Transparência na gestão do IFF
Aluysio Abreu Barbosa e Daniela Abreu 07/12/2019 00:06 - Atualizado em 11/12/2019 13:02
Isaías Fernandes
Na próxima quarta-feira (11), a comunidade do Instituto Federal Fluminense (IFF) escolherá o reitor que irá gerir os campi e polos espalhados por 12 municípios. Até este domingo (8), a Folha da Manhã traz entrevistas com os candidatos ao posto. O segundo entrevistado entre os três postulantes é Maurício Gonçalves Ferrarez (34), que tem uma história de 23 anos dedicados à instituição e atualmente é, pela terceira vez, coordenador do Curso de Engenharia em Controle e Automação no campus Centro.
Em seu plano, ele prega uma gestão transparente que eleve a instituição, além de uma Escola Modelo para fortalecer a educação base da região.
Folha — Em sua apresentação, você diz que, ao longo de 23 anos no IFF, você tem contribuído para a melhoria dos processos da instituição. Como isso se deu? E o que motivou sua candidatura?
Maurício — Comecei trabalhando em Macaé, fui professor do curso técnico durante um bom tempo. Depois, vim para o campus Centro. Passei a atuar no curso de telecomunicações, depois migrei para o curso de engenharia de controle e automação, após terminar o mestrado nessa área pela UFF, um mestrado interinstitucional, em parceria do Cefet, na época com a UFF, para capacitar professores para atuarem no curso de engenharia de controle e automação. Assim que terminou esse mestrado, a gente migrou para o curso de engenharia. Começamos a dar aula no curso de engenharia, e também fui convidado, na época pelo professor Said, para assumir a coordenação do curso. Recentemente, a gente tem visto algumas informações e alguns dados da nossa instituição aquém do que a gente acha que deveria ser. Por exemplo: durante a campanha, a gente percebeu até muito mais de problemas do que a gente tinha visto anteriormente. Temos campus nossos que não têm biblioteca. Cada dia a gente vê que tem mais problemas. Problemas normativos, de solução que a gente tem que fazer. Problemas de relacionamento com o próprio Conselho Superior, que a gente tem que superar. A nossa instituição tem a figura do conselho superior, que é a instância máxima, no organograma. O reitor, naturalmente, por legislação, é presidente do conselho superior. O voto dele é voto de minerva, só vota para desempatar. E o que tem acontecido são muitas resoluções ad referendum. E nós temos hoje mais de 80 resoluções dentro da instituição que não passaram pela aprovação, a posteriori, do conselho superior. Então, a gente percebe que nós temos ali, no mínimo, uma insegurança jurídica em relação à validade ou não dessas resoluções. Isso a gente tem que evoluir, avançar.
Folha — Você, na sua apresentação, diz que a nova reitoria do IFF vai ter a missão de elevar a instituição num patamar de gestão. E fala, no seu plano de governo, que pretende contribuir para uma gestão mais transparente, em conformidade com os regulamentos interno e externo. Quais críticas você faz às gestões anteriores, em especial a última, e o que você vai fazer de diferente?
Maurício — Uma grande crítica que a gente tem, que foi o que motivou inclusive a nos lançarmos como candidato, é o nosso índice de gestão, chamado IGG. O IGG é o Índice Geral de Gestão, que é mantido pelo Tribunal de Contas da União. O Tribunal de Contas faz isso com todas as instituições públicas do país. Fomos verificar como estava o IGG do IFF. Foi uma surpresa. Quando fomos verificar 2017 e 2018, que são os últimos anos que nós temos, 2019 não saiu, o próximo só em 2020... Entre 0% e 100%, o IGG nosso era 14% em 2017. E aí, quando fomos verificar o relatório de 2018, caiu para 12%. Ficamos muito preocupados. Começamos a pesquisar o índice de gestão dos outros institutos federais. Quando tabulei os valores, a surpresa foi negativa ao extremo, porque o nosso índice é o pior entre todos os institutos federais do Brasil. A gente precisa avançar muito na gestão. Quando você pega os dois últimos relatórios de avaliação institucional que nós temos, realizados pela CPA, que é a comissão própria de avaliação, também de 2017 e 2019, porque o de 2019 não saiu ainda, você vê o relatório, abre o de 2018 e acha que está no mesmo de 2017. Surgem lá os mesmos problemas detectados. Então, quer dizer, nada foi feito? A gente não pode continuar gerindo a instituição dessa forma. Esse é um dos grandes motivos que estamos nos colocando: aperfeiçoamento da gestão dentro da nossa instituição, tomada de decisão baseada em dados, levantamentos, pesquisas.
Folha — Na sua opinião, no que a rede federal de ensino precisa avançar?
Maurício — Nós temos hoje uma plataforma que nos dá vários dados, a plataforma Nilo Peçanha. Antes, a gente usava a plataforma Sistec, que o governo abandonou e criou essa plataforma, Nilo Peçanha. Um dos dados que nós temos lá, que precisamos melhorar muito, é o nosso índice de eficiência. A cada 100 alunos que entram no IFF, apenas 40 conseguem se formar. Nosso índice de eficiência é de 40% apenas. Nós precisamos fazer uma pesquisa efetiva para saber os motivos dessa desistência. Qual é o motivo da evasão desses alunos? Uma das nossas propostas é um programa de acolhida, para que a gente possa verificar junto aos alunos qual a deficiência que eles têm. Ver um programa de, sei lá, nivelamento desses alunos, acompanhamento psicopedagógico. Muitos alunos desistem da instituição porque estão acostumados com determinado ritmo, a gente sabe que o ritmo do IFF é mais forte... Então, a gente tem que ter uma política de maior permanência deles na instituição. E ai a gente tem que se basear nas pesquisas, nos dados.
Folha — O IFF está presente, hoje, em 10 municípios, chamados de mesorregiões. Como você pretende ampliar a atuação do instituto para solucionar as demandas dessas regiões? Tendo atuado em Campos no campus Centro, você sente que conhece a fundo as demandas de cada mesorregião?
Maurício — O que a gente critica é que, mesmo conhecendo as questões e os problemas, muita coisa não foi feita para solucionar os problemas. Falta de biblioteca no campus de Cambuci. Em Maricá, por exemplo, não temos cantina e é longe do Centro. Entrou assaltante lá e trocou tiro com segurança. Só tínhamos um segurança. A sorte é que ele estava de colete. Ou seja: falta de segurança. Em Macaé, alunos surdos que passaram no processo de seleção para alguns cursos técnicos, mas que, por falta de intérpretes de libras, tiveram que fazer uma escolha forçada por outro curso. Acabou que, por exemplo, no primeiro semestre o Ministério Público entrou com uma ação civil pública forçando a instituição a contratar intérpretes de Libras, inclusive forçando o deslocamento de alguns intérpretes de um campus para outro.
Folha — Dentro do seu plano de expansão, tem pretensão de extensão territorial, com novos campi e ofertas de novos cursos?
Maurício — Eu acho que, no momento, temos tantos problemas em vários campi da nossa instituição... Devemos parar. Fazer um freio de arrumação. Analisar, resolver todos os problemas que já temos em estrutura. Por exemplo: o projeto de Itaboraí foi antes de Maricá. Maricá iniciou, e Itaboraí está parado. Itaboraí é mais uma unidade que a gente termina. Um outro campus também que tivemos problemas inclusive em relação ao terreno, é como se fosse uma ilha dentro de outro terreno, houve problemas lá em relação a isso. Eu acho que a gente tem tanto problema, que a gente precisa resolver antes de expandirmos e talvez criarmos novos problemas.
Folha — Você tem a proposta de criação de uma escola modelo em parceria com a Prefeitura ou o Estado. Como isso se dará, e como se dará a implantação dessa escola nos pólos?
Maurício — Hoje, no Instituto Federal, nós temos vários cursos de licenciatura e temos vários professores com doutorado na área de educação. O que eles podem contribuir com o aperfeiçoamento das instituições de ensino municipais, Fundamental e até do Ensino Médio? A nossa proposta é a criação de uma escola modelo. Nessa escola, por exemplo, em convênio com o poder público municipal. Nós pegaríamos uma determinada escola, de preferência aquela com os piores índices, aplicaríamos uma capacitação para os professores, aproveitando da nossa expertise e aplicaríamos metodologias mais modernas de ensino aprendizagem. Essa aplicação de metodologias, a gente iria acompanhar o resultado dentro de um determinado período; comparar com os resultados anteriores dessa mesma escola e comparar com as outras escolas onde não aplicamos a metodologia. E aí, dependendo do resultado, o poder público municipal poderia decidir replicar nas outras escolas. Isso pode ser feito tanto com o poder público municipal, tanto com o estadual. E aí a gente soluciona também aquele problema de alunos com falta de conhecimento, com falta de base, chegando lá no IFF.
Folha — As instituições federais de ensino, de um modo geral, viveram momentos de incerteza esse ano, principalmente com relação à questão orçamentária. Se eleito, como você pretende lidar com a verba destinada ao IFF, e como você vai buscar inovações para amenizar possíveis futuros problemas financeiros?
Maurício — Estou há 23 anos na instituição, todo ano tem contingenciamento de recursos. Um ano é um percentual maior e em outros o percentual é menor. O que eu nunca vi na instituição é a gente se preparar, se planejar para o próximo contingenciamento. É o que critico: falta, muitas vezes, planejamento. Nós sabemos, historicamente, que isso acontece em todos os governos. É uma questão da conjuntura da economia nacional. Principalmente depois de uns anos para cá, que a lei de teto de gastos foi imposta.
Folha — E como você pretende manter esse diálogo com deputados, senadores e até o presidente para buscar recursos?
Maurício — O diálogo tem que ser institucional. O IFF não deve ter partido político. É uma instituição e, como instituição de estado, a gente tem que tratar institucionalmente, independente do partido político daquele deputado ou de o Governo Federal ser A, B ou C, se eu gosto ou não gosto do ministro. Independentemente de gostar ou não da ação, você tem que tratar dos interesses institucionais. Aí eu acho que a gente tem que diminuir o tensionamento. Uma coisa é uma convicção particular de cada um, todos podem e devem ter suas convicções políticas. É saudável para a democracia termos isso. Mas, como gestor, você deve deixar essas convicções de lado e buscar sempre o interesse institucional. Como a instituição não tem partido, você tem que dialogar com todos os partidos e todos os governos que estiverem aí.
Folha – Desde a eleição de Luciano D´Ângelo, todos os diretores e depois reitores têm o aspecto político da esquerda, sem exceção e, que eu me lembre é a primeira vez que tem pessoas de aspecto político oposto, de direita mais marcada disputando o cargo. Há uma mudança de paradigma?
Maurício — O objetivo da minha candidatura não é esse. Eu não tenho partido, não sou filiado a partido. As pessoas sabem da minha convicção porque, nas redes sociais, assim como você pode ter se pronunciado por determinado candidato; outros candidatos a reitor apoiaram candidatos na eleição; eu apoiei o governo que está aí, votei no presidente. Isso também me dá total isenção para criticar, porque eu coloquei lá. As pessoas podem até enxergar dessa forma, mas, o que eu enxergo é que a minha proposição é uma filosofia de trabalho diferente. Uma filosofia de trabalho de menos discurso e mais ação para solução dos problemas institucionais. E aí, assim, todos têm o seu direito de ser filiado a um partido ou outro. Me coloquei como candidato de oposição ao reitor atual, não ao partido do reitor. Acho que isso tem que ficar bem claro. Eu sou oposição à gestão. A minha crítica nunca vai ser e nunca será à pessoa do gestor, mas à gestão que foi feita. Todos nós somos colegas de trabalho. Conheço o Jefferson há muitos anos, conheço o Jonivan há muitos anos... Todos nós que nos colocamos na disputa, temos, lógico, intenção de vermos a instituição progredir, melhorar. Para isso, cada um tem a sua proposta e a sua convicção. O que eu proponho como quebra de paradigma é do modelo de gestão atual.
Folha – A questão da segurança nas imediações do IFF foi um assunto amplamente discutido, após vários alunos terem sido assaltados. Como pretende trabalhar para evitar tais situações?
Maurício – A gente tem que estreitar o relacionamento com os poderes públicos responsáveis pela segurança, principalmente na área externa da instituição. A segurança interna nós temos nossos seguranças contratados. O ideal é a articulação com a PM, que é a responsável pela segurança, uma articulação com a prefeitura, mas a Guarda Municipal em Campos eu acho que não é armada, então é só presença, mas já inibe. Eu acho que é avançar na articulação por que a segurança externa não é de nossa responsabilidade. É responsabilidade do poder público municipal, do poder público estadual, através da PM.
Folha – Em 2017 houve aquele episódio que ganhou notícia internacional, dos alunos maranhenses, que vieram a Campos para evento cultural e sofreram racismo dentro do IFF. Como você pretende trabalhar essas questões?
Maurício – Racismo é sempre deplorável, assim como qualquer outra discriminação seja por opção sexual, discriminação por cor da pele e outras. Eu acho que todos somos iguais perante a lei e assim devemos tratar todos iguais em todos os sentidos, seja por que diferenças que tenhamos, porque todos têm diferenças entre nós, mas nos finais somos todos seres humanos, temos que tratar com respeito a todos. Primeiro tem que investigar, para saber se aquela acusação é pertinente, buscar provas. Eu acho que quem acusa também tem que apresentar provas. A gente não pode também ser leviano e condenar. A gente tem que dar o contraditório, todos têm direito. Então é buscar a investigação e aí, se a investigação chegar ao ponto de que realmente houve aquilo, buscar a pessoa, se foi uma pessoa realmente que fez aquilo e aí, punir o dentro do que deve ser punido. Eu acho que a gente não deve passar mão na cabeça de ninguém, nem mas: ‘não, nós não podemos divulgar isso porque isso vai pegar mal para a instituição de alguma forma’, até porque é o direito das pessoas. Minha posição é que eu sou completamente contrário a esse tipo de discriminação e isso é inaceitável dentro da nossa instituição.

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