Do extrativismo à preservação
16/11/2019 15:29 - Atualizado em 03/12/2019 13:27
“A terra me ensinou a trabalhar. Meu pai foi lavrador até o fim da vida e eu também segui este caminho, mas quando surgiu a oportunidade de atuar na Caruara, eu abracei. Reduzi o trabalho na lavoura e passei a me dedicar à parte ambiental, reflorestando e preservando o Meio Ambiente, na unidade de conservação”. Este é o depoimento orgulhoso de Valdeci Peixoto, de 72 anos, nascido e criado em Mato Escuro, no 5º Distrito de São João da Barra. Depois de apoiar o regador e tirar as luvas para um breve bate-papo, o viveirista – como faz questão de se apresentar – contou um pouco da experiência que tem com a terra, desde que vivia da supressão vegetal para a criação de lavouras e pastos até contribuir com a recomposição florestal da região – trabalho que desempenha desde que a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Caruara foi criada pelo Porto do Açu, em 2012.
Embora seja o colaborador mais antigo da RPPN e esteja no auge dos seus sete filhos, oito netos e duas bisnetas, Valdeci garante que a sua maior terapia de vida está na rotina junto às mudas de restinga: “Quando estava na minha antiga realidade, eu achava que era um profissional completo, mas eu estava enganado. Aprendi muito aqui na Caruara, ensinei a quem não sabia e sei que tenho muito a aprender ainda. Estou cheio de garra para trabalhar, graças a Deus e ao prazer que sinto ao botar a mão na massa, limpar uma semente, enxugar, semear, ver crescer e tomar uma grande área... Isso não tem preço!”.
A relação com a terra também se estende para casa, onde Valdeci vive com a companheira e um dos netos. Na pequena propriedade, ele mantém um viveiro próprio e uma horta para sustento da família. “Eu estou sempre mexendo com a terra. Em casa, vou trocando de plantio, entre coco, quiabo, maxixe, milho e outros produtos que satisfaçam o nosso gosto e vontade. Quem é da roça desde criança não consegue abrir mão de produzir, mesmo que em pequena quantidade”, comentou.
Colaborador mais antigo da RPPN Caruara contou trajetória de lavrador à viveirista
Colaborador mais antigo da RPPN Caruara contou trajetória de lavrador à viveirista / Divulgação
Produção em grande escala é o que o Valdeci deseja, agora, para o viveiro de mudas que cuida e que abastece a RPPN Caruara. Com quase 90 espécies distintas, ele já produziu mais de um milhão e meio de mudas, em 7 anos de existência, e, assim, recupera a unidade de conservação que é a menina dos olhos do Porto do Açu.
— Lembro do tempo em que só havia trilhas estreitas na Caruara, quando eu era garoto. De-pois foram surgindo as lavouras, os pastos e o homem foi tomando tudo, até porque quase não havia fiscalização. O verde foi sumindo e, agora, a gente está trazendo de volta. Eu tenho muito orgulho de fazer parte disso — finalizou. (A.N.)
Reserva tem quatro mil hectares
Criada e mantida pelo Porto do Açu, a Reserva Particular do Patrimônio Natural Caruara tem 4 mil hectares, o que corresponde a impressionantes 4 mil campos de futebol. Maior RPPN do estado e maior unidade privada de restinga do país, a Caruara conta com 245 espécies de flora e 573 de fauna, incluindo 21 ameaçadas de extinção e se transformou em importante objeto de estudo, com 24 pesquisas e mais de 47 produtos acadêmicos publicados, entre teses, artigos científicos e resumos em congressos. Utilizando 100% de mão de obra local, a criação da reserva também triplicou o repasse do ICMS Verde ao município de São João da Barra.
Na RPPN Caruara são desenvolvidos trabalhos de restauração vegetal e monitoramento de fauna e flora, com mão de obra local, que atualmente emprega cerca de 40 moradores da região. Todas as mudas plantadas na reserva são produzidas em um viveiro próprio, que é dedicado ao ecossistema de restinga e pode produzir até 500 mil mudas por ano.
As linhas de pesquisa encampadas na Caruara são sobre Padrões Funcionais e Plasticidade Fenotípica das Espécies de Restinga; Interação Inseto-Planta; Recomposição Florestal; Fauna – Populações; Diversidade Florística; Micologia e Anatomia Vegetal. Dentre alguns dos estudos já realizados estão: preservação da espécie do lagarto do rabo verde – típico de restinga; importância da polinização das abelhas para restauração de vegetação de restingas; insetos galhadores e sua importância na composição da restinga e diversidade da fauna; refloresta-mento e regeneração natural de restinga, dentre outros.

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