Só mais uma
27/10/2019 12:01 - Atualizado em 27/10/2019 13:28
Mais do Mesmo
Mais do Mesmo
—Essa é a última, amanhã tenho que acordar cedo.
É a última cerveja que tomou em um bar da Pelinca. O bar é daqueles com mesas na calçada. Achou o atendimento cair muitos nesses últimos tempos. E como é caro! Não que tenha um preço alto, é caro mesmo. A única vista que oferece é dos carros passando, não é climatizado e não tem diferencial nos produtos. É mais do mesmo, com preço de bistrô em Búzios.
— Aliás, em Campos costuma ser assim. As coisas começam até bem, mas vão se transformando em algo pior, uma versão piorada do que já foi um dia. Campos é a cidade do “já foi”.
É possível que ele esteja mais impaciente mesmo. A empresa dele caiu de rendimento consideravelmente nesses últimos meses. Aonde ia aos finais de semana, para fugir do mau atendimento e do “mais do mesmo” já não vai com a mesma frequência. Apesar de a estrada ter melhorado, o Rio está cada vez mais violento.
—Campista tem mania de Rio e Búzios. Acha chique ir nesses lugares. Já vi uma centena de fotos no Parque Lage, sempre a mesma, em mesma posição, no jardim de 1840 do John Tyndale, aquele paisagista inglês.
Ouviu sem retrucar a observação. Achou pedante citar o paisagista, possivelmente tenha lido no Google recententemente. Fez uma autocrítica, mas não alterou muito seu modo de pensar. Sim, já fez a esposa posar para essa foto no Parque Lage, aos pés do Morro do Corcovado. Mas não levou em consideração a mesmice. Achara bonita aquela construção, queria aquele registro.
—Shopping de novo? Não se faz outra coisa nessa cidade?
Dessa vez ele mesmo sabia que estava exagerando na crítica. Sente falta daqueles shows que aconteciam no Jardim São Benedito e no Liceu, música de alta qualidade aos fins de semana; encontrava velhos e bons amigos por lá. Mas embora ainda haja poucas opções de lazer de qualidade na cidade, tem bons cinemas, tem tido boas peças de teatro e no próprio Liceu eventos com cervejas artesanais e tendas dos bons restaurantes da cidade. Estão ficando repetitivos, mas tem tido. Não pôde ir na “Diadorim” de Arlete Sendra, mas soube que foi ótima a peça.
—Também tenho que trabalhar amanhã, mas vamos lá conhecer um bar novo que abriu lá no final da Pelinca. Quer ir?
—Tá, só mais uma então.
 
 
 
 
 
 
 
 

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    Edmundo Siqueira

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