança. Ainda assim, a alteração permaneceu por três meses.
Com a mudança, moradores de Chapéu de Sol acionaram o Ministério Público. Um deles, o jornalista João Noronha contou que um grupo procurou a 1ª Promotoria de Tutela Coletiva do MP, em Campos, no dia 21 de março, para uma representação contra o Detro e a empresa, com a seguinte narrativa:
“Desde o dia 25 de janeiro de 2019, a empresa 1001, que atende temporariamente à localidade, cortou o atendimento à população, atendida pela linha intermunicipal há mais de meio século, alegando poucos moradores, responsabilidade do município e ‘assaltos’, obrigando os moradores, trabalhadores e estudantes a caminharem sob o sol e a chuva por seis quilômetros. Comunicado o problema ao Detro, o órgão não resolveu o problema e os moradores continuam sofrendo pela falta de transporte. Como o serviço é essencial e tira o direito de ir e vir da população até Campos, para resolver seus compromissos, estamos sem a quem recorrer”.
No dia 21 de abril, feriadão de Tiradentes, quem escolheu ir para Atafona e precisou do transporte intermunicipal foi surpreendido com a retomada do transporte até a praia vizinha. Na ocasião, a Auto Viação 1001 informou apenas “que a operação de Chapéu de Sol foi retomada para garantir o serviço à população, conforme entendimento com o Detro”. Os moradores, no entanto, acreditaram que o retorno do serviço estava relacionado com a luta deles.

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