Uma noite de cão
*Edgar Vianna de Andrade 02/12/2019 18:27 - Atualizado em 10/12/2019 16:03
Divulgação
(Carcereiros — o filme) —
Pelos meios de comunicação, o Brasil e o mundo têm conhecimento da realidade prisional brasileira. Ela é das piores. A população carcerária é enorme. Os presídios estão repletos. O comando do crime está dentro das cadeias. A comunicação entre os presos e os soltos aumentou significativamente com o advento dos smartphones. Lá dentro, estão presos de facções diferentes e rivais, todas elas poderosas. Seus líderes presos ou libertos não são comuns, mas pessoas poderosas e ricas.
Mas há também os pobres, os negros, os injustiçados. Eles representam a maioria da população carcerária. Existem pessoas que preferem continuar presas a retornar à sociedade. Há pessoas que continuam presas depois de cumprirem a pena. Elas foram esquecidas pela justiça e pela sociedade. E há também o avanço das denominações evangélicas como forma de conforto aos presos mais desvalidos.
“Carcereiros”, filme baseado em livro de Drauzio Varella, segue os passos de “Estação Carandiru”, outro famoso livro do mesmo autor que foi levado às telas por Héctor Babenco. Nele, mostra-se outro drama da vida prisional: o confronto entre policiais e prisioneiros. “Carcereiros” é um seriado de televisão que pulou para o cinema, como acontece com as séries que se tornam promissoras. O roteiro do filme foi redigido por Marçal Aquino, Fernando Bonassi e Dennison Ramalho. A direção coube a José Eduardo Belmonte, já conhecido no comando de filmes sobre periferia e violência.
O que Drauzio Varella procura mostrar é a figura do carcereiro, profissional que está entre a sociedade e o presidiário, e que vive diariamente entre o mocinho e o bandido, sendo, muitas vezes, mais próximo do bandido ou do mocinho. O filme enfoca a pessoa de Adriano (Rodrigo Lombardi), já experiente com a série da televisão.
Rodar um filme apenas mostrando o cotidiano da vida carcerária seria monótono. É preciso um acontecimento para criar uma situação especial e dramatizá-la. Assim, a atualização do livro é feita com a introdução de um terrorista muçulmano preso no Brasil e que passa uma noite de terror no presídio em questão: a invasão da cadeia por um grupo fortemente armado e treinado. Resgatar o terrorista ou eliminá-lo? Essa dúvida alimenta o filme por algum tempo. Depois, verifica-se que o alvo é outro.
“Carcereiros” conta com boa fotografia, boa montagem, boa trilha sonora e direção correta. Mostra como é o cotidiano de um presídio. Mostra que existe uma ética entre criminosos, mesmo entre os mais cruéis. Mas apresenta um relacionamento respeitoso entre prisioneiros e o principal carcereiro, profissional correto que gosta da profissão, apesar de viver um drama familiar. Isso é algo que soa um pouco artificial. Outro ponto a ser observado é que o filme não traz aquelas intermináveis listas de patrocinadores no início ou no final. É algo de bom.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS