Assassinato de Cícero Guedes vai a júri popular
Daniela Abreu 06/11/2019 23:42 - Atualizado em 11/11/2019 15:46
O assassinato do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em Campos Cícero Guedes, no dia 25 de janeiro de 2013, nas proximidades do assentamento Luís Maranhão, na localidade de Cambaíba, será julgado amanhã, no Fórum Maria Tereza Gusmão, em Campos. O réu, José Renato Gomes de Abreu, apontado como mandante do crime será submetido ao Tribunal do Júri. Já os três apontados como executores, um deles já falecido, foram considerados impronunciados pelo Ministério Público, mas o caso ainda pode ser revisto.
Segundo a denúncia, Renato teria ordenado o crime. No dia, Cícero teria recebido uma ligação, convidando-o para uma reunião do acampamento e no caminho teria sido interceptado pelos três suspeitos, na Estrada da Flora. Após o crime, que segundo o MP tem motivação na liderança do acampamento, Renato e os executores teriam comemorado a morte do líder com um churrasco.
Para a advogada do MST, Fernanda Vieira, a figura de José Renato expressa as questões latifundiárias em todo o país.
— Quando se ocupa, o primeiro patamar é a organização dos trabalhadores e trabalhadoras, porque o exercício democrático é um aprendizado, precisa ser pedagogicamente convencido, porque a gente é convencido a não participar, discutir ou pensar a nossa cidadania intervindo no espaço social. O Renato é a expressão do latifúndio, uma figura autoritária que pressupunha que poderia dominar o círculo social com violência e intimidação e isso acaba criando um desafio para a metodologia de organização do MST — pontuou.
A advogada explicou que o Ministério Público entendeu que não havia elementos concretos para a pronúncia dos executores, pedindo somente o pronunciamento do Renato. Ela criticou o processo de investigação do caso. “Nós temos uma leitura muito crítica de como se deu esse processo de investigação, entendendo inclusive, que foi um trabalho muito fragilizado, muito displicente, para usar um termo bem suave com os poderes públicos. É muito mais difícil eu provar quem é o mandante, em especial quando não tem executor. Em grande medida, esse desleixo é reflexo da forma como as instituições, sistema de justiça, poder executivo, permanecem olhando um trabalhador” disse ela que acrescentou: “Cícero tinha filhos pequenos que agora são jovens. Então vamos passar essa história a limpo para chegar ao final e, de repente, negar essa história”.
Integrantes do MST farão uma vigília, que se iniciará às 06h, na Praça do Santíssimo Salvador.

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