Numa cidade do interior existiam muitos candidatos a prefeito. Corria a boca pequena que nove homens queriam a prefeitura. Dois desses candidatos chamavam atenção. Os dois se chamavam Júnior.
Nessa cidade, onde os ipês coloriam suas ruas planas de amarelo, nessa época do ano, já se teve muito dinheiro. Perecia que jorrava do chão, igual poço de petróleo. Mas a cidade ficara pobre nesses últimos anos.
Mesmo perdendo quase dois terços de sua fortuna, os nove intrépidos homens desejavam a chave da cidade. Dizia-se que o prefeito que estava na cadeira, demorava a virar essa chave para o lado certo. Mas ele se negava.
—Não tenho dinheiro! Deixaram-me com uma dívida e eu tenho que pagar. Não conseguem ver?
Diante da verdade inquestionável, as pessoas da prefeitura calavam-se. Mas estavam preocupadas com o chefe.
Os dois candidatos chamados de Júnior estavam animados. Juravam que estariam só eles disputando, ao final. Um deles, mais caladão, recusava-se a dar entrevistas. Mas todos na cidade sabiam que ele não era calado à toa. Outros falavam por ele. Alguns até de forma vil. A recusa às vezes diz mais que o pronunciamento.
O outro Júnior era mais trabalhador. Era bom de bastidor. Mas tinha muito em jogo. Titubeava em se dizer candidato porque sabia que ia ter que explicar muita coisa no palanque. Até as dívidas da prefeitura era capaz de cobrarem dele. E ele sabia que não poderia negar.
Certa vez, os pais dos dois conversaram. Pela obviedade de seus nomes políticos, eles eram importantes na campanha. Nessa conversa, os filhos que estavam presentes. Ficaram no canto da sala, cada um com seu celular, alimentando suas redes sociais. Os pais estavam trocando farpas:
—Seu Júnior está se escondendo. Não quer falar. Tem que aprender comigo, ser corajoso!
—Pior é o seu. Se falar sobre o que precisa ser dito, perde a eleição.
Logo após, dedo em riste, os dois gritaram juntos:
