Especialistas debatem causas e consequências do fechamento da foz do Paraíba
06/11/2019 13:43 - Atualizado em 06/11/2019 15:05
Isaías Fernandes
A perspectiva de que Atafona, em São João da Barra, deixaria de ser a foz do Paraíba do Sul era comum entre pescadores há anos. Dia após dia eles percebiam que o rio perdia força e bancos de areia se formavam no leito, dificultando a navegabilidade. No mês passado, isso se tornou realidade: a areia do Pontal se juntou com a até então Ilha da Convivência, em São Francisco de Itabapoana, fechando pela primeira vez a principal foz do Paraíba. Nesta quarta-feira (6), o Folha no Ar, da Folha FM 98,3, recebeu o presidente do Comitê do Baixo Paraíba, João Siqueira, e o doutor em Geologia e Geofísica Marinha Eduardo Bulhões, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), para um debate sobre causas e consequências da barra fechada. Entre muitas questões, a ação humana ao longo dos anos teve destaque.
De acordo com Siqueira, nos registros históricos de 85 anos, essa é a pior crise hídrica enfrentada. “A Agência Nacional de Águas (ANA) teve que intervir e mandar as vazões dos reservatórios que regulam a vazão do Paraíba, diminuindo essa vazão. E a gente sabia que isso traria consequências. Essas consequências estão sendo potencializadas pela ação do homem”, afirmou João. Ele também lembrou das intervenções no Paraíba no século passado, com o desvio para o sistema Guandu, que abastece a capital fluminense e diminui o fluxo d’água para a foz como um fator que prejudicou a situação de Atafona, ao longo dos anos, até a atual situação.
Bulhões lembrou que a bacia do Paraíba é responsável por abastecer os estados mais populosos do país, tanto para uso doméstico, como para industrial e propriedades rurais. “Não há evidências de que as chuvas estejam diminuindo. Existe variação entre um ano e outro, mas nada diferente de um padrão previsível. O que nos leva a crer que a principal causa dessa crise não é natural e sim antrópico, causado pelo homem e o uso dessa água”, salientou.
Segundo o professor da UFF, as areias que compõem o litoral da região vêm do rio. Só que o fluxo do Paraíba mais fraco facilita a movimentação de areias por parte do mar:
— Quando a energia do rio está muito baixa faz com que a ação do mar seja preponderante. Isso faz com que as areias se movimentem, entupam, digamos, a foz do rio e feche o canal.
João Siqueira salientou que, sem chegar até a foz, a areia fica pelo leito do rio e isso pode causar enchentes no retorno do período de chuva. Ele também comentou sobre o assoreamento em ilhas no curso do rio, em SJB, e destacou que se intervenções — como algumas de desassoreamento já anunciadas, mas que nunca saíram do papel — tivessem sido adotadas, a situação poderia não ser a atual.
Bulhões disse acreditar que a própria força da natureza possa reabrir a barra em Atafona e que esse processo é dinâmico em várias partes do mundo. Questionado, ele falou que o acumulo de areia com o fechamento da foz pode ser uma forma de proteção contra o avanço do mar para os moradores das proximidades do Pontal, mas ressaltou que são fenômenos diferentes. Especialista na área, ele afirmou que Atafona está entre os 4% da costa marinha em todo mundo que mais sofrem com processo de erosão.
A recuperação do Paraíba, na visão dos pesquisadores, é um processo longo. Só que precisa ser iniciado. A recuperação da mata ciliar e proteção de nascentes foram exemplos citados por eles, entre tantas outras medidas que precisam, também, de políticas públicas específicas.
Confira a entrevista: 

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    Arnaldo Neto

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