Luta, sobrevivência e fé em Santo Amaro
Paulo Renato Pinto Porto 16/01/2020 08:13 - Atualizado em 20/01/2020 17:23
Ambulantes aproveitaram festa para faturar
Ambulantes aproveitaram festa para faturar / Genilson Pessanha
Por trás das narrativas das jornadas quilométricas de peregrinação a pé, devoção e agradecimento na mais pura catarse de fé coletiva, a Festa de Santo Amaro traz também histórias de superação e criatividade na luta pela sobrevivência. Num local discreto, atrás da igreja repleta de fiéis, a ambulante Renilda da Conceição, de 55 anos, instalou uma caixa de som com alguns bons decibéis e uma música em ritmo de funk para vender suas empadas. “Olha só a empadinha/ tem de carne e de galinha/ custa apenas um real/ é gostosa e quentinha”, tocava. “Sou de Macaé, é a primeira vez que venho aqui e estou gostando bastante da festa. Estou aqui de olho na fiscalização porque ainda não tirei minha licença para trabalhar como ambulante. Mas logo vou conseguir para não ter mais problemas”, disse Renilda.
Enquanto isso, seu filho Julian, 28, foi mais ousado. De posse de um microfone, ele chamava a atenção dos romeiros com sua propaganda igualmente criativa e direta num português correto e recheado de rimas. “Hei, você aí que é exigente, eu estou falando com você. Eu quero você aqui, você que tem um paladar apurado e não come qualquer coisa, fique ligado. Tem empadinha de leite condensado, frango e carne. Custa apenas um real, você nunca viu nada igual — apregoava.
Outra batalhadora, Isabel Machado, 30, que mora em Campos, vendia churros e alimentava melhores expectativas para o período da tarde. “Por enquanto está meio devagar, mas daqui a pouco a tendência é melhorar. É a terceira vez que venho aqui, é uma luta, mas estamos aí. Sou separada, tenho que criar meus dois amores (os filhos, Luan, 10 anos, e Yago, 8)”, disse.
Luis Carlos Faria, que mora em Guarus, reclamava da falta de atrações na festa. “Não temos shows, o movimento poderia ter sido melhor. Paguei R$ 258,00 de licença, R$ 150,00 pela barraca e R$ 122,00 da luz, vai sobrar o quê pra mim no final das contas?”, queixou-se o ambulante que vendia a maçã do amor, uvas e outras guloseimas.
Na Festa de Santo Amaro se vende de tudo. Desde bugingangas aos artigos voltados para a fé dos romeiros como santinhos e velas, passando por confecções e assessórios, além de doces, salgados, churrasquinhos e os tradicionais churros. No meio do burburinho, o ambulante José de Jesus Silva, usava também com força o gogó na propaganda igualmente criativa. “Olha a água mineral, gente! Vamos tomar água, bastante água para desidratar o organismo. O Ministério da Saúde adverte e recomenda: vamos tomar muita água gelada para preservar a saúde”, avisava Jesus. Aliás, mais um herói da resistência. Ou da criatividade.

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