Maconha como remédio e sem cultivo
Aluysio Abreu Barbosa 04/12/2019 10:05 - Atualizado em 11/12/2019 12:57
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Na adaptação do popular samba “Malandragem dá um tempo”, versão irreverente do compositor Bezerra da Silva (1927/2005) sobre a maconha: pode vender como remédio, mas não pode cultivar agora. É o resumo da decisão de ontem da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ligada ao ministério da Saúde, de liberar a venda de medicamentos à base da Cannabis sativa, mas manter seu cultivo proibido no país. Em Campos, quem se dedica ao estudo científico da planta e seu uso medicinal questionou a medida:
— A questão é que só quem está se beneficiando com essa decisão da Anvisa são as grandes empresas. Isso não vai gerar nenhum emprego para o Brasil. A maconha é uma planta, que não causa nenhum tipo de risco de vida aos seres humanos. E qualquer farmácia do país está cheia de drogas que podem matar pessoas. Não podemos cultivar para estudar cientificamente a maconha. Nem importar material para a produção dos medicamentos ela derivados. Apenas comprar da indústria. Prevaleceu o interesse comercial — reagiu a engenheira agrônoma Ingrid Trancoso, pós-graduanda da Uenf, ao anúncio hoje da Anvisa.
Ingrid falou ao lado do ex-reitor da Uenf, Almy Junior, também engenheiro agrônomo, no programa Folha no Ar 1ª edição, da Folha FM 98,3, no último dia 20, um dia antes de participarem de um seminário, na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), sobre o tema. Almy também questionou a medida.
— Impedir o Brasil de produzir seus próprios princípios ativos é antieconômico e nada inteligente. Pior, estes medicamentos a base de cannabis, comercializados pelas farmácias vão ficar muito caros. O estudo da planta para sua utilização medicinal é um tema que todos nós apoiamos, porque ele é ciência pura. É um tema que países conservadores como Israel, ou estados conservadores (dos EUA) como o Texas, já fazem há muito tempo. E as pessoas só vão entender no dia em que alguém da família precisar de um medicamento qualquer. O debate é que, sem a permissão para o cultivo, a gente está cerceado do direito de fazer ciência. O pesquisador brasileiro tem o problema da legalização, corre o risco de ser preso porque usa o material nativo do Brasil para fazer ciência. E nós estamos falando de uma planta que tem 10 mil anos de utilização pelo homem — disse o ex-reitor da Uenf.
A nova regulamentação é temporária, válida por três anos e passa a valer 90 dias após publicação no Diário Oficial da União. Os produtos poderão ser para uso oral e nasal, comprimidos ou líquidos e soluções oleosas. O texto não trata do uso recreativo e a comercialização ocorrerá em farmácias, sem manipulação e sob prescrição médica. 

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