Campista Vilma Arêas leva o Prêmio Jabuti de contos com 'Um beijo por mês'
Matheus Berriel 29/11/2019 16:13 - Atualizado em 10/12/2019 16:02
Prêmio Jabuti de contos
Prêmio Jabuti de contos / Divulgação/Luna Parque Edições
Enquanto se aproxima do fim a programação do terceiro Festival Doces Palavras (FDP!), realizado nesta edição por produtores culturais independentes, a classe artística de Campos ganhou mais um motivo para se orgulhar. Na noite de quinta-feira (28), a escritora Vilma Arêas, 83 anos, residente em São Paulo, conquistou pela terceira vez o Jabuti, o mais tradicional prêmio do Brasil na literatura, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Seu livro “Um beijo por mês” (Luna Parque Edições, 2018) foi o vencedor na categoria de contos, a mesma em que Vilma já havia sido premiada com “A terceira perna” (Brasiliense, 1992). A campista também tem no currículo um Jabuti na literatura infantil, com “Aos trancos e relâmpagos” (Scipione, 1988).
— Eu gosto do livro. Acho que é um livro muito pequeno, mas muito ordenado segundo os assuntos. E a minha editora, a Marília Garcia, da Luna Parque, também gostava do livro. Mas, eu não acreditava muito, porque é uma editora pequena, o livro é pequeno... — disse a autora. — Mas, fiquei muito contente, claro — pontuou.
Além de “Um beijo por mês”, o Jabuti de contos também teve como finalistas os títulos “Alguns humanos” (Tinta da China), de Gustavo Pacheco; “O sol na cabeça” (Companhia das Letras), de Geovani Martins; “Reserva natural” (Companhia das Letras), de Rodrigo Lacerda; e “Sebastopol” (Alfaguara / Companhia das Letras), de Emilio Fraia.
De modo ágil, os textos de Vilma Arêas em “Um beijo por mês” abordam a violência social dos dias atuais em diálogo com a memória política do Brasil e do exterior. “Ninguém pode escrever, eu acho, sem estar mergulhado no seu tempo presente. Tem muitas coisas em relação ao Brasil de hoje. Isso é importante. E faz uma relação também com tempos passados. Tem um conto sobre a ditadura em Portugal, eu estava lá naquela época. E ao mesmo tempo tem um espaço mais lírico também”, explicou a campista.
Vilma Arêas
Vilma Arêas / Divulgação/Luna Parque
Mesmo longe de Campos, ao tomar conhecimento da realização do FDP! durante todo o mês de novembro após a desistência da Prefeitura em fazê-lo, Vilma parabenizou a classe artístico-cultural da cidade. E traçou um paralelo entre a resistência desta com outras formas de luta por conhecimento no país.
— Eu aplaudo. É preciso que as pessoas resistam, porque isso é a alma do país. Quando fizeram aquela coisa das cotas... A classe que pode pagar um curso médio de curso de qualidade, depois entra na faculdade de graça. Os pobres não podem pagar um curso médio bom, fazem o pior, e depois têm que pagar a universidade. São castigados duas vezes. É impressionante isso. E Campos tem muito, porque foi terra de escravidão, da cana-de-açúcar. Isso cria um racismo, uma diferença de classes... É uma coisa impressionante — lamentou.
No dia 27 de maio, Vilma Areâs lançou “Um beijo por mês” na Academia Campista de Letras, onde fez uma palestra sobre o processo de criação. “Gosto muito de voltar a Campos, mas é sempre dolorido. Éramos cinco irmãos e hoje sou só eu. Mas vida que segue, aproveito para rever os amigos e contemplar a cidade”, disse na ocasião.
Vilma estreou na ficção com o livro de contos “Partidas”, pela Livraria Francisco Alves, em 1976. Além de “Aos trancos e relâmpagos”, “A terceira perna” e “Um beijo por mês”, que valeram-lhe o Jabuti, já conquistou também um prêmio Alejandro José Cabassa, da União Brasileira de Escritores, com o livro de contos “Trouxa frouxa” (Companhia das Letras), em 2002, e o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) na categoria literatura, com o ensaio ““Clarice Lispector com a ponta dos dedos ” (Companhia das Letras), em 2005. Há três anos, foi homenageada pela Folha da Manhã com o Troféu Folha Seca, destinado a campistas de destaque nacional e/ou internacional em suas áreas. Além de escritora, é também professora aposentada de literatura brasileira pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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