Esquecidas por todos
- Atualizado em 19/10/2019 02:21
Essa semana novamente foi notícia em toda a cidade um caso de agressão a mulher. Diferente da última, onde tivemos um lutador agredindo sua namorada, dessa vez o caso envolveu um policial militar e sua companheira. Em comum, além da agressão, o fato de terem ocorrido com pessoas que residem em áreas mais valorizadas da cidade. Mas, se esses crimes tiveram grande cobertura da imprensa, o mesmo não pode ser dito das milhares de ocorrências similares que são notificadas anualmente por toda a região. Essas mulheres ficam no esquecimento por não terem o mesmo “status” de outras ou residirem em regiões de maior apelo comercial.
No ano de 2018 segundo dados obtidos junto ao ISP – Instituto de Segurança Pública, foram registrados 1552 casos de violência contra mulheres na região coberta pelo 8 batalhão da Polícia Militar, sendo que 550 foram casos de lesão corporal dolosa, onde há intenção de agredir, como os noticiados. Números muito próximos aos de 2017, quando 557 foram agredidas em um total de 1490 crimes contra mulheres. E esses são os casos que chegam ao conhecimento das autoridades, pois há estimativas de que cerca de 65,3% das ocorrências sequer são comunicadas segundo pesquisa realizada pelo coletivo “Nós por Nós”.
Ao analisar o perfil das ocorrências no ano de 2018 chama atenção o fato de que 45% ocorreram no período de sexta a domingo e 46% à noite e de madrugada. Também fica claro que não há lugar onde as mulheres estejam seguras, pois 57% das agressões ocorreram em suas residências e 35% delas eram casadas ou viviam com o agressor.
Portanto o problema não se limita à segurança pública. Entender o ambiente em que a vítima vive e oferecer mecanismos de proteção é essencial. Há uma enorme quantidade de vítimas que ficam esquecidas, que não recebem a atenção devida e, muitas vezes, sequer o apoio necessário das instituições dos governos. Abandonadas à própria sorte, lhes resta muitas vezes conviver e suportar suas tragédias pessoais. Não é uma situação que irá melhorar apenas com mais visibilidade, mas, chamar a atenção para o problema e para a sua dimensão é importante para que a sociedade possa cobrar das autoridades medidas concretas para proteger as mulheres. O que não podem é ser esquecidas por todos.

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    Sobre o autor

    Roberto Uchôa

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    Especialista em Segurança Pública, mestrando em Sociologia Política e policial federal