ou melhora ou resolvo do meu jeito
- Atualizado em 19/12/2019 23:43
Ou melhora, ou resolvo do meu jeito
Cândida Albernaz
- Dona Alzira, já decidiu o jantar?
- Estou almoçando, deixe pelo menos terminar para que possa pensar em comida de novo.
- É que vou precisar sair mais cedo. Aproveitar que o patrão não está aí hoje.
- De novo?
- Foi só ontem e antes de ontem.
- E hoje também...
- Pois é. Tenho que levar o Juninho ao médico. Está com febre outra vez.
- Você não levou ontem?
- Não deu. Saí daqui cedo, mas acabei batendo perna na rua. Só para distrair porque as coisas em casa não andam bem.
- Você devia ter levado seu filho ao médico ontem.
- Eu sei dona Alzira. Vou levar hoje.
- O que mais não anda bem na sua casa?
- Se é que pode chamar de casa aquele “muquifo” onde moro. É o Jurandir.
- O que tem Jurandir, mulher?
- Brochou de novo.
- Como? De novo quantas vezes?
- Já é a terceira. Falei com ele que se não der conta do recado vai se haver comigo.
- Melhor procurar um médico. Ele pode estar com algum...
- Está com nada não. O problema é que anda bebendo demais e se gastando na rua.
- Gastando?!
- É, com umas vadiazinhas que tem por aí. Não sou boba dona Alzira. Só me faço e às vezes.
- Talvez não seja isso. Ele pode estar com algum problema.
- O problema dele é esse que eu falei para a senhora. Estou cansada de saber que dá umas escapadas. Só que nunca negou serviço em casa.
- Então?
- Então nada. Ele que se cuide, que não estou aqui para trabalhar o dia inteiro e chegar a casa e encontrar o homem “na maior água” e cansado. Quero essa vida não.
- Conversa com ele.
- E o Jurandir quer saber de conversa? Se começo a falar, diz que o problema sou eu e me manda calar a boca. Mas isso não vai ficar assim não.
- O que você vai fazer?
- Seu Carlos, dono do açougue que tem aqui perto, vive atrás de mim. Dou corda para ele porque acho gostoso o jeito que fala, mas nunca fiz nada de errado.
- Sei. E agora quer fazer.
- Se Jurandir não melhorar, vai ser com seu Carlos mesmo, que não sou mulher para homem dizer que o problema sou eu.
- Pensa bem. Jurandir não me parece um homem calmo. Se ele pega você...
- Pega nada. Se ele está cansado, vou deixar descansar. E depois, sabe que seu Carlos vive oferecendo umas carnes para levar para casa? Ia ser até bom; comer carne todo dia. Os meninos iam ter mais saúde, ficar mais bem alimentados.
- Se precisa de mais alguma coisa, eu ajudo, não precisa pedir a seu Carlos.
- E ia ter graça, dona Alzira? Deixa comigo. Ou Jurandir melhora, ou resolvo meu problema de outro jeito.
E então? Pensou no que a senhora quer para o jantar?

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