MP vai ouvir padre suspeito de desviar dinheiro doado para obra de igreja em SJB
- Atualizado em 07/11/2019 17:50
Divulgação/Secom
“Valei-me, São José”. A invocação a um dos santos mais importantes da igreja católica deu nome a uma campanha para compra de um terreno e a posterior construção do templo do patrono do bairro Água Santa, em São João da Barra. Tudo parecia muito tranquilo, desde 2015, embora o dinheiro arrecadado jamais tenha se convertido em um palmo de terra para o livro de bens da paróquia São João Batista, responsável pela área. O pároco nessa época era Marcos Paulo Pinalli da Costa. E algumas polêmicas, na verdade, marcaram sua passagem por SJB. Mas nada que chegasse perto da acusação que vem de pessoas já que foram de sua confiança no rebanho: o dinheiro que fiéis doaram para o futuro templo de São José foi desviado para outras finalidades.
A revelação foi feita na igreja matriz de São João Batista, após a missa do último domingo (3), por uma comissão que o próprio Pinalli havia nomeado no passado. O padre relata que teve autorização do bispo para tirar o dinheiro doado para obra da igreja de São José e usar para outros custeios da paróquia. A denúncia chegou ao Ministério Público de SJB e já foi enviado para Promotoria de Tutela Coletiva em Campos. Até esta quinta-feira (7) ainda não havia sido distribuído. Mas o MP vai ouvir o padre e o bispo diocesano, Roberto Francisco Ferrería Paz, além de analisar o Código de Direito Canônico.
Segundo a comissão, durante muito tempo não foi possível saber o valor arrecadado na campanha. Pinalli não é mais pároco da sede do município, está à frente da quase-paróquia Santo Amaro, em Grussaí. Ainda de acordo com a comissão, somente este ano o antigo pároco revelou que a campanha arrecadou R$ 45.830,00: “Depois de diversos contatos e buscas, a Comissão descobriu que, do valor arrecadado, Pinalli utilizou indevidamente R$ 34.584,56, importâncias essas que o próprio padre justificou como gastas em manutenção de carro, seguros, viagens, impostos, telefone, doação à Mitra, etc, segundo documento assinado pelo próprio padre e uma outra suposta equipe que ele nomeou em Grussaí”, informou a comissão.
O objetivo da comissão, que já teria conversado com o bispo e o padre, seria ter de volta todo dinheiro arrecadado para uso na finalidade inicial da campanha, que é a aquisição do terreno, orçado em cerca de R$ 80 mil, para construção da capela de São José. “Depois do novo acordo para a devolução do dinheiro, o padre foi pra rua contactar diversos católicos e contribuintes para a sua confissão de dívidas e pedir o perdão da sua proposital irresponsabilidade”, diz a carta da comissão, que na última semana levou a denúncia ao Ministério Público.

MP vai ouvir padre e bispo

Marcelo Lessa
Marcelo Lessa
O promotor estadual Marcelo Lessa recebeu a denúncia da comissão. Em SJB, não há promotoria de Tutela Coletiva e o caso foi encaminhada para Campos. Ainda não houve distribuição, mas o caso pode cair até mesmo com Marcelo, que atua nessa área. O promotor explica qual seriam os próximos passos:
—Provavelmente será instaurado inquérito e apurado o fato. Pelo que li, o padre foi autorizado a fazer o que fez e não houve qualquer desvio em proveito próprio, mas da paróquia, inclusive com previsão no Código de Direito Canônico. Chegando na Tutela será distribuído, podendo cair para mim mesmo. Ouvirei o padre e o bispo, bem como analisarei o Código Canônico, para ver se agiram dentro do que previa suas regras como gestores. Muito precoce para emitir qualquer juízo de valor.

Padre diz que houve autorização para gastos

O blog tentou contato por telefone com o padre Pinalli, mas não conseguiu. Em entrevista recente, ao canal no YouTube TVB (aqui), ele disse que o projeto de construção da igreja ficou inviável devido ao período de crise nacional, que também afetou a arrecadação de dízimo. Foi nesse momento, segundo o padre, que houve necessidade de utilizar o recurso da campanha para manter em dia os gastos da paróquia. Ainda de acordo com o padre, o bispo deu autorização para as medidas. Ele ainda fez questão de enfatizar que a antiga comissão recebeu a prestação de contas e que no documento consta como os recursos foram utilizados. “Foi feita prestação de contas com essa ex-comissão. Mas que deixe bem claro, a gente leva fama que roubou. Não, eu sou administrador, não roubei. Não foi para mim, foi para manter a própria paróquia”.

Diocese informa que fato foi esclarecido em reuniões

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O bispo da Diocese de Campos, dom Roberto Francisco Ferrería Paz, informou, em nota, “que uma comissão paroquial foi formada pelo Pe. Marcos Paulo Pinalli, com a missão de comprar um terreno para a construção de uma capela, na cidade de São João da Barra, mas diante da crise financeira a meta não foi alcançada. O dinheiro foi colocado em uma conta da paróquia. Quando findou o propósito da comissão, o Pe. Marcos Pinalli, consultou o Conselho de Assuntos Econômicos da Paróquia, como prevê o Código de Direito Canônico, o documento diz que: ‘Em cada paróquia, haja o conselho econômico, que se rege pelo direito universal e pelas normas dadas pelo Bispo diocesano; nele os fiéis, escolhidos de Gestão eclesial — tarefas, responsabilidades e práticas de acordo com essas normas, ajudam o pároco na administração dos bens da paróquia, salvo a prescrição do cân. 532’. O padre investiu o recurso para acertar corresponsabilidades financeiras com a Mitra Diocesana, além de pagamentos de impostos (sociais e funcionários) e outras necessidades pastorais, como manutenção do carro da paróquia. No decorrer deste ano, foram realizadas duas reuniões com a comissão, sendo a primeira com o bispo diocesano na residência episcopal. A segunda foi na sede da Mitra Diocesana, quando o economato diocesano ofereceu esclarecimentos sobre o recurso, junto com o bispo e o sacerdote e novamente os membros da comissão”.

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    Arnaldo Neto

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