ISP divulga quarta edição do Dossiê Pessoa Idosa
Virna Alencar 09/10/2019 16:00 - Atualizado em 14/10/2019 14:00
O Instituto de Segurança Pública (ISP) divulgou, neste mês de outubro, a quarta edição do Dossiê Pessoa Idosa. O trabalho apresenta informações sobre os crimes mais comuns ou de maior repercussão praticados contra os idosos: lesão corporal dolosa, ameaça, maus tratos, estelionato, extorsão e homicídio doloso, além de crimes tipificados no Estatuto do Idoso e as mortes sem assistência médica. O estudo também mostra que 61% das agressões acontecem dentro de casa. Em Campos, de acordo com dados da Promotoria de Justiça de Proteção ao Idoso e à Pessoa com Deficiência do Ministério Público, o número de denúncias relacionadas à violência contra o idoso que chega ao órgão tem sido ascendente nos últimos dois anos. Em 2018, foram registradas 248 investigações e, em 2019, o número de casos já chega a 285.
O Dossiê Pessoa Idosa mostrou que, em 2018, foram registradas 4.508 vítimas idosas de ameaça – uma a cada duas horas. 65,9% das ameaças contra vítimas idosas ocorreram dentro de uma residência e 52,8% dos autores eram do convívio das vítimas (filhos, parentes, amigos, vizinhos, companheiros, ex-companheiros, etc). Quanto ao perfil das vítimas, mais da metade era do sexo feminino (55,4%), tinha entre 60 e 69 anos (72,2%) e era da cor branca (59,2%). É possível verificar também que 29,8% das vítimas possuíam baixo nível de escolaridade (não concluíram o ensino fundamental).
Ao analisar as lesões corporais dolosas, o Dossiê mostra que no estado do Rio de Janeiro 3.472 idosos foram agredidos em 2018 (cerca de dez por dia). 61,3% das agressões ocorreram dentro de uma residência e 54,4% dos autores eram do convívio das vítimas. A maioria das vítimas (72,0%) tinha entre 60 e 69 anos, 51,2% eram mulheres e 58,6% da cor branca. 58,6% das vítimas de lesão corporal dolosa não concluíram o ensino fundamental.
De acordo com o estudo, os idosos representam 28,3% das vítimas de extorsão e 28,4% de estelionato. Em 2018, 9.881 idosos foram vítimas de estelionato no estado, cerca 27 por dia. Das vítimas idosas de estelionato, 53,7% possuíam entre 60 e 69 anos, 57,3% eram mulheres e 66,8% da cor branca. Quando é analisado o local da ocorrência dos estelionatos, é possível observar que mais de 1/3 das ocorrências (34,2%) tiveram os estabelecimentos financeiros como local do fato.
Quanto às extorsões, foram 452 vítimas idosas desses crime: 64,8% eram mulheres, 68,0% da cor branca e 51,5% tinham entre 60 e 69 anos. Porém, é importante ressaltar que 12,4% das vítimas idosas de extorsão possuíam mais de 80 anos.
Realidade em Campos – De acordo com o promotor, Luiz Cláudio Carvalho de Almeida, a maioria dos casos de violência contra o idoso relatada por meio de denúncias que chegam ao órgão decorre da falta de estrutura de apoio familiar, mas não estão relacionados à violência física.
“O que lidera o ranking de denúncias recebidas pela Promotoria é o abandono e negligência; em segundo lugar está a violência financeira, quando familiares se aproveitam da situação de vulnerabilidade do idoso e, em terceiro, a violência psicológica a partir de ofensas constantes. Observa-se que essa estrutura de apoio muitas vezes é perdida porque o idoso sofreu uma queda, por exemplo, e não se há condições ou paciência para cuidar desse ente, ou a família é oportunista, ou mediante a um histórico de vingança na família responde ao idoso com ofensas”, disse destacando que denúncias são recebidas através do disque-denúncia 127, sendo o sigilo garantido.
Mas, para delegado titular da134ª Delegacia de Polícia (DP/Centro), Bruno Cleuder, o número de casos não são expressivos na cidade, do ponto de vista do atendimento ao público feito na unidade.
“Despacho quase todos os registros de ocorrência na delegacia, 70% deles, e dificilmente me deparo com casos de agressão ao idoso, no dia-a-dia. Quando pego ocorrência dessa natureza, vêm de requisição do Ministério Público, denúncias feitas no âmbito do órgão que são encaminhadas à delegacia”, disse.
A Folha da Manhã tentou contato com o delegado titular da 146ª DP/Guarus, e aguarda respostas.
Na manhã de quarta-feira (2), na rua principal da localidade de Campelo, em Campos, um idoso, de 64 anos, foi assassinado com cinco tiros na cabeça. O suspeito do crime é casado com a enteada da vítima e o motivo seria um desentendimento entre os dois por causa de dívidas e problemas familiares. Roberto Alves Viera transitava em sua bicicleta quando um homem se aproximou em uma moto de trilha preta e efetuou vários disparos com um revólver calibre 38. O idoso morreu na hora. Após os disparos, o suspeito fugiu do local. A Polícia Militar foi acionada e fez buscas na região, mas ninguém foi preso.
Assistência – De acordo com a Prefeitura de Campos, o município proporciona qualidade de vida e bem-estar a aproximadamente 35 mil pessoas com mais de 60 anos, sendo a assistência distribuída entre quatro Casas de Convivência (Conselho Josino, Dores de Macabu, Tamandaré e Travessão) Centro Dia do Idoso e Colônia de Férias da Terceira Idade de Farol de São Thomé. Através do programa “Rede de Proteção Social”, a Superintendência de Envelhecimento Saudável e Ativo promove aos idosos assistidos, diversas ações de educação continuada que envolve os familiares, por meio do trabalho de fortalecimento de vínculos.
São oferecidas aulas de teatro, coral, canto, dança, música, violão, artesanato, bailes, aulas de ginástica, zumba, alongamento, hidroginástica, oficina da memória, Escola dos Saberes, Caminhada da Maturidade, Virada Cultural, campanhas temáticas, dentre outras atividades.
Além disso, também há um trabalho de assistência social permanente em todas as Casas de Convivência, pois quando o idoso chega nessas unidades, passa pela triagem social. O objetivo é a integração das diversas áreas do desenvolvimento humano com os familiares, principalmente, para alertá-los da violação de seus direitos e de maus-tratos, além de orientá-los de qual forma podem se proteger, através dos serviços oferecidos pelo órgão e anonimamente.
A Folha também entrou em contato com o presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa, Amaro dos Santos, mas até o momento não obteve respostas.

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