Crônica de Cinema - Guerra imersiva
25/01/2020 20:03 - Atualizado em 31/01/2020 14:05
1917
1917 / Divulgação
FELIPE FERNANDES — 1917 — Existe uma vertente nos filmes de guerra mais atuais, provavelmente em decorrência dos avanços tecnológicos, de criar filmes cada vez mais imersivos. Causar ao espectador a sensação mais próxima de estar em um campo de batalha. Nesse estilo, “1917” já chega proeminente.
O único contexto histórico a que temos acesso é que se passa no dia 06 de abril de 1917, o restante é exposto ao espectador por meio de diálogos ou por parte dos cenários. A história do filme é mínima, acompanhamos dois soldados que precisam atravessar o território inimigo com a missão de entregar uma mensagem que pode salvar a vida de 1600 soldados.
A trama é uma mistura de histórias que o avô (que serviu na primeira guerra) do diretor Sam Mendes contava. Essa história é usada para estabelecer uma motivação, provando que o objetivo da obra não se trata necessariamente de narrar uma história, mas sim reproduzir os campos de batalha e sensações daquela guerra.
Nesse sentido, a escolha do diretor de criar um filme como se fosse um enorme plano sequência, faz total sentido. Tecnicamente o filme impressiona pela ousadia e pela complexidade. A fotografia do genial Roger Deakins (007: Operação Skyfall) é incrível, a câmera acompanha os dois soldados por toda a missão criando cenas em trincheiras e em diversos tipos de terrenos irregulares, mostrando um planejamento e controle técnico absurdos. O jogo de luzes e sombras em uma determinada sequência noturna é desde já uma dos grandes momentos do cinema em 2020.
O trabalho do design de produção na recriação dos campos de batalha também impressionam. Os ambientes degradantes, os campos lamacentos, as trincheiras, é um trabalho cheio de detalhes, como as placas que dão nome as “ruas” dentro das trincheiras. Merece destaque também o design de som, parte importante da experiência de imersão e a trilha sonora, muito eficiente na construção da tensão.
Sam Mendes parece se interessar mais pelos aspectos psicológicos da guerra e seus efeitos, do que propriamente a ação em si, esse já era um elemento marcante em seu longa de guerra anterior (Soldado Anônimo), aqui isso também acontece, fazendo com que os momentos de respiro sejam relevantes, mesmo que esse não seja necessariamente o foco do filme. No terceiro ato o filme traz um apelo emocional que quase prejudica o ritmo do filme, mas consegue dar um pouco de coração a obra.
O elenco é formado em sua maioria por atores desconhecidos, tendo grandes atores como Colin Firth e Benedict Cumberbatch como militares de maior patente, surgindo em pequenas participações. Os protagonistas são interpretados por George Mackay (Capitão Fantástico) e Dean-Charles Chapman (Game of Thrones), em duas atuações intensas, que exigiram muito dos dois (principalmente do primeiro), já que praticamente eles estão em cena durante todo o tempo.
“1917” é um filme imersivo, que busca o resgate histórico através de seu visual. Impressiona pelos aspectos técnicos, pela recriação dos campos da primeira guerra e será lembrado pela sua conquista técnica e visual, mas é uma obra que perde um pouco do seu efeito com o passar do tempo. Na intenção de promover uma experiência cinematográfica (e o filme é muito bem sucedido nessa proposta) o filme termina sem aquele algo mais que provoca reflexão e fica com o espectador após a exibição.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS