Em busca da reeleição no IFF
Daniela Abreu e Aluysio Abreu Barbosa 06/12/2019 17:51 - Atualizado em 11/12/2019 13:01
Jefferson Manhães
Jefferson Manhães / Rodrigo Silveira
Na próxima quarta-feira, a comunidade do Instituto Federal Fluminense (IFF) escolherá o reitor que irá gerir os campi e polos espalhados por 12 municípios. De hoje a domingo, a Folha da Manhã traz entrevistas com os três candidatos ao posto. O primeiro, Jefferson Manhães de Azevedo, pela chapa “Somos Todos IFF” (32), já foi diretor do campus Centro e tenta a reeleição ao cargo de reitor. Ele falou sobre os desafios de integrar todos os campi, ampliar a oferta de cursos e consolidar as unidades em funcionamento, além do trabalho junto a parlamentares para ampliar a verba orçamentária destinada à instituição.
Folha da Manhã – Qual avaliação você faz da sua gestão, até agora, e o que ainda falta ser feito?
Jefferson Manhães de Azevedo – Eu sempre digo que esses últimos 3 anos e oito meses, nos quais fui reitor, foram talvez os mais difíceis dos últimos 20 anos. Foram três presidentes da República, cinco ministros da Educação e sete secretários de Educação Profissional e Tecnológica. Mesmo assim, com todas as restrições financeiras que nós tivemos nesses últimos tempos, nós conseguimos fazer essa instituição melhor. Melhor na infraestrutura, na oferta de cursos, melhor na diversidade de atividades, com empenho da nossa comunidade acadêmica. Então, eu vejo que ainda há muito por fazer, porque os institutos federais são instituições multicampi, o que exige uma complexidade muito grande de gestão. Não é uma gestão simples, é uma gestão colegiada. Nós conseguimos fazer mais de 50 ações na área de infraestrutura, em um tempo difícil. Conseguimos aproximadamente R$ 45 milhões de verbas extras, sejam emendas parlamentares, verbas extra-orçamentárias, junto ao Ministério da Educação, resultante de um diálogo intenso com as diferentes forças políticas desse país e conseguimos construir 17 novos cursos, com aproximadamente 650 novas vagas públicas em todo o instituto. Foram seis cursos técnicos, seis novos cursos superiores, quatro novos mestrados e o primeiro doutorado da nossa instituição, nos colocando entre as poucas do mundo que tem do técnico ao doutorado, como instituição de educação profissional. Acho que alargamos muito a instituição, que hoje está em outro patamar.
 
 
Folha – Seu plano de gestão é separado por sete princípios, nos quais são elencadas diversas propostas. Já é possível destacar quais são as prioridades da gestão, se for eleito? A longo prazo, quais são os desafios para uma possível nova gestão?
Jefferson – Eu escrevi uma carta para os servidores, dizendo que é preciso uma nova ecologia institucional. Nós temos muitas potências educativas nos diversos campi, experiências extremamente exitosas. O desafio da próxima gestão vai ser conectar essas potências. Nós precisamos criar ecossistemas, por exemplo, na Educação de Jovens e Adultos. Nós vamos tentar fazer essas conexões na área da Educação à Distância, na área das licenciaturas, das engenharias, da gestão. Nós temos que ultrapassar o limite reitoria campi. Não queremos campus A ou B que seja de excelência, nos queremos um instituto de excelência e para isso precisamos integrá-los, guardando as suas identidades locais.
 
 
Folha – Atualmente você atua como presidente do Fidesc (Fórum Interinstitucional de Dirigentes do Ensino Superior de Campos). De que forma essa organização trouxe benefícios para o IFF?
Jefferson – A ONU definiu 17 princípios para a agenda 2030, na verdade são 16 objetivos, o 17º chama-se parceria. O segredo do presente e do futuro, cada vez mais, vão ser parcerias, em tudo. Nós não damos conta dos desafios postos pela sociedade de maneira isolada. Então, eu entendo que o instituto, não só entre seus campi, tem que construir essas conexões, mas os desafios sociais postos por esse Brasil só serão rompidos quando nós percebermos que precisamos do outro, da outra instituição. Hoje, como Fidesc, nós estamos construindo esse ecossistema em nossa cidade, graças às parcerias. Por isso nossa cidade hoje está sendo reconhecida em várias partes do mundo por esse movimento parceiro. Cada instituição tem sua particularidade, sua missão, mas nós temos uma missão comum, que é preparar uma juventude, preparar os trabalhadores, preparar uma nova geração para o mundo desafiador, em que a gente não tem nossas respostas para cada uma das coisas. A única coisa que eu garanto: as respostas não estão no passado, as respostas estão no futuro, mas elas ainda não estão encontradas.
 
 
Folha – Você fala sempre em inclusão em alguns temas do seu plano de gestão. Em 2017 houve aquele episódio que ganhou notícia internacional, dos alunos maranhenses, que vieram a Campos para evento cultural e sofreram racismo dentro do IFF. Naquela ocasião, você chegou a gravar um vídeo repudiando os ataques, classificando de atos discriminatórios. Como você pretende trabalhar a inclusão no momento em que o país passa por essa bipolaridade política e ideológica tão grande?
Jefferson – Eu faço muitas palestras em muitos lugares e coloco que hoje, talvez, o maior desafio da educação é construir pessoas que tenham a competência de conviver, de olhar o diferente como uma possibilidade de crescimento contínuo. A violência sofrida, seja pela cor da pele, seja pela orientação sexual, seja pela religião que professa e, agora, pelo partido político que você opta, de maneira geral é um desafio. Nós temos núcleos como o Neabi [Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas], que trabalha as questões afro e indígenas, nós temos um núcleo de gênero, porque nós temos que trazer esse debate para dentro da nossa comunidade. Na próxima gestão, além de fortalecermos os núcleos de gênero e o Neabi, vamos construir uma política de extensão para integrar as ações comunitárias, as ações de arte, as ações de cultura, esportivas e de diversidade. Mas nós vamos ter que estar conversando com as pessoas. O que aconteceu naquele momento é algo que, infelizmente, está muito comum na nossa sociedade. Agora, nós temos que nos assumir como sociedade. Primeiro porque o Brasil foi o país que talvez recebeu o maior número de africanos escravizados na história.
 
 
Folha – Outro ponto do seu plano de gestão fala da valorização profissional. Não é novidade que a instituição já enfrentou greves de docentes e servidores. Como você pretende dialogar com esses profissionais?
Jefferson – Primeiro é bom lembrar que o reitor não é o patrão. A questão de greve é um movimento dos trabalhadores. Nós somos trabalhadores e eu também me incluo nessa. O reitor não é, por exemplo, quem faz a negociação da greve. Isso é papel do governo federal, do Ministério da Educação com os profissionais da educação. Nós somos meio nesse processo. Infelizmente nós estamos passando por um momento, enquanto servidores públicos federais, e de modo geral, que estamos sendo postos no lado do problema desse país. Eu quero dizer que eu estou numa comunidade acadêmica de pessoas extremamente competentes. Naturalmente nós temos fragilidades, não vou tapar o sol com a peneira, mas hoje a nossa instituição é o que é pela qualidade dos seus profissionais. Ela não é o que é pela qualidade da sua infraestrutura, pela possibilidade da sua envergadura. Ela é o que é pela qualidade dos seus profissionais. Então eu não tenho dúvida alguma de que um serviço público pouco qualificado, quem perde é a maior parte da população. E para isso você tem que ter carreiras que são atrativas para que você possa ter pessoas qualificadas.
 
 
Folha – Se você for eleito, como pretende lidar com a verba destinada ao IFF e como vai buscar soluções para amenizar possíveis futuros problemas financeiros?
Jefferson – Nós já fizemos isso, porque esses 3 anos e 8 meses, como falei, foram os mais difíceis, no ponto de vista financeiro, dos últimos 15 anos. Nós construímos uma diretoria de assuntos institucionais que fazia o trabalho parlamentar. Nós temos hoje R$ 2 milhões para investir no IFF, por ano, para comprar equipamento, fazer obras e comprar livros. Dois milhões por ano, de 2016 para cá. Nesses quatro anos, em tese, seriam, então, R$ 8 milhões, para todo o instituto. São 12 unidades. Nós conseguimos, só de emenda parlamentar, quase R$ 28 milhões. Conseguimos de verbas extraorçamentárias com o Ministério da Educação, quase R$ 17 milhões. Conseguimos agora, com o ministro da Educação, R$ 3 milhões para retomar Itaboraí, no atual governo. Então, eu quero reafirmar que nós conseguimos fazer com diálogo, fomos buscando caminhos. Eu tinha R$ 8 milhões no orçamento e nós conseguimos quase R$ 46 milhões a mais.
 
 
Folha – O trabalho é partidário, não é?
Jefferson – Sim, é com a bancada inteira e acho que nós temos uma chance de sucesso, porque quando você fala de educação, as pessoas são muito sensíveis. A gente não olha o partido, a gente olha aquele que tem compromisso com a educação pública. Nós estamos tendo muito sucesso e na próxima gestão, vamos continuar esse trabalho.
 
 
Folha – A questão da segurança nas imediações do IFF foi um assunto amplamente discutido, após vários alunos terem sido assaltados. Como pretende trabalhar para evitar tais situações?
Jefferson – É muito importante a gente entender, inclusive os nossos estudantes. A gente tem o reitor e o diretor. Tem uma pauta do reitor, que é uma abrangência quando envolve mais de um campi, e as pautas dos diretores. Eu, quando fui diretor do campus Centro, e agora também para o diretor que está lá, a pauta da segurança é uma pauta importante. Por exemplo, nós perdemos, quando eu fui diretor lá, um aluno, o Deison. Ele foi assassinado pegando o ônibus. Nós estaremos inaugurando, em no máximo dois meses, uma nova portaria, com um recurso que nós conseguimos. Vai receber o nome dele e vai sair na 28 de Março. Os alunos vão sair e o ponto do ônibus vai ficar ao lado da portaria. O nosso campus Centro, por exemplo, colocou um dos seus micro-ônibus disponíveis à noite para fazer o percurso dali do nosso instituto até a rodoviária. Nós conseguimos uma emenda parlamentar de R$ 200 mil, que vamos comprar um ônibus urbano para dar esse apoio a partir do ano que vem. Agora, não podemos achar que damos conta do problema do transporte público, da segurança. Esses são papéis que as demais entidades públicas precisam trabalhar.
 
 
Folha – Como você avalia a relação do IFF com a comunidade externa e o que pretende fazer para ampliar isso?
Jefferson – O que eu percebo, por ser o reitor, mas não é só meu trabalho, é de toda comunidade, mas acaba que eu meio que represento isso, é que as portas se abrem muito, seja para nossos estudantes, nossos servidores, as pessoas que passam pela nossa escola, porque a visão que as pessoas têm do Instituto Federal Fluminense é uma escola que, se eu estiver com ela ou me relaciono com ela, isso vai transformar minha vida, vai me permitir estar em lugares melhores que eu estaria, se eu não passasse por ela. Agora, ela também sozinha não dá conta. A educação não é, como algumas pessoas acham, a propulsora do desenvolvimento do país, ela é parte desse processo, mas não há desenvolvimento sem educação de qualidade. Ela é que dá sustentabilidade nesse processo.
 
 
Folha – O IFF está em 10 municípios, com uma malha especial que alcança 12 campi. Há pretensão de expandir essa área territorial construindo novos campi?
Jefferson – Com o contingente de servidores e professores, nós estamos chegando a um limite. Itaboraí é onde vai ter a expansão e aí, agora, nós vamos ter que convencer o governo federal e o Brasil de que a instituição precisa continuar crescendo. Pode ser. A gente vê, pelo Ministério da Educação, uma reedição de alguma coisa próxima ao Pronatec. Deve ter novos cursos, mas de maneira mais conjuntural. Acredito que na Educação à Distância nos vamos avançar, mas dizer que eu vou ter, no horizonte de dois anos, mais um ou dois campi, eu não vejo como algo que sugere no contexto hoje, a conjuntura brasileira, propícia a acontecer. Eu não quero gerar essa expectativa. Eu sempre vou tentar expandir mais a nossa instituição. Esse é o meu papel. Eu digo que eu não estou concorrendo ao cargo de reitor na perspectiva de ser um administrador. Eu sou um educador, que estou na gestão, e um educador sempre vai alargar. Nós conseguimos o doutorado, ampliamos o número de mestrados, aumentamos o número de técnicos. Eu vou tencionar com a nossa comunidade para que a gente alargue a educação e possa ter mais ações. Esse é o meu papel. Agora, muito realisticamente, a gente percebe que a conjuntura, no Ministério da Educação, é de só ver a palavra consolidar.
 
 
Folha – Desde a eleição de Luciano D´Ângelo, todos os diretores e depois reitores têm o aspecto político da esquerda, sem exceção. É a primeira vez que tem pessoas de aspecto político oposto, de direita mais marcada, disputando o cargo. Há uma mudança de paradigma?
Jefferson — Eu vejo que candidaturas nesse aspecto têm pouca adesão na instituição hoje. Porque eu acho que, numa disputa eleitoral, numa instituição como a nossa, onde as pessoas se conhecem, muitas coisas ficam postas: sua coerência de vida, sua forma como pessoa, as pessoas com as quais você está ligado. Nossa instituição, hoje, é uma instituição que todo mundo que não defender uma educação pública de excelência, gratuita, socialmente referenciada; uma educação que vai ao encontro com a juventude do interior, uma educação que verticaliza; quem não tiver profundamente nesse aspecto...
 
 
Folha — Há possibilidade de o resultado da eleição não determinar o novo reitor numa vontade do presidente da República?
Jefferson — Não vejo essa possibilidade, porque a legislação é muito clara na questão dos institutos federais. Não é uma eleição, é um processo de consulta. Eleição é para prefeito, governador... É uma consulta, onde a comunidade é ouvida. O nome daquele que é escolhido por essa comunidade é enviado para o conselho superior, e esse faz um encaminhamento ao presidente da República. Na verdade, vai para o Ministério da Educação, e de lá para a Casa Civil, para ver o que o presidente faz. Não há outro caminho. Se não fizer isso, é ilegalidade.

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