Surrealismo no Cineclube Goitacá
03/12/2019 16:38 - Atualizado em 10/12/2019 16:04
'Um cão andaluz' tem cena clássica da navalha
'Um cão andaluz' tem cena clássica da navalha / Divulgação
O surrealismo pautará a sessão tripla desta quarta-feira (04) no Cineclube Goitacá. A partir das 19h, com entrada gratuita, o professor e historiador Aristides Arthur Soffiati exibirá os filmes “Entreato” (Entr’acte, 1924), “A concha e o clérigo” (La Coquille et le Clergyman, 1926) e “Um cão andaluz” (Un chien andalou, 1929). Duração total de aproximadamente uma hora e meia. As sessões do Cineclube acontecem na sala 507 do edifício Medical Center, situado à esquina das ruas Conselheiro Otaviano e 13 de Maio, no Centro de Campos.
— É uma obrigação minha, nesse processo que me propus de mostrar a história do cinema. É uma das linhas de enfoque do cinema internacional. Ao lado do realismo romântico, do realismo social, do expressionismo, impressionismo, ele tem experiências no cinema surrealista. É isso que pretendo ilustrar. São filmes curtos, da década de 1920 — explicou Soffiati.
Dirigido pelo francês René Clair, “Entreato” é um curta-metragem baseado em livro. Conta com cenários de Francis Picabia, produção por Rolf de Maré e coreografia de Jean Börlin. Experimentalista, como mencionou Soffiati em artigo publicado na edição de domingo (1º) da Folha da Manhã, o filme mostra uma bailarina por baixo, pois dança sobre um piso de vidro, que se transforma num homem barbado, e um carro funerário trafegando num trilho de montanha russa.
Atribui-se a outro cineasta francês, Germaine Dulac, o pioneirismo no autêntico cinema surrealista, com o filme “A concha e o clérigo” por ele dirigido dois anos após o lançamento de “Entreato”. Baseado em texto de Antonin Artaud, Dulac conseguiu desagradá-lo igualmente. De acordo com Soffiati, o diretor parece fazer críticas à Igreja, na pessoa de um padre que cobiça a mulher de um general, e ao mundo masculino.
Completa a sessão surrealista um filme que marcou o estilo com a famosa cena de uma navalha cortando o olho de uma mulher. Escrito e dirigido pelo espanhol Luis Buñuel, que assinou o roteiro junto ao pintor Salvador Dalí, seu compatriota, o curta-metragem “Um cão andaluz” passa uma imagem inicial de repugnância. Como destacado por Soffiati, um burro morto aparece sobre um piano; um homem acaricia os seios de uma mulher; e um livro se transforma em pistola.
— Os três fazem filmes surrealistas. Apresentam uma interpretação de onirismo, irrealidade, sonho... Interpretações do subconsciente. Isso une os três. Não que tratem da mesma questão, mas eles enfocam da mesma maneira, influenciados por Freud, pela questão do inconsciente — disse o apresentador. — Essa linha do cinema está presente hoje, ainda, embora em pequena escala, com (o estadunidense) David Lynch. Ainda tem uma certa influência. São filmes meio herméticos — enfatizou.

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